O acidente no voo de teste da Virgin Galactic, na sexta-feira, deu margem a especulações de que muitos dos candidatos a "turista espacial" poderiam pensar duas vezes em seguir participando do projeto idealizado pelo bilionário britânico Richard Branson.
Mas isto não aconteceu com o executivo paulista Bernardo Hartogs. Único brasileiro na lista inicial de 250 possíveis passageiros do programa de voos espaciais, Hartogs, de 58 anos, afirma que ainda sonha com a viagem, apesar de temer as consequências que o acidente no Deserto de Mojave, nos EUA, possa trazer para a Virgin Galactic.
"Não vou desistir do sonho de ir ao espaço. O que aconteceu foi uma tragédia, mas todos os projetos pioneiros da humanidade em novas formas de transporte sempre tiveram acidentes", afirmou Hartogs em entrevista à BBC Brasil.
"Ir ao espaço é uma aventura única, é mais do que explorar a Amazônia, por exemplo. Tenho plena confiança de que os voos não levariam passageiros sem totais condições de segurança".
O executivo paulista consta de uma lista nobre de "passageiros fundadores" do projeto. É assim que a Virgin Galactic se refere aos "turistas espaciais" que já desembolsaram o equivalente a R$ 625 mil por um lugar nos voos.
Loucura
Hartogs comprou sua passagem em 2004, na época em que a Virgin Galactic, previa os primeiros lançamentos para 2007. Depois de vários adiamentos, o executivo paulista teme mais atrasos por conta não apenas do acidente, mas da longa investigação das autoridades aeroespaciais americanas.
"Fiquei muito triste pela morte do piloto e porque tive chance de conhecer vários deles durante visitas ao projeto. São pessoas que também acreditam no sonho e eu espero que o projeto prossiga e não atrase muito", disse Hartogs.
Durante o fim de semana, ele recebeu mensagens diretas do próprio Branson.
Trabalhando no setor de petróleo e vivendo entre Londres e São Paulo, Hartogs é casado com uma executiva do ramo de aviação.
"Minha mulher me chama de maluco e muitos amigos no Brasil enviaram e-mails depois do acidente perguntando se eu ainda teria coragem de ir. Mas meu maior medo é não ter a chance de realizar este sonho", explicou o executivo paulista, que é pai de três filhos (o mais jovem deles de oito anos).
Para Hartogs, a percepção pública do projeto esbarra numa falta de compreensão dos desafios tecnológicos.
Ele diz que uma diferença enorme é o que chama de pioneirismo da Virgin Galactic.
"Mesmo o Programa Apollo (que levou o homem à Lua) foi desenvolvido a partir de projetos anteriores. Estamos agora falando de um projeto em que tudo é novo e sem precedentes. Creio, por exemplo, que só houve quatro voos de teste até agora. Por isso sempre admirei os pilotos de teste. A coragem deles é incrível, fico muito triste pelo que aconteceu", admitiu.
"Mas como abrir mão de uma experiência de ir ao espaço sem precisar de treinamento rígido de astronautas? Eu não tenho medo e continuo confiando plenamente no projeto".
G1