Opinião

Falta de investimentos impacta mercado de gás de cozinha

O botijão de gás está presente em 95% dos lares em todo o País. É um produto de primeira necessidade para o consumidor e que integra uma grande cadeia produtiva em seu entorno. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás, o engarrafamento e a distribuição do produto empregam em torno de 350 mil pessoas, de forma direta e indireta.

A distribuição de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) se caracteriza como o maior e mais barato serviço público prestado pela iniciativa privada à população. Alcança locais onde nem a energia elétrica, a água ou a rede de esgoto chegaram ainda. Apesar disso, o GLP tem enfrentado uma série de percalços motivados pela carência de recursos na sua cadeia de produção e, principalmente, segurança. Mas os problemas do setor não são novos. Vale lembrar que, em poucos anos, 16 das 21 companhias que operavam no Brasil faliram. 

Para garantir o progresso desse setor torna-se necessário provê-lo de recursos para investir em tancagem, segurança e automação. No caso do primeiro, as distribuidoras brasileiras têm estoque para o armazenamento de apenas dois dias de consumo, enquanto no México é de 45 a 75 dias e no Japão, 120 dias. Por pouca tancagem, os caminhões-tanque com 25 mil quilos de gás rodam excessivamente para transferir das refinarias para os tanques das distribuidoras hoje o gás que será consumido amanhã.

Sobre a segurança, os botijões precisam ser testados a cada dez anos de uso. Testes em botijões de gás nunca tinham sido feitos no Brasil e acidentes aconteciam a cada três ou quatro dias, 40% com vítimas. Desde que foram implantados no Brasil, em 1997, os testes fizeram com que o número de acidentes com botijões diminuísse drasticamente nos últimos anos. Segundo a ANP, até hoje, foram testados cerca de 150 milhões de vasilhames, dos quais mais de 25 milhões foram destruídos por não passarem nos testes. A operação, segundo o órgão, consumiu um investimento de mais de R$ 8 bilhões das distribuidoras. Nos países onde leis sempre existiram, o sucateamento é de 3%. Hoje, decorridos 18 anos, na segunda etapa dos testes temos, ainda, 8%, de índice de destruição.

Distribuidoras precisam obter recursos para dar continuidade à requalificação de 36 mil botijões diariamente. Os testes não param, botijões testados em 2014 devem ser testados novamente, em 2024, e assim por diante.

Existe ainda a necessidade de recursos para investimento em automação de processos produtivos, o que já acontece em várias partes do mundo. Neste caso, mais importante que a otimização do sistema é a saúde dos trabalhadores.

O setor precisa ter suas práticas revistas e repensadas para que o sangramento das empresas distribuidoras, que perpassa toda a cadeia produtiva, possa ter seu fim decretado por novas medidas, inteligentes, atuais e pertinentes. Sem sombra de dúvidas, o maior beneficiado com isso será o consumidor, que terá diante de si um mercado mais justo e competitivo.  

Ueze Zahran

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Ueze Zahran é presidente do Grupo Zahran, que tem como uma de suas empresas a Copagaz, quinta maior distribuidora de GLP do Brasil

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