Opinião

Dançando nos campos do Senhor

 
Aqui no Rio, pelo menos uma vez por ano, isso é muito normal, então, de 4 em 4 anos, ninguém estranha o fato. Todo o santo dia 31 de dezembro, na medida em que as horas vão passando, o ruído aumenta até o festival de fogos da meia noite  no famoso réveillon em Copacabana.
 
Dia de jogo do Brasil muda um pouco o timing, mas a essência foguetória é a mesma. E olha que nem somos chineses, os inventores do brinquedinho de artifício. São os fogos que vão marcando a crescente excitação popular que vai tomando conta do ar que todos nós respiramos aqui na Ponta do Leme e, creio que no país inteiro, nos dias de partidas brasileiras na Copa do Mundo. É como se a vida se limitasse aos degraus necessários para a conquista do almejado título esportivo. Uma loucura.
 
E já que estamos nela, bem do ladinho, só resta observar os efeitos imediatos e de primeiro grau que essa paixão nacional causa no entorno.
 
Agora, depois de três semanas de eventos na praia de Copacabana já dá para fazer uma análise mais detalhada do que rola no pedaço e das tribos presentes na festa no ensaio fotográfico que sigo fazendo, o #justnow
 
A muvuca é geral, mas digamos que as comunidades podem ser distinguidas mais claramente: os que fazem da orla sua casa, os que vêm pra “presepar” e aparecer nas telas do mundo, quem está fazendo negócios (e aí tem diversos tipos e as mais variadas possibilidades), quem passa só pra dar uma olhada no espetáculo, quem vem ver o futebol e consumir o espetáculo e seus produtos. Foi preciso um tempo de adaptação para decodificar tanta diversidade. Hoje, já dá para escolher com mais objetividade a melhor hora para fazer as fotos, para passear ou ir á praia.
 
Nesse período, algumas curiosidades. Como nos dias de sol a preocupação dos branquelos com suas orelhas, esquecidas no primeiro contato com o sol carioca até tostarem inadvertidamente pela falta de uma distribuição adequada de protetor solar.
 
Outra atração são os dreadlocks, aqueles cabelos longos e embaraçadíssimos a la Bob Marley. Quem disse que só turista abonado ia ter visto para chegar ao coração da Copa? Os mochileiros são muitos! Extirparam os mendigos e da paisagem, mas não contaram com os andarilhos que, com ou sem suas casas nas costas, dormem em qualquer lugar, inclusive nas areias da praia.
 
Quanto mais afunila a competição, mais viramos a meca e objeto de desejo dos estrangeiros de qualquer condição social! Primeiro foram os motorhomes que, depois de invadirem o Leme e ocuparem a orla e as ruas do bairro, foram remanejados para o Sambódromo e o Terreirão do Samba. Dizem que lá virou uma espécie de Cidade de Lona informal como as da lendária Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul. Ainda não tive chance de checar o movimento por lá, mas li uma notícia contando que, para fugir dos preços turísticos extorsivos cariocas, levas de turistas estão frequentando o Restaurante Popular, feito para oferecer comida a R$ 1 (hum real) para os menos favorecidos da cidade.   
 
Enfim, dentro do grande e milionário evento, há espaço (tomado a muque) para quem acha que ver uma Copa do Mundo não tem preço e qualquer sacrifício é válido para viver essa emoção, incluindo nossos mendigos…      
 
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com
 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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