Fernanda sofreu traumatismo craniano após ser atingida pelo comerciante e ficou internada no hospital até segunda-feira (1º). A jovem acrescentou que ainda sente dores de cabeça e que "está tomando medicação". Os médicos disseram à família que as sequelas do golpe só poderão ser confirmadas após seis meses de tratamento.
Anderson Oliveira está preso e responderá por tentativa de homicídio qualificado, pois a vítima não teve chance de defesa, segundo a polícia. "Eu achei uma sacanagem da parte dele fazer isso comigo. Em primeiro lugar porque ele é homem. Eu não sou uma pessoa de agredir ninguém, eu não esperava ser agredida." O advogado da jovem afirmou que não pretende pedir indenização, por enquanto. “O importante é que ela se recupere”, disse.
Fernanda relatou que se lembra de tudo no dia da agressão, menos do que falou no ouvido de Oliveira segundos antes do golpe. "Só me lembrei a partir do momento em que vi as imagens". O vídeo (veja ao lado) foi assistido pela primeira vez na quinta-feira (4), na delegacia de São Roque, durante depoimento à Polícia Civil. "Ela ficou travada quando viu as imagens. Ficou pasma, sem reação nenhuma", completou o irmão.
Confusão com vizinha
Aparentemente confusa, a agredida, que é divorciada e mora sozinha, disse nesta sexta-feira que a discussão com o comerciante pode ter começado por causa de uma desavença com uma parente dele, de prenome Lusinete, vizinha à casa dela. "Ela tem ciúmes do marido e é cismada comigo. E eu chamei ele, o Tingo [apelido de Anderson de Oliveira] e disse: eu preciso conversar com você. Ela está armando confusão comigo", disse Fernanda.
"Com certeza foi por causa dessa pessoa. Eu estou abrindo o portão da minha casa, e ela fica provocando. Ela [Lusinete] já tinha me ameaçado antes. Disse que o marido conhecia 'alguns malandros da cidade'", informou. As desavenças começaram há cerca de cinco meses, segundo o irmão da agredida. Ele confirmou que a vítima já havia sido ameaçada pela vizinha.
Questionada se acredita ter nascido de novo, a jovem afirmou: “Deus sempre cuidou de mim e me cuidou naquele dia”. Ela disse também que nunca teve problema com o agressor. “Eu gostava dele como pessoa. Nunca ia esperar que ele fosse fazer isso comigo.” Fernanda tem um filho de seis anos. A criança está com o pai em Santos e não assistiu ao vídeo da agressão. Ela ainda não encontrou com o garoto desde o ocorrido.
Depoimento
Na tarde de quinta-feira (4), Fernanda Cézar prestou depoimento na delegacia de São Roque (SP). Ela e o irmão, Eduardo Cézar, foram ouvidos por mais de duas horas pela delegada que investiga o caso, Priscila de Oliveira. A auxiliar de produção deixou o distrito policial sem falar com a imprensa, cobrindo o rosto com um cobertor.
A família decidiu antecipar o depoimento para poupar a jovem, que precisava ficar em repouso. "Ela não se lembra de muita coisa e precisa descansar. Por isso, resolvemos adiantar essa etapa para deixá-la livre", afirmou o irmão. Eduardo também prestou depoimento na delegacia para informar o estado de saúde da irmã.
Discussão e cotovelada
As imagens da agressão, que ocorreu na madrugada do dia 16 de agosto, foram registradas por uma câmera de segurança de uma loja de motocicletas na Avenida Antonio Dias Bastos, no centro de São Roque. Segundo o irmão da vítima, ela e Anderson são conhecidos e se encontraram ocasionalmente na festa realizada por uma casa noturna.
O vídeo, que foi solicitado pela própria família da vítima ao dono do comércio, mostra Fernanda discutindo primeiro com uma pessoa vestindo uma blusa branca. Depois, ela fala com Anderson, que está de terno e com uma lata de cerveja na mão. Na sequência, o rapaz desfere uma cotovelada contra ela. Pessoas que estavam no local chamam o resgate, que chega pouco tempo depois. Anderson permanece no local, impassível.
‘Não lembra nem do pai’
O estado de saúde de Fernanda continua a preocupar a família. Ela teve alta na noite de segunda e segue em recuperação na casa de parentes, em Sorocaba (SP). Segundo o advogado Ademar Gomes, Fernanda apresenta sequelas do trauma. “Tem horas que ela tem uns 'brancos', não lembra nem do pai”, conta o advogado, explicando que a vítima ainda recebe acompanhamento neurológico.
Após a agressão, Fernanda foi levada para o Pronto-Socorro de São Roque e depois encaminhada para o Hospital Regional; ela saiu da UTI no dia 23 de agosto e permaneceu internada na enfermagem neurológica até o dia 1º. Horas antes dela deixar o hospital, o irmão da vítima afirmou que ela acordou algumas vezes e disse para a família que não se lembrava do que tinha acontecido. "Ela acordou, mas não nos disse o que aconteceu naquele dia. Ela não se lembra de nada e também não estamos forçando, já que a recuperação dela é o que importa agora.".
Investigação
Ao todo, sete pessoas deram esclarecimentos à polícia. Com o fim dos depoimentos, a delegada afirmou que irá relatar o inquérito no começo da próxima semana e fará o pedido de prisão preventiva da comerciante. Até a elaboração da denúncia, Anderson de Oliveira permanecerá preso sem possibilidade de fiança enquanto os advogados responsáveis pela defesa não entrarem com pedido de habeas corpus.
A delegada Priscila de Oliveira diz que a prisão temporária do agressor termina no dia 18 de setembro. “Até lá, acredito já ter concluído o inquérito” completa. Se for necessário para a investigação, ela poderá pedir a prorrogação da prisão temporária dele. Na semana passada, a delegada recebeu do hospital um laudo médico da jovem, mas que o documento não traz novidade à investigação.
“O laudo recebido foi baseado no prontuário da vítima e apenas aponta as lesões. Será necessário fazer um exame complementar”, explica a delegada. Esse novo exame deve ser feito em 120 dias, já que a prioridade é zelar pela saúde da vítima. O prontuário médico de Fernanda já foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para que seja elaborado um laudo, a partir dos exames, e que ajudará a concluir o inquérito.
Ainda segundo a delegada, nenhuma das testemunhas soube dizer o que causou a discussão. "Algumas pessoas ouvidas disseram que a vítima estava falando alto e mexendo com pessoas que passavam pela rua antes da agressão". Em depoimento, Anderson comentou com a delegada que Fernanda estava alterada. "Ele disse que ela [Fernanda] xingou ele e a irmã (que não estava presente). A cotovelada foi para afastar ela, que estaria incomodando Anderson", comentou.
A polícia abriu um inquérito para apurar os motivos da agressão, mas não divulgou outros detalhes do depoimento do comerciante, apenas confirmou que Anderson tem passagem por contravenção penal por envolvimento com máquinas caça-níqueis. O comerciante também tem registro de um roubo no qual matou o ladrão, mas a Polícia Civil ressaltou que ele não respondeu por homicídio, já que foi considerado legítima defesa.
'Completamente arrependido'
Carlos Alberto Alves, advogado de Anderson, afirmou que até segunda-feira não tinha entrado com o pedido de liberdade do cliente. Ele explicou que aguarda a conclusão do inquérito para decidir os próximos passos da defesa. O advogado também comentou que seu cliente está abalado e chorando. Ele também está preocupado com a mãe dele e tem perguntado sobre o estado de saúde da Fernanda, comentou Carlos Alberto.
Em nota enviada à redação do G1 no dia 27 de agosto, os advogados de defesa do comerciante informaram que Anderson está "completamente arrependido". "A defesa informa que acompanha atentamente a colheita das provas e que Anderson está completamente arrependido do ato que praticou e que jamais quis atentar contra a vida de Fernanda", diz a nota.
G1