Entre uma “Fábula Fabulosa” da floresta governada pela anta, seus abutres, hienas e outras feras animalescas que mandam e desmandam na vida do reino; um novo salto do explorador extraterrestre preso na atmosfera poluída, testemunha de embates entre a polícia para quem precisa, grupos populares e impopulares depredadores de monumentos públicos ou o “teje” preso do governante acusado de afanar na mão grande os cofres públicos nos “Plucts, placts zum, tóin, póin”; e os delírios alegóricos utilizando imagens das forças da natureza tais como tempestades, raios e ondas.
Assim o cotidiano construía linhas, frases, parágrafos e laudas formando o mosaico metafórico da realidade que desfilava nas crônicas.
Ora otimista, ora molambenta…
Mas, quase sempre, com um quê de poesia paradisíaca da Ponta do Leme, Rio de Janeiro.
Até que, num belo e ensolarado dia de inverno, ao tentar juntar os últimos acontecimentos, a cronista surtou de vez!
Sem conseguir sequer escolher uma das séries, tamanha a quantidade e a qualidade dos fatos a serem relatados no enredo que virariam as laudas do latifúndio que lhe cabia naquela semana.
Impossível fazer um recorte deixando de lado parte dos incríveis eventos de fora do registro ou encaixar a realidade cabeluda em seus escaninhos literários.
Foi aí que, incorporada pelo espírito do excepcional Stanislau Ponte Preta, a crioula cronista endoidou de vez!
Misturou floresta, alienígena e alegoria numa metáfora tropicalista e, diante do mar esmeralda agitado e frio de quase primavera, em pleno 11 de setembro, se deu conta que tudo que dissesse jamais teria credibilidade. Porque saiu esse texto, que só não deu samba por falta de rima. O que, diga-se de passagem, nunca foi sua especialidade…
“Enquanto a onda gigantesca despencava sobre os bem-aventurados reduzindo-os a grãos de areia molhada – sugados pela força do paredão que invadia o Caminho dos Pescadores – escalando a Pedra do Leme para pegar carona na extensão do bondinho do Pão de açúcar, o extraterrestre (que não era trouxa nem nada) sem forças para tentar um lançamento propulsor em direção às estrelas, usou num pezão uma das placas eleitorais do ficha limpa Índio da Costa, bancadas pelo homônimo invasor e seu projeto de quiosquizar a praia alheia e, no outro, a transparência congressual que ofuscava a visão Sveiter dos veículos na única saída do Leme.
Queria atingir a plataforma Petrobras! Mesmo desvalorizada, aviltada e loteada entre os próceres da floresta comandada pelas espécies exóticas “nadasabium” e seus comparsas registrados nas agendas contábeis e cobráveis do dedo duro, língua mole e delator premiado (vazadas pelo ralo que desaguavam no esgoto fedido no palácio antal).
Iam pela tubulação das empreiteiras comadres, em direção aos paraísos fiscais, a parte que deveria caber à educação, saúde, segurança e à tal mobilidade, famoso escoadouro dos engarrafamentos dos veículos incentivados poluidores da indústria da floresta que vai pra frente e, agora, alimentadores do desemprego camuflados em 20 milhões de bolsas quadrilhas que divulgam, na propaganda enganosa paga com o quinto não malocado no santo do pau oco, o que resta do habitat devastado pelos agrotransgênicos da motosserra de ouro, ancorada num porto de Cuba, e vassala da anta crustáscea amparada pelo dirigente da corte absoluta ungido pela “ani-mor”. Ela aponta sua pata e arreganha seus dentes roedores em duas direções: na de quem ameaça o reino do faz de conta e na dos que vazam as informações de seus bem feitos dinheirais e subornantes enquanto, com um sorriso falso, levanta os olhos dos seus tênis alertando que seus feitos não caberão nem permanecerão marinando na onda eleitoral que o extraterrestre antevê por aí…”
“Afinal de contas, cadê a por-rá do gigante que botaria ordem no bagaço que sobrou desse laranjal?”, indaga a crioula cronista doida sendo conduzida para o hospício mais próximo, logo ali, do outro lado do túnel?
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com