Seu Jorge despontou fora da música como o Mané Galinha de "Cidade de Deus", mas já se aventurou em outras línguas –no filme "A Vida Marinha com Steve Zissou", de Wes Anderson– e já figura em projetos futuros como as cinebiografias de Jimi Hendrix e de Pelé.
No filme de Galvão, o cantor será Cabeleira, um temido matador que viveu no final dos anos 30 no interior de Pernambuco. Encontrado abandonado na mata para os bichos o devorarem, ele será criado desde bebê por um pistoleiro chamado Sete Orelhas (que tem esse nome por carregar os sete órgãos decepados em uma pulseira). O personagem principal crescerá como um selvagem, completamente isolado da civilização, aprendendo com seu tutor tudo sobre a arte da caça.
"Certo dia, Sete Orelhas não voltará. Ele [Cabeleira] decide procurá-lo, até encontrar a civilização. Ali descobre um mundo novo, um território sangrento comandado pelo comércio de pedras preciosas na região, chefiado pelo francês Mr. Blanchard, o mandante do assassinato do pai de Cabeleira", revela Galvão ao UOL.
Embora seja inevitável a comparação com "Django Livre" –filme de Quentin Tarantino que tem Jamie Foxx no papel de um escravo negro liberto que cavalga em uma matança em busca da amada–, o filme de Galvão retrata um universo brasileiro, mas completamente inserido no bangue-bangue de pistoleiros e cangaceiros.
"Eu acho que tem um lance meio 'Django', mas também tem muito do Sergio Leone [cineasta que revolucionou o faroeste na década de 60 com 'Três Homens em Conflito' e 'Era Uma Vez no Oeste', entre outros filmes], desse lance de 'O Grande Gatsby' [de Baz Luhrmann, com Leonardo DiCaprio]. Tem o antigo, do brasileiro, do surreal. Vai ser pesado, mas nada explicito", adianta ele.
Atrás das câmeras, Seu Jorge entra também como coprodutor. Com roteiro escrito pelo próprio Galvão, o filme é inspirado em fatos reais: naquela época, além do bando de Lampião –que também vai aparecer no filme–, existiu um cangaceiro chamado Cabeleira.
Com orçamento previsto de R$ 7 milhões, o projeto começa a captar recursos ainda este mês e deve ser filmado na metade de 2015 na cidade de São Bento do Uma e na vila de Cimbres, do município de Pesqueira, ambos no agreste pernambucano.
De gênero em gênero
Com "A Despedida", ainda sem data de estreia, Galvão saiu do Festival de Gramado 2014 com quatro Kikitos: além de melhor direção, ele também conseguiu os prêmios de melhor ator para Nelson Xavier, melhor atriz para Juliana Paes e melhor fotografia. O filme, denso e dramático, conta a história de um homem de cerca de 90 anos (Xavier) que decide se levantar da cama para se despedir da vida, fazendo coisas como acertar a conta no boteco, visitar o neto e ter uma ultima noite de amor com sua jovem amante, Morena (Paes).
O projeto com Seu Jorge pode causar ainda mais estranheza pelo fato de o diretor ter saído com prêmios, na edição 2012 do festival gaúcho, por "Colegas", aventura protagonizada por atores com síndrome de Down. Galvão não estranha, já que ele gosta do exemplo do diretor Stanley Kubrick e se aventurar em diversos gêneros. "Eu gosto de diversificar os gêneros. Quero fazer um filme um pouco diferente, sem deixar de trabalhar com a coisa brasileira, o cangaço", explica.
Seu Jorge, segundo ele, vem para reforçar. "Ele tem essa energia, esse jeito violento. Não que ele seja violento, mas o tom de voz e a presença dele dá peso para a história. Dá para explorar bem".
UOL