"O Brasil é realmente o líder mundial no desenvolvimento de bancos de leite", disse a médica Lisa Hammer, pediatra da Universidade de Michigan que faz parte do grupo que esteve no país para conhecer melhor a rede de bancos de leite.
A doação de leite materno, relativamente incomum na maior parte do mundo, é muito frequente no Brasil, onde a Rede BLH funciona como uma rede de bancos de sangue, promovendo testes, triagem e armazenamento do leite, que é usado principalmente na alimentação crianças prematuras em unidades neonatais.
Quando uma mãe não pode amamentar seu bebê devido a doenças, dependência de droga ou outros problemas, a rede entra em ação para fornecer leite gratuito. No ano passado, a rede coletou leite de 150 mil mulheres para nutrir cerca de 155 mil bebês.
Chegar a esse patamar não foi fácil. João Aprigio Guerra de Almeida, coordenador da Rede BLH lembra do que viu em sua primeira visita a um banco de leite no Rio de Janeiro em 1985. "O que eu vi me assustou", disse.
O sistema dependia de "doações" de mães carentes que com frequência vendiam tanto leite que ficavam sem nada para os próprios filhos.
Almeida contribuiu para o banimento da venda de leite materno e buscou alternativas para os caros equipamentos importados usados para o tratamento e armazenamento do leite.
Alternativas baratas
Máquinas de pasteurização de alta qualidade que custavam US$ 25 mil foram substituídas por máquinas brasileiras usadas em laboratórios de testagem de alimentos. Vidros de maionese ou de café instantâneo foram esterilizados para armazenar leite congelado, substituindo recipientes importados que representavam 89% dos custos operacionais dos bancos de leite brasileiros.
"Encontramos formas de adaptar o sistema à realidade de um país em desenvolvimento sem comprometer a qualidade e a segurança do leite", disse Almeida. "Também trocamos o foco da criança para a mãe, tornando-a a protagonista".
Cada vez mais as mulheres brasileiras estão escolhendo amamentar. De acordo com o Ministério da Saúde, mais da metade das mães amamentam exclusivamente nos primeiros seis meses de vida da criança. Nos Estados Unidos, essa taxa é de 16,4%, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), apesar de o leite materno ser visto como a melhor fonte de nutrientes para os bebês.
O leite materno contém substâncias antimicrobianas e anti-inflamatórias que ajudam a prevenir doenças como a diarreia, que pode ser fatal para as crianças, e promover a saúde em longo prazo de um jeito que as fórmulas não conseguem. Bebês prematuros que recebem leite materno com frequência se protegem contra problemas intestinais e outras doenças, o que permite que eles saiam antes da UTI neonatal.
O uso do leite materno também evita que as mães usem água potencialmente contaminada quando preparam as fórmulas.
Desde 1985, a mortalidade infantil do Brasil diminuiu de 63,2 a cada mil nascidos vivos para 19,6, em 2013.
"Por um investimento pequeno, estamos recebendo um grande retorno", disse Almeida. "Temos melhores taxas de sobrevivência e melhor saúde para bebês, que acabam economizando o dinheiro do sistema de saúde."
"Quando descobri que estava grávida, sabia que queria ser doadora", disse Maria Tereza Aragon, uma designer que doou leite por cinco meses depois do nascimento de seu filho, Bernardo. "No começo, eu não sabia como fazer. Fiquei surpresa sobre como era simples e quanto apoio é dado."
"É bom poder olhar para o seu bebê e saber que você está dando algo que vai ajudar outro bebê que é tão maravilhoso quanto o seu", ela disse, durante uma visita à maternidade para ver o recém-nascido de sua irmã.
A rede, composta por 214 bancos, é um caso de sucesso. Ajudou a implementar sistemas similares em 15 países latino-americanos e africanos, assim como na Espanha e em Portugal.
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