Vítimas da violência. Pessoas que foram surpreendidas pelo acaso e acabaram pagando um preço alto por estarem, talvez, no dia, hora e lugar errados. Embora as vozes tenham se calado, a dor se torna eterna para familiares e amigos, que buscam de alguma forma consolo na rotina totalmente alterada após a fatalidade.
Irmã de Karina Fernandes Gomes, vítima do assalto na Casa de Câmbio Rápido em Cuiabá, ocorrido em fevereiro deste ano, a jornalista Dantielle Fernandes Gomes Venturini relata que, por mais que o tempo passe, nada diminui a tristeza e a dor da tragédia.
“Por mais que já se tenha passado quase oito meses, ao contrário do que as pessoas falam, que o tempo ajuda e é o melhor remédio, na verdade pra quem vive a tragédia essa história de tempo é ilusão. Todo dia a dia é de tristeza, saudade e lágrimas. Não há um dia sequer em que não choramos por ela”.
A rotina da família mudou totalmente após o incidente trágico. Karina morava com os pais, que preferiram continuar na casa onde eles moravam. As coisas dela permanecem no mesmo lugar em que deixou momentos antes de sair para o trabalho e se deparar com o inesperado.
Para os pais, a mudança não iria alterar em nada a realidade e a dor não seria amenizada. Já Dantielle, que é casada, teve que estar mais presente no dia a dia deles para suprir, de alguma forma, a falta da irmã.
“Não há como amenizar. Sei que pra quem nunca vivenciou isso parece ser clichê. Mas não há nada que possa amenizar a dor da ausência. […] Ninguém entende essa dor. Pra quem está de fora vendo, é apenas mais um que se foi. Mas quem já passou por isso sabe que a vida da gente se torna nada. Insignificante”.
Mãe de Poliana Almeida de Araújo Alves, de 14 anos, morta juntamente com a amiga Luzinete Rodrigues, de 16 anos, pelo ex-namorado no início deste mês, Patrícia Maria da Silva disse que a família vive uma sensação diferente, como se a ‘ficha’ não tivesse caído até então. “Não acredito que isso aconteceu. Parece que ela está viajando pra algum lugar. É essa sensação que a gente está passando no momento”, disse.
Ela e a família acompanham o caso diariamente, com a atuação da delegada Anaíde Barros, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). “Jamais poderia imaginar que ele faria uma coisa dessas com a minha família. Ele morava aqui dentro de casa, praticamente. Nunca desconfiei de nada”, diz.