Esportes

Fora de campo: As maldições e o misticismo na grande magia do futebol

 
Nos últimos meses, por sinal, essa palavra parece estar mais em moda do que nunca no planeta bola. Apelidado de "Maldito Futebol Clube" pelo célebre presidente Vicente Calderón devido aos seus recorrentes infortúnios, o Atlético de Madri exorcizou seus fantasmas recentemente com o título espanhol, 18 após seu último triunfo na Liga das Estrelas. O Arsenal fez o mesmo ao conquistar a Copa da Inglaterra, seu primeiro troféu em nove anos.
 
Outras equipes, porém, não conseguiram encerrar certos ciclos de desventuras. Campeã da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, a Espanha foi eliminada na fase de grupos do Brasil 2014. Com isso, completaram-se 52 anos sem que a melhor seleção da edição anterior fosse capaz de defender seu título. Algumas semanas antes, o Benfica foi derrotado pelo Sevilla na final da Liga Europa (0 a 0, 4 a 2 nos pênaltis), amargando seu oitavo vice-campeonato europeu consecutivo. Para muitos torcedores do clube, no entanto, a maldição que pesa sobre as Águias não é um mito. Ela tem responsável e tudo: Béla Guttman.
 
Guttman foi técnico do Benfica no início dos anos 1960. Grande treinador, o húngaro conseguiu colocar o time português no topo da Europa. Mas, após uma disputa financeira, ele bateu a porta do clube proferindo as seguintes palavras: "Vou embora amaldiçoando vocês. Não ganharão nenhum título europeu nos próximos 100 anos." Embora uma grande estátua de Guttman, com uma taça da Copa dos Campeões da Europa em cada braço, tenha sido erguida recentemente para quebrar a maldição, a praga do húngaro continua implacável, para desgosto dos torcedores lisboetas.
 
Varapaus, bruxas e ciganos
Os benfiquistas talvez devessem consultar os torcedores colombianos do América de Cali. Segundo a lenda, em 1948, quando foi aprovada a mudança para o profissionalismo, um dos sócios do clube chamado Benjamín Urrea ficou tão escandalizado que lançou uma maldição: "O profissionalismo que vá para o inferno! Façam o que quiserem do América, mas juro por Deus que ele nunca será campeão…" Ninguém o levou a sério, tampouco imaginou o jejum de títulos que viria pela frente. Assim, em 1978, um grupo de sócios e o próprio Urrea decidiram exorcizar o clube para pôr fim à Maldición del Garabato (Maldição do Varapau, como Urrea era conhecido). Superstição ou não, a verdade é que o América conquistou seu primeiro troféu na temporada seguinte…
 
No caso do Birmingham City, o castigo começou com uma mudança de endereço. Em 1906, o presidente Harry Morris decidiu abandonar o velho estádio Muntz Street para adotar o St. Andrew’s, após desalojar um grupo de ciganos. Um erro imperdoável. Conta a lenda que uma maldição se abateu sobre o clube por nada menos que 100 anos. Fora uma Copa da Liga conquistada em 1963, a equipe não ganhou mais nada, subindo e descendo entre uma divisão e outra sem nunca chegar a brilhar realmente.
 
Ao longo dos anos, muitos tentaram esconjurar o mau agouro. As tentativas mais famosas foram protagonizadas pelos ex-treinadores Ron Saunders e Barry Fry. O primeiro, técnico do Birmingham de 1982 a 1986, mandou pendurar crucifixos nas torres dos refletores do estádio e pintou de vermelho as solas das chuteiras dos jogadores. Em vão. Dez anos depois, foi a vez de Fry tentar vencer o tabu. "Fazia três meses que não ganhávamos. Estávamos desesperados. Por isso, fiz xixi nos quatro cantos do gramado." Deu certo? "Começamos a vencer, e achei que tivesse funcionado. Mas depois os dirigentes me demitiram. Então não, provavelmente não adiantou." Em 2006, passados os 100 anos, a maldição finalmente chegou ao fim… com um novo rebaixamento.
 
O Derby County foi vítima do mesmo sortilégio no final do século 19. Convidado a desocupar o Baseball Ground, onde o clube iria mandar seus jogos, um grupo de ciganos teria lançado um feitiço para que a equipe não ganhasse mais um único troféu. Nas seis temporadas seguintes, o Derby perdeu três finais da Copa da Inglaterra. Classificado para mais uma decisão em 1946, o clube resolveu enviar seu capitão Jack Nicholson para resolver a questão com os ciganos. Ato contínuo, o Derby venceu o torneio batendo o Charlton por 4 a 1.
 
Uma derrota do mesmo Charlton quebrou uma outra maldição, dessa vez do Southampton. Em agosto de 2001, o clube trocou o estádio The Dell pelo St. Mary’s, mas a nova casa não trouxe sorte. Pelo contrário. Incapazes de conquistar uma única vitória, os Saints e seu técnico escocês Gordon Strachan decidiram tentar resolver o problema contratando os serviços da "bruxa" Cerridwen DragonOak Connelly. O ritual celta realizado pela agora famosa médium surtiu efeito, e o Southampton derrotou o Charlton por 1 a 0. Aliviado, Strachan não perdeu a oportunidade de brincar com a situação. "Se ela é tão boa assim, talvez possa assumir o treinamento nas próximas duas semanas", disse. "Eu vou jogar meu golfe enquanto ela fica aqui caçando os fantasmas. Quem sabe até ganhe uma vaga no ataque!"
 
Vodu e gatos pretos
A seleção da Austrália, por sua vez, estava tão determinada a se classificar para a Copa do Mundo da FIFA México 1970 que recorreu a um feiticeiro vodu, que lançou um mau agouro sobre todos os adversários dos Socceroos nas eliminatórias. Após a vitória sobre a Rodésia (atual Zimbábue) na segunda fase, o xamã exigiu seu pagamento, mas não foi atendido. Para se vingar, reverteu a maldição na direção dos australianos, que não conseguiram se classificar para o Mundial e, embora tenham garantido vaga na Alemanha 1974, não marcaram um gol sequer no torneio. Aquela seria a última participação do país em uma Copa do Mundo pelos próximos 32 anos. O suplício só chegou ao fim quando um documentarista de televisão visitou um outro bruxo na África a fim de exorcizar a Austrália. Como mágica, a seleção se classificou para a Alemanha 2006 e chegou às oitavas de final.
 
Mas as maldições também podem vir de torcedores rivais. Foi o que tentaram fazer os hinchas do Independiente da Argentina ao enterrar sete gatos pretos no estádio do Racing Club. Eles aproveitaram a viagem do arquirrival ao Uruguai por ocasião da final da Copa Intercontinental de 1967, em que o clube acabaria vencendo os escoceses do Celtic, para fazer sua magia negra. Por incrível que pareça, aquele foi o último título do Racing nos 34 anos seguintes.
 
Por último, uma maldição que segue em curso: ao que parece, tocar o troféu da Liga dos Campeões da UEFA antes mesmo de disputar a final dá azar. Ludovic Giuly (Monaco x FC Porto em 2004), Gennaro Gattuso (Milan x Liverpool em 2005) e Anatoliy Tymoshchuk (Bayern de Munique x Chelsea em 2012) ousaram passar os dedos na taça ao adentrarem o gramado para a decisão. Nas três vezes, suas equipes perderam. Mera coincidência ou castigo dos deuses do futebol? 
 
Fifa

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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