Cidades

Esgoto corre a céu aberto na Capital

Um dos projetos de revitalização para a Copa, além de ser uma das promessas de melhoramento durante a campanha do prefeito Mauro Mendes (PSB), o córrego Mané Pinto continua causando desconforto a moradores da cidade por conta do mau cheiro, da falta de acesso às calçadas e da poluição visual.

A canalização construída para ajudar na preservação do caminho das águas do rio Cuiabá e também da preservação da água da chuva, para que assim seja distribuído entre as casas da capital, o córrego se tornou um verdadeiro ‘esgoto a céu aberto’, transparecendo o descaso não só do poder público mas da população, que despeja lixo no local.

Moradora de um condomínio de prédios localizado em frente ao córrego, a senhora Neura Silva Garcia, de 76 anos, disse que mal consegue fazer suas atividades físicas nas proximidades, devido à falta de calçadas em torno do local. 

“Eu sempre tenho que caminhar na rua porque a calçada é bem estreita e toda quebrada, se eu me arriscar, corro risco de cair lá em baixo. Também tem alguns arbustos plantados em algumas partes, ficando impossível de andar por lá. E caminhar na rua e é um perigo, porque às vezes tem muito carro passando em alta velocidade. Uma amiga minha quase foi atropelada uma vez por isso, depois eu tive que parar de caminhar por medo”, disse ela que vive sozinha no apartamento.

A arquiteta Miliane Dornelles, de 28 anos, moradora das proximidades, disse que a construção da canalização do córrego está fora dos padrões definidos pela legislação. “A calçada teria que ter um espaço adequado para duas pessoas irem e virem, o que não é o caso. Fora que as ‘bocas de lobo’ estão todas quebradas. A opção que temos é caminhar pela rua, o que já é bem difícil, pois os carros estacionam nos dois lados”.

Além disso, ela reclama do forte cheiro que o córrego exala: “Sempre quando chego do trabalho, no fim da tarde, fica aquele cheiro insuportável de esgoto. Daí toda vez tenho que fechar as janelas do apartamento, o que é muito desconfortável porque o tempo em Cuiabá é muito quente para isso”.

Já o empresário João Paulo Mendes, de 41 anos, reclama do mau planejamento e da falta de segurança próximo ao córrego, expondo motoristas a acidentes. “Aqui tem pouquíssima iluminação durante a noite e também falta de sinalização na rua. Sempre quando volto para casa, fico inseguro de andar pelas ruas laterais ao córrego, porque não tenho certeza se estou andando em linha reta para não cair lá em baixo. Teria que construir uma barreira, pelo menos, para que acidentes mais graves não aconteçam”. 
    
Córregos eram limpos

O que era para ser um espaço com águas limpas e tratadas tornou-se um verdadeiro esgoto a céu aberto. O córrego Mané Pinto, em canalização construída próxima às margens do rio Cuiabá, revê um desvio de planejamento e traz um certo transtorno a moradores que residem na região.

A professora aposentada de geografia urbana, em exercício na pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso, Suíze Monteiro Leon Bordesti, conta que entre as décadas de 1950 e 1960 as pessoas tomavam banho nesses córregos que atravessam a capital, além de usar as águas para uso pessoal. “Há registros de que pessoas se refrescavam nesses córregos, no meio da cidade. Principalmente aqueles que cortam os caminhos em direção às chácaras da época. Para se ter uma ideia, elas ainda usavam a água para cozinhar, lavar roupa, entre outras atividades domésticas”.

No entanto, com o aumento da população, desde a década de 1970, os bairros avançaram para esses córregos. “As pessoas começaram a negligenciar, não só a água, mas devastaram toda a vegetação que existia nestas margens. As que restaram hoje estão sendo totalmente destruídas pela urbanização destas áreas”.

Ela analisa que Cuiabá não soube aproveitar de nenhuma forma a vegetação da cidade, devido ao consumismo exacerbado da população e do poder público. “Todos estão ignorando as leis ambientais e civis, como se elas definitivamente não existissem. Diversas empreiteiras de outros Estados estão vindo para cá, por conta desta ‘facilidade’ que elas têm em construir seus imóveis sem a interferência de leis, coisa que elas não têm nas cidades de origem”, denuncia.

Ela salienta que se houvesse serviços eficientes quanto ao saneamento básico e também a colaboração da sociedade, o resultado seria positivo na revitalização destes locais. “Se houvesse saneamento básico urbano adequado para os esgotos sanitários, as bocas de lobo, entre outros, seria algo bom para as águas de Cuiabá. Mas as águas estão cada vez mais sujas. O poder público não consegue também suprir esta demanda de sujeira, pela falta de educação das pessoas em jogar lixo em geral, até móveis de casa, dentro destes córregos. Desse modo, não tem como reclamar da falta de eficiência dos serviços”.

Confira reportagem na íntegra. 

Noelisa Andreola

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