Aguardando a liberação do valor da indenização de suas casas, quatro famílias continuam morando na Rua Xavantes, bairro Santo Helena, no alto do Morro do Despraiado, em Cuiabá. Com a ordem de despejo iminente, os moradores sem veem sem saída. Para a desapropriação rápida do local, o secretário da Secopa, Maurício Guimarães, solicitou que a justiça convocasse a força policial para retirar os cidadãos “à força”.
Acontece que a permanência das quatro residências está causando atraso nas obras de reconformação da encosta do viaduto, que tiveram início em outubro. Por sua vez, os moradores pedem um maior prazo, já que o valor de suas indenizações ainda não foi liberado pela justiça. A ação está na 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual, sob responsabilidade do juiz Roberto Teixeira Seror.
A senhora Evani Zanetti, de 73 anos, mora na mesma casa há mais três décadas e se sente desrespeitada pelo governo do Estado, assim como pela justiça. Sem condições financeiras para buscar outra moradia, a aposentada busca alternativas caso seja despejada.
“Todos os moradores concordaram com o valor da indenização paga pela Secopa, eles depositaram em juízo, mas estamos aguardando o dinheiro na nossa conta. Realmente eu não tenho condições de sair assim, às pressas”, desabafa Evani.
A expectativa da senhora Evani é que a desapropriação, prometida para ocorrer na sexta-feira, 5, não ocorra e que a justiça libere, finalmente, o valor de sua indenização.
“Não nos negamos a sair daqui, queremos apenas um tempo para, após a desapropriação, nos abrigar”, completou a moradora.
Ao todo, nove imóveis precisaram ser desapropriados. As indenizações somaram R$ 2,8 milhões.
Problema anunciado
O erro no corte do morro foi denunciado com exclusividade pelo Circuito Mato Grosso em setembro do ano passado. Durante a edificação do viaduto, cujo custo foi de R$ 18,9 milhões, as empreiteiras responsáveis pela obra fizeram um corte no barranco sem que se houvesse planejado a construção de um muro de arrimo no local para evitar deslizamentos.
À época, o geólogo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MT) Mário Cavalcanti de Albuquerque disse ao Circuito que o corte praticado colocou a rocha em exposição, abrindo a possibilidade de deslizamentos em época de chuva, o que veio a se concretizar meses depois.
Caso a contenção tivesse sido feita previamente, com a correção da instabilidade do talude, não haveria riscos de erosão, tampouco os deslizamentos teriam ocorrido, colocando em risco a segurança da população local.