Não é de hoje que diversas ocorrências, como ameaça, assédio e até estupro são registradas no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que, segundo os alunos, contorna os casos ao invés de resolvê-los. Desta forma, o que era para ser um local de ensino se tornou uma ameaça para quem lá estuda e frequenta.
Há um clima tenso na UFMT, que chegou a ponto de nenhum dos entrevistados querer se identificar, por medo dos agressores, da exposição da imagem e até de retaliação por parte de representantes da universidade. Para boa parte deles, o convívio com o problema está insuportável, resultando na desistência de alguns acadêmicos. Ato que alimenta a impunidade e dá espaço para que este tipo de crime se propague, além da permanência destes criminosos na instituição. O maior problema é a impunidade.
Entre as ocorrências uma que ganhou repercussão recentemente na mídia local foi o caso do acadêmico de filosofia acusado de aterrorizar alunas do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS). Uma das vítimas, identificada apenas como D., disse que já presenciou cenas constrangedoras que envolvem o agressor. “Eu sinto muito medo dele. Ele já chegou a me perseguir nas redondezas do [bairro] Boa Esperança e fui alertada por diversas vezes sobre a fama dele. Mas uma vez entrei na sala de computação do bloco e encontrei ele no canto, em meio aos computadores, se masturbando. Saí correndo na hora morrendo de medo”.
D. não foi a única vítima da situação. A aluna de Serviço Social identificada como W. (20) disse que também já presenciou cenas semelhantes. “Eu estava sentada no saguão do ICHS e vi ele se masturbando, com a mão dentro da calça, olhando pra mim. Na hora fingi que não vi, mas depois corri para um lugar com mais pessoas. Depois disso eu fiquei muito amedrontada, com medo até de ir estudar”.
A aluna R., de 22 anos, também revelou situações constrangedoras que envolvem o rapaz. Embora tenha ouvido falar e presenciado muitos destes casos, ela revelou que este fato não é isolado. Depois de se manifestar expressivamente, através de ameaças, em páginas em redes sociais e até com frases agressivas, expostas nos corredores do bloco, muitos outros alunos decidiram compartilhar da mesma ideia, expondo um posicionamento machista e repressor diante das ocorrências registradas.
“Não é só este caso em específico, a gente sabe que existem outros casos de assédio na UFMT. E depois que decidimos nos manifestar mais amplamente, com cartazes, boletins de ocorrência, entre outros, muitos alunos se revelaram e apoiaram as atitudes deste aluno, passando a nos perseguir de certa forma”.
R. revela que cinco boletins de ocorrência foram registradas na delegacia de Cuiabá, no entanto, não houve êxito. O ato não é configurado com algo grave, pois se trata de assédio ou difamação, de acordo com o Código Penal. Desse modo, o aluno não é reprimido à altura, segundo as alunas. O mesmo se dá aos representantes da UFMT, que deram um mês de suspensão ao agressor, no entanto, ele ainda permanece e convive com as vítimas, normalmente.
“A gente não sabe qual foi o procedimento desta comissão. Eles criaram a comissão do nada e não tem nada que regulamente isso. [A instituição] deu esse parecer de suspensão, mas que até então não trouxe nenhuma segurança pra gente. Porque ele continua pelos corredores”.