Conta uma velha lenda que um músico em busca das notas perfeitas andando pelo Mississipi, nos EUA, chegou a uma encruzilhada.
E ali, na intercessão da rota 61 com a 49, em Clarksdale, fez um pacto com o diabo.
Este pegou o violão, afinou num tom mais baixo e o devolveu ao bluesman. Seu nome é Robert Johnson.
Ele nasceu no início do século XX, não se sabe bem o ano. Morreu dia 16 de agosto de 1938 e no seu atestado de óbito não há causa mortis. Apenas o termo: NO DOCTORS.
Jonhson era lavrador até os 16 anos quando caiu na estrada.
Dizem que aos 20 descobriu que deslizando pelas cordas o gargalo de uma garrafa quebrada, fazia “sua guitarra chorar”.
Tinha o costume de tocar de costas para a plateia. Segundo alguns para que não vissem seu olhar “diabólico”. Outros diziam que era para que não conseguissem ver as notas que inventava.
Durante sua vida, Johnson fez dois registros de sua obra. Um em 1936 e outro em 1937. O primeiro em San Antônio, o segundo em Dallas, no Texas. Foram 29 músicas em 40 gravações. 13 repetidas.
Assim, ele entrou para a história do blues, da guitarra e da música.
É um dos maiores representantes do Mississipi Delta Blues e referência no formato de 12 compassos que caracterizam o estilo musical o colocou em 5º lugar na lista da Rolling Stone dos melhores guitarristas de todos os tempos.
Lista que, diga-se de passagem, também contempla a arte e o talento de Helena Meireles, nossa grande violeira.
As notas de Robert Johnson embalam a criação desta crônica, por que a encruzilhada não sai da cabeça de quem a redige, marcada pelo compasso pesado e ritmado do músico sensacional.
A eleição é uma encruzilhada coletiva, em que cada um pode escolher com quem quer compactuar e o tipo de sacrifício que está disposto a fazer, dependendo de onde se quer chegar.
Sempre haverá um “diabo” cobrando – caro – o preço de nossas escolhas.
Não há como fugir do confronto, nem do pacto que regerá a vida de uma nação (a nossa!) nos próximos 4 anos. Por uma questão de ambição ou, simplesmente, porque o voto é obrigatório.
Mas há como interferir no resultado coletivo. Esse é o grande papel que involuntariamente nos cabe agora.
O Brasil é nosso blues… Mas o recado final vem mesmo em forma de samba, uma de nossas mais profundas raízes populares.
“Façam por ele, como se fosse por mim”… pediria Ismael Silva, em “Antonico”, para ajudar o nosso Nestor. Cabe a nós começar a viração!
E, para isso, temos que fazer um pacto com nosso país na encruzilhada das urnas.
Vote bem, vote em quem realmente possa cumprir seu papel e dar o tom e o ritmo certo na grande obra que será executada nos próximos anos na vida de todos os brasileiros. Às urnas!
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com