A opinião é de um dos maiores comunicólogos brasileiros, doutor pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade de Siegen, na Alemanha, docente e coordenador operacional do Doutorado Interinstitucional em Comunicação Social da UFMG/UFMT e um dos fundadores da TV Record em Mato Grosso, Benedito Dielcio Moreira.
Para o professor, que também leciona na graduação em comunicação social pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), é natural jornais e revistas venderem seus espaços de divulgação, pois são empresas, sendo esta uma “prática recorrente no modelo de negócio adotado pelos veículos brasileiros”. No entanto, o especialista afirma que os governos devem adotar critérios específicos na veiculação de publicidade nestes meios e que ambas as áreas, comercial e jornalística, não devem subordinar-se nas organizações “independentes”.
“O veículo de comunicação tem que primar pela independência. As áreas comercial e jornalística devem ser independentes. Esses departamentos não devem se confundir nem se misturar”, analisa.
No mercado privado, as empresas que mais investiram em publicidade, no ano de 2013, foram Unilever (R$ 4,6 bilhões), Casas Bahia (R$ 3,4 bilhões) e o laboratório Genomma (R$ 2,5 bilhões), de acordo com o Ibope.
Números comparáveis com a publicidade oficial. Apenas em 2013, foram investidos mais de R$ 2,3 bilhões nessa modalidade de veiculação de campanhas e peças – e estamos falando apenas do governo federal, desprezando os recursos aplicados pelas unidades federativas e municípios. A televisão é a campeã dessa concentração de renda, podendo-se, inclusive, inferir que a Rede Globo é quase uma “anunciadora estatal”, pois entre 2000 e 2013 ela recebeu nada menos do que R$ 6 bilhões do Palácio do Planalto.
O professor da UFMT sublinha os dados desses investimentos de publicidade oficial realizados na mídia. “Os governos são os grandes anunciantes. A verbas públicas para propaganda são fundamentalmente as maiores do país”.
Questionado sobre uma eventual influência dos governos na linha editorial do veículo de comunicação, Dielcio é taxativo: “Isso não deveria ocorrer”.