Para a dona de casa Sônia Campos, de 48 anos, o mau cheiro é a pior parte do acúmulo de dejetos. Moradora da Comunidade Bariri, situada no bairro Presidente Vargas, Zona Centro-Sul da capital, ela conta que até eletrodomésticos são encontrados às margens do igarapé. "Quando começou a encher, colocamos marombas e o lixo acumulava todo debaixo das pontes. O cheiro é podre, tem de tudo mesmo. O ruim é que, com a água descendo mais devagar, somos obrigados a conviver com os urubus praticamente na frente de casa", disse.
A aposentada Matilde de Souza Viana, de 63 anos, afirmou que o neto adquiriu infecção ao entrar em contato com a água poluída. "Morro de medo de encostar nessa água. Meu neto estava andando na maromba quando se desequilibrou e caiu no rio. Ele chegou a engolir água e pegou uma infecção, e agora está há uma semana fazendo tratamento com remédios e vacinas todo dia. Isso é um perigo para toda a população", contou.
O subsecretário operacional de Limpeza Pública, José Rebouças, afirmou que as chuvas frequentes e o processo lento de descida do rio possibilitam que o lixo migre de igarapé em igarapé. Segundo ele, o ato inconsciente de jogar dejetos nas ruas aumenta ainda mais a quantidade do material nos igarapés. "Tem muita gente que pensa que a culpa é só de quem mora perto dos igarapés, mas toda a população colabora com isso quando joga lata, garrafa no meio fio, quando deixam de varrer a calçada da rua. A primeira chuva já arrasta o lixo para os bueiros, que cai na drenagem e chega ao igarapé", explicou.
De acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (Semulsp), a limpeza dos igarapés ocorre diariamente, com ajuda de 60 agentes do órgão. Redes de contenção foram instaladas para auxiliar na limpeza em diferentes afluentes da cidade, como o igarapé da Avenida Brasil, do Franco, e 40.Ao todo, 3.986 mil toneladas de lixo já foram retiradas de igarapés da cidade neste ano. Os números, segundo José Rebouças, são alarmantes. "A população tem tido mais consciência sim. A quantidade de lixo retirada diminui um pouco, mas ainda é muito grande. É preciso que todos tenham mais consciência", concluiu.
Cheia dos rios no Amazonas
O último balanço da Defesa Civil aponta que 39 municípios foram atingidos pela cheia dos rios em todo o estado. Segundo o órgão, atualmente 37 municípios estão em situação de emergência e dois em estado de calamidade, com mais de 317 mil pessoas afetadas. Neste ano, as cidades começaram a enfrentar o problema em abril.Em maio, o Rio Negro ultrapassou a marca de 28,94 metros em Manaus, considerada de emergência, e alcançou a faixa de alerta. Esta cheia foi considerada a quinta maior cheia da história da capital. A previsão do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) é que o nível rio saia da faixa de alerta em agosto.
Cinco municípios entraram na lista de atingidos: Autazes, Itacoatiara, Anori, Careiro Castanho e Codajás. Além dessas cidades, a lista atualizada inclui as cidades de Borba, Apuí, Envira, Guajará, Ipixuna, Lábrea, Novo Aripuanã, Manicoré, Nova Olinda do Norte, Tapauá, Anamã, Barreirinha, Beruri, Boa Vista do Ramos, Caapiranga, Canutama, Careiro, Careiro da Várzea, Coari, Fonte Boa, Iranduba, Jutaí, Manacapuru, Manaquiri, Maraã, Maués, Nhamundá, Parintins, Pauini, Silves, Tefé, Itamarati, Urucará e Urucurituba.
G1