Aliás, não faz tanto tempo assim que o zagueiro chegou ao Americano ainda jovem com um par de chuteiras embaixo do braço pedindo para jogar. Pelo menos nas memórias de César Gama, ex-presidente do clube, que viaja pouco mais de 10 anos no passado para recordar o dia em que Gil, um menino moreno, com boa estatura e muito promissor começou a vestir a primeira camisa preta e branca de sua carreira.
– Lembro-me como fosse hoje o dia em que o Gil apareceu no campinho da Usina Cambaíba com um par de chuteiras pedindo para treinar. Ele tinha jogado na infância no Rio Branco e chegou ao Americano com uns 17 anos. Na época ele jogava de volante e chegou atuando na posição. Mas o treinador Paulo Marcos acabou colocando ele de zagueiro, de onde ele não saiu mais. Fico muito feliz por poder ver ele brilhando e sendo convocado. De certa forma, pude acompanhar o crescimento dele e isso é muito gratificante. Ele é um garoto muito bom, de família humilde, que lutou muito para chegar onde está. Tenho certeza que ele ainda vai se destacar muito – disse.
O discurso do ex-presidente é seguido pelo do atual. Luciano Viana, que na época era gerente de futebol do Americano, se mostra privilegiado por ter visto os primeiros passos da carreira do zagueiro que tem se destacado no Corinthians pela regularidade nos jogos. O dirigente conta que a expectativa sobre o jogador era tanta que o clube, inclusive, tentou colocá-lo no Vasco. Porém, sem sucesso.
– O Gil desde sempre se mostrou um grande zagueiro. Eu conversava com as pessoas mais próximas do clube e dizia que não entendia como ele não conseguia um clube maior no Rio. Na época, eu era gerente de futebol do Americano e dizia que nos quatro grandes do Rio não havia zagueiro com a qualidade dele. Mesmo com ele disputando o Carioca e se destacando, os times do Rio não o contratavam. Inclusive, tentamos alguns contatos no Vasco para viabilizar a transferência, mas acabou não acontecendo. Foi então que conseguimos o empréstimo dele para o Atlético-GO. Eu até mesmo ajudei na negociação. Por isso, é uma satisfação muito grande para mim, para o clube e para toda a cidade ver o Gil brilhando e sendo convocado – afirmou.
DO SALÁRIO MÍNIMO À SELEÇÃO
No Corinthians há dois anos, Gil soma 105 partidas pelo clube. Mas antes de se destacar no Timão e ser convocado por Dunga para defender a Seleção, o zagueiro primeiro atuou pelo Atlético-GO, pelo Cruzeiro e pelo Valenciennes, da França.
Luciano Viana, um dos pivôs da transferência de Gil para o Dragão Campineiro, clube onde o jogador passou a ganhar mais destaque e encaminhar voos mais altos, exalta a trajetória realizada pelo atleta que, segundo ele, é mais um a carregar o nome do Americano para o Brasil e para o mundo.
– Depois que ele se destacou no Atlético-GO, um empresário nos contatou e adquiriu o passe dele. Parece que a ida dele para o Cruzeiro já estava até encaminhada na época. Foi então que ele se desligou do clube. Depois disso ele passou pelo Cruzeiro, pela França e, posteriormente, fechou com o Corinthians. Hoje posso dizer que ele se tornou mais um atleta que entra na lista de grandes jogadores revelados pelo Americano, como é o caso do Léo, que jogou no Santos, o Odvan e o Sandro Silva. O Gil tem família em Campos e sempre que vem aqui é uma alegria para todos. Ele continua o mesmo, continua uma pessoa maravilhosa – declarou o presidente.
Acostumado a ganhar algo em torno de um salário mínimo no Americano, Gil, em um curto período de tempo passou a receber uma quantia bem maior, como ocorre com a maioria dos jogadores que obtêm sucesso. O que fez César Gama, presidente do Americano na época, se reunir com a mãe do zagueiro para passar algumas orientações, de acordo com o que ele conta.
– No Americano, o Gil ganhava cerca de um salário mínimo. Quando saiu do clube para jogar no Atlético-GO começou a ganhar bem melhor. Lembro quando o empresário veio a Campos viabilizar a negociação do jogador. Eu fiz questão de conversar com a mãe dele, que morava em um bairro muito humilde da cidade. Falei com ela para frear a euforia dele e tudo mais, que ela precisaria acompanhá-lo porque ele começaria a ganhar muito dinheiro. E assim ela fez. Tudo se encaminhou perfeitamente. Ele sempre foi um menino muito bom, uma pessoa muito boa, que ainda vai nos dar muitas alegrias – concluiu.
Com Gil entre os jogadores, o Brasil enfrenta a Colômbia no dia 5 de setembro, em Miami. Quatro dias depois, a Seleção entra em campo para medir forças com o Equador em Nova Jersey. Estes vão ser os primeiros jogos do escrete Canarinho após o fracasso na Copa do Mundo. Os amistosos também vão marcar o retorno de técnico Dunga ao comando da equipe.
Globo Esporte