Faculdades só para mulheres nos Estados Unidos estão revendo suas regras e começando a incluir transgêneros entre seus alunos.
O Mills College em Oakland, na Califórnia, tornou-se recentemente a primeira faculdade feminina dos EUA a declarar que aceitaria matrículas de “mulheres autoidentificadas” e “pessoas designadas como mulheres no nascimento, mas que não se encaixam no gênero binário”. As novas regras começam a valer em janeiro de 2015.
Em seguida, foi a vez de o Mount Holyoke College em South Hadley, Massachusetts, fazer um anúncio parecido, na última semana. Coordenadores de outras universidades femininas reconhecidas também avaliam mudanças.
Há 47 universidades femininas nos EUA e no Canadá. Muitas delas são antigas, criadas em uma época em que as mulheres não tinham acesso ao ensino superior.
As discussões sobre a aceitação de alunos trans são um reconhecimento de que os conceitos de gênero estão evoluindo. Estudantes ativistas vêm lutando há muito tempo para que haja mudanças nessas instituições. Algumas delas já alteraram o formulário de inscrição permitindo que os matriculados escolham “transgênero” como uma terceira opção de gênero ou permitindo que eles discutam sua identidade de gênero em uma redação.
“O que significa ser mulher não é algo estático”, diz a presidente da Mount Holyoke, Lynn Pasquerella, que anunciou a mudança nas políticas de admissão em uma cerimônia. “As feministas do passado diziam que reduzir a mulher a suas funções biológicas era um fundamento da opressão contra ela. Não queremos cair nisso.”
Banheiros
Outras instituições, no entanto, querem colocar limites nesses estudantes uma vez que eles chegarem ao campus, colocando barreiras aos esportes que eles podem praticar, aos banheiros que podem usar e aos lugares onde podem viver.
A Simpson University, a Spring Arbor University e a George Fox University estão entre as faculdades cristãs que pediram e receberam uma isenção religiosa da lei que bane a discriminação de gênero na educação.
Pasquerella afirma que a decisão de sua universidade representa um contraponto a casos desse tipo. Mas mesmo dentro da comunidade da faculdade Mount Holyoke a nova política não tem sido totalmente aceita. Algumas alunas deixaram claro seu descontentamento na página do Facebook da universidade.
“Mount Holyoke é uma universidade para mulheres e deve admitir mulheres. Ponto”, escreveu Pamela Adkins, uma ex-aluna que se graduou em 1979. Em um e-mail, ela também escreveu: “Há muitos outros lugares para as pessoas que não são mulheres estudarem. Não neguem as razões pelas quais Mount Holyoke foi fundada e pelas quais tem sido conhecida desde 1837: prover uma educação superior de excelência – para mulheres.”
Pasquerella tem consciência das reclamações, mas diz que os alunos atuais têm sido abertos à ideia.
Barreiras
Marilyn Hammond, presidente da Coalização de Universidades Femininas, diz que não acredita que esse tipo de política vá contra a missão das escolas desse tipo. “É algo consistente com a missão das universidades femininas e com seu papel histórico de abraçar a diversidade, a inclusão e a justiça social”, diz.
Estudantes transgêneros estão felizes com a novidade, mas dizem que ela chegou com muito atraso. Ao mesmo tempo, elas sabem que ainda há muitas barreiras para superar.
“Nenhuma política vai mudar atitudes transfóbicas”, diz Eli Erlick, uma mulher transgênero que estuda na Pitzer College em Claremont, Califórnia. Eli afirma que consideraria estudar em uma universidade feminina se as mudanças tivessem acontecido antes.
Calliope Wong, uma mulher trans que ganhou as manchetes americanas no ano passado quando reclamou que o Smith College se recusou a aceitar sua matrícula, afirma que o debate sobre admissão das universidades femininas pode ajudar a jogar uma luz sobre os grandes desafios que as pessoas trans precisam enfrentar.
“Espero que isso leve a mudanças gerais nas atitudes, para que mais pessoas se deem conta de que enfrentamos preconceito para conseguir empregos e em muitos outros campos.”
G1