O roteiro, escrito a quatro mãos por Beauvois e Etienne Comar, no entanto, tomou várias liberdades para adaptar a história para a ficção, sem perder de vista o caso real. "Foram realmente dois imigrantes que roubaram. Filmei na casa de Chaplin, são realmente seus livros, seu escritório [que aparecem no filme]. Filmamos um túmulo que fica a dez metros do dele. Também é verdadeiro o discurso do promotor, citando 'Hamlet'. O resto é ficção, a filha do sequestrador, sua mulher no hospital, o circo."
A produção só decolou realmente porque obteve o apoio da família Chaplin, pois a polícia suíça não quis ajudar, segundo o diretor, dizendo que ele teria que obter autorização. Um dos filhos de Chaplin, Eugene, que faz um pequeno papel no filme (assim como uma das netas, Dolores Chaplin), admitiu na coletiva que, a princípio, ficou desconfiado. "Porque não via como aquele episódio podia ser engraçado", disse. Assistindo a filmes de Beauvois e conversando com ele, porém, convenceu-se da "grande sensibilidade" do diretor e o apoiou.
Sequestro durou semanas
As próprias lembrança de Eugene da época também não eram boas. "O sequestro durou várias semanas, e não sabíamos com quem estávamos lidando. Recebemos várias ameaças." Ao final do caso, o caixão foi encontrado enterrado num lugar ermo, no meio de uma floresta –onde hoje, conta o diretor, "existem uma cruz e uma placa lembrando 'aqui repousou Charles Chaplin'".
Ainda assim, o filme não sataniza os sequestradores, interpretados pelos atores Benoît Poelvoorde e Roschdy Zem. "É bizarro amar estes homens que profanaram o túmulo de Chaplin, mas eles são tão insignificantes, que é isso o que acontece", confessou o diretor. A própria viúva de Chaplin, Oona, apesar de tudo, não pegou pesado contra os criminosos na época. Como lembrou seu filho, apesar de "pressionada pela polícia suíça a fazer dos sequestradores um exemplo" de punição, ela nem mesmo prestou queixa contra eles. Foram presos e processados por iniciativa das autoridades suíças.
UOL