Entre shots de cachaça e camarões empanados com catupiry, alcançamos o nirvana caindo de boca num dos pratos mais famosos do bar do filho do Lúcio, morador querido e tradicional da comunidade: a Feijoada de Frutos do Mar.
Cacá, íntimo de David e de todas as atendentes, não deixa de bater ponto no pedaço todas as vezes que vem ao Rio e é mais bem chegado do que eu, que apresentei o point para ele.
Como “autoridade”, foi ele que me fez experimentar a iguaria feita com feijão branco, peixe, mexilhões, camarões, lulas e etc, acompanhada de arroz branco e uma farofinha de alho dos deuses.
Um mix equilibrado de sabores e texturas, daqueles que a gente tem vontade de degustar ajoelhado. Tudo na medida certa, sem que um único tempero se sobreponha aos diferentes tipos de ingredientes do prato, talvez o mais famoso do lugar.
É muito difícil alcançar esse equilíbrio, por exemplo, com tantos pontos diferentes de cozimento ideal. As lulas são mais sensíveis e se passam do ponto podem ficar emborrachadas, os mexilhões nem se fala. Já o peixe precisa de um tempinho maior, para adquirir a textura ideal.
Confesso que como não sou especialista em cozinha, a não ser como consumidora, nem tentei arrancar de Andréia, a garçonete maravilhosa que ainda indica o que está mais caprichado no cardápio do dia, e do sempre simpático e receptivo David, os segredos da Feijoada de Frutos do Mar. Mas, como provadora gastronômica, sou capaz de avaliar o grau de complexidade, apuro e equilíbrio do acepipe servido.
É por isso que posso imaginar a ciência para preparar um prato como a Feijoada de Frutos do Mar, assim como alcanço a complexidade de outras misturas, alimentares ou não, principalmente as com ingredientes díspares e contrastantes.
Cada um tem sua personalidade, sua consistência e características (cor, cheiro e sabor) próprias e precisam ser acomodados e mesclados de forma a valorizar suas qualidades para comporem um novo elemento único e particular.
Um pouco demais, um pouco de menos, o erro no tempo de preparo, no cozimento e na apresentação podem simplesmente “entornar o caldo” transformando uma preciosidade num angu de quinta. Isso vale para outras situações: equipes de trabalho, grupos de amigos e… política.
Compor o quebra-cabeças das chapas que concorrem as eleições 2014 e saber como dosar os ingredientes, qual a ordem correta de juntá-los no caldeirão eleitoral e o tempo ideal de exposição de cada um, é essencial no processo.
E é aí que a porca torce o rabo sem que ele possa ser agregado ao mexidão que teremos em 2014. Até o momento não está dando para definir os diversos sabores e depurar as escolhas, simplesmente por que há de um tudo em todos os agrupamentos que se apresentam.
O resultado são opções insossas e mal finalizadas, com acompanhamentos que tentam aparecer mais que o prato principal, resultando numa gororoba indigesta e mal apresentada para o eleitorado.
Tem gente precisando de umas aulas com o David para aprender que a simplicidade é o principal do cozido…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com