As imagens feitas pelo vizinho mostram a moto tombada e o motociclista está no chão, sendo imobilizado pelos policiais. As pessoas se exaltam. Uma mulher chega a chutar um dos policiais.No mesmo momento é possível ver o braço de um homem de camisa escura, que é Mário Aparecido dos Santos, pai da moça que estava na garupa, tocando a policial. Acontece uma discussão. As imagens mostram que a policial militar dá dois tiros para o alto. Depois a policial, abaixa a arma e o terceiro disparo acerta o idoso no pescoço.
A mulher da vítima, que pediu para não ser identificada, conta que o marido levou o tiro enquanto pedia calma aos policiais."Só via na hora em que ele estava em cima deles [dos policiais] para tirar a minha filha. Ele falou que era filha dele, que não precisavam fazer tudo aquilo. Aí, ela atirou nele e apontou a arma para mim e para minha filha. Ela mandou eu sair porque eles iam atirar", disse a mulher.
Mário Aparecido dos Santos foi levado para o Hospital de Ermelino Matarazzo em estado grave.Ele foi transferido para o Hospital Santa Marcelina, também na Zona Leste. Seu estado de saúde era considerado estável no início da manhã desta segunda-feira (11). O paciente continuava sedado, mas estava consciente. Ele ainda passa por exames para se que os médicos constatem se a bala chegou a atingir o cérebro.
Nesta manhã, os envolvidos na ocorrência ainda eram ouvidos no 24º Distrito Policial para que o boletim de ocorrência fosse registrado. De acordo com o Bom Dia São Paulo, até por volta de 1h desta segunda, não havido acontecido a perícia.O local do incidente não foi preservado. Pessoas do bairro contam que outros policiais chegaram e usaram bombas para dispersar a multidão. As filhas da vítima contam que, logo depois que levaram o pai para o hospital, policiais voltaram ao local para retirar a moto e levá-la direto para delegacia.
Letalidade policial
O índice de negros mortos em decorrência de ações policiais a cada 100 mil habitantes em São Paulo é quase três vezes o registrado para a população branca e a taxa de prisões em flagrante de negros é duas vezes e meia a verificada para os brancos. É o que mostra um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) divulgado em abril.Os dados revelam que 61% das vítimas da polícia no estado são negras, 97% são homens e 77% têm de 15 a 29 anos. Já os policiais envolvidos são, em sua maioria, brancos (79%), sendo 96% da Polícia Militar.
A coordenadora da pesquisa, Jacqueline Sinhoretto, diz que existe hoje um racismo institucional. Não é que o policial como pessoa tenha preconceito. É o modo como o sistema de segurança pública opera, identificando os jovens negros como perigosos e os colocando como alvos de uma política violenta, fatal, diz.O estudo sobre a letalidade policial, feito pelo Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos da universidade, levou em conta 734 processos da Ouvidoria, de 2009 a 2011, com 939 vítimas.
G1