Segundo os dados do Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, no mesmo período de 32 anos foram registrados 1.202.245 homicídios no país, além de 1.041.335 vítimas de acidentes de trânsito e outros 216.211 suicídios. Somadas, as três causas de mortes perfazem um total de 2.459.791 pessoas que perderam sua vida em virtude dessas “causas externas”, isto é, aquelas que não decorrem do processo natural de deterioração do organismo, em virtude da idade, doenças e demais fatores.
Para se ter uma ideia, é como se o Brasil tivesse sido palco da Batalha de Stalingrado, considerado o combate mais sangrento da história da humanidade, na cidade russa de mesmo nome (hoje Volgogrado), entre 1942 e 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, e que deixou um número similar de mortos.
Segundo o Datasus, base de dados utilizada pelo Ministério da Saúde, em 1980 havia 34,5 milhões de jovens no Brasil, representando 29% dos 119 milhões de habitantes que o país tinha na época. Em 2012 esse número subiu para 52,2 milhões de pessoas, no entanto, sua proporção diminuiu em comparação com a população, caindo para 26,9% dos 194 milhões de residentes de nosso país, de acordo com estimativas do próprio Ministério.
Para o Mapa da Violência, um dos fatos mais preocupantes e que recebeu destaque especial no estudo é a faixa etária que se encontra mais vulnerável a mortes por causas externas. O texto qualifica como “brutal” o incremento de homicídios a partir dos 13 anos de idade, que nessa época são de 4 a cada 100 mil habitantes, subindo para 75 ao atingir os 21 anos – um aumento de quase 1.900%.
O texto ressalta que nessa faixa jovem os índices de homicídio são tão altos que nem “países em conflito armado conseguem alcançar”.
Em Mato Grosso as mortes violentas de pessoas com idade entre 15 e 29 anos cresceram nos últimos anos, passando de 425 em 2002 para 531 em 2012 – aumento de 25%. O Estado ocupa ainda a 15ª colocação no índice de mortes dessa faixa etária, com 60 vítimas para cada grupo de 100 mil habitantes. Posição à frente de outros locais considerados “violentos”, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Jovens socializam-se pela violência
Dados do levantamento Mapa da Violência 2014: Jovens do Brasil confirmam que o Brasil é uma das nações menos seguras do mundo para o jovem de 15 a 29 anos viver. O país ocupa a 8ª posição, com 54,5 homicídios por grupo de 100 mil habitantes, à frente de Panamá, México e Paraguai. A campeã no quesito é El Salvador, com 119,6 vítimas.
Para o coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudos sobre a Violência Pública e Cidadania (Nievci) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos da Costa, a questão dos homicídios no Brasil é “muita séria”, e houve um aumento vertiginoso nas últimas três décadas. Sublinhando que os registros de mortes verificados nos últimos anos tem-se mantido entre 50 e 60 mil pessoas, ele alerta que o jovem é mesmo o mais vulnerável nessa situação.
“Enquanto esse jovem não estiver empoderado, enquanto não tiver acesso a atividades que desenvolvam suas capacidades motoras e emocionais, enquanto ele estiver fora do alcance dos valores socialmente aceitáveis, ele encontrará sua socialização por meio da violência”, diz.
Naldson explica que empoderar, um termo da sociologia, nada mais é do que incluir a pessoa, no caso o jovem, como sujeito de valores dentro da sociedade, ou seja, instruí-lo e orientá-lo sobre quais comportamentos são aceitáveis do ponto de vista da convivência cordial entre as pessoas.
Ele diz ainda que a política de segurança pública contribui para que os índices de mortes na faixa etária entre 15 e 29 anos tenha explodido nas últimas décadas, afirmando que a repressão, isto é, quando agentes de segurança interceptam criminosos no ato do delito, no flagrante, “não acontece”.
“Muitos homicídios não são esclarecidos já que os policiais chegam muito tarde à cena do crime. Além disso, nos boletins de ocorrência, é comum verificarmos que crimes de honra sejam computados como disputas de poder no tráfico de drogas, por exemplo”, diz ele.
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