O Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira, 23, sustentando o patamar dos 160 mil pontos, em um dia de baixa liquidez antes do feriado de Natal, marcado por correção de ativos domésticos e aumento do apetite ao risco. O movimento ocorreu mesmo com a perda de fôlego das ações da Petrobras e da Vale, refletindo uma alta mais disseminada do mercado. O índice avançou 1,46%, aos 160.455,83 pontos, na máxima do dia e no melhor nível desde o último dia 15 (162.481,74 pontos).
Segundo Bruno Perri, economista-chefe e sócio-fundador da Forum Investimentos, o desempenho da Bolsa refletiu uma correção do “excesso de pessimismo” observado nos últimos dias, sobretudo em torno das variáveis eleitorais. Na avaliação dele, o cancelamento da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Metrópoles foi interpretado como um sinal de incerteza em relação à consolidação da candidatura do senador Flávio Bolsonaro à Presidência em 2026, o que contribuiu para melhorar o humor do mercado.
O otimismo do pregão passou praticamente intacto pela divulgação do IPCA-15, que veio em linha com as estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, apesar da aceleração frente a novembro. Conforme informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o indicador subiu 0,25% em dezembro, reforçando a leitura de que um eventual ciclo de afrouxamento monetário deve começar apenas a partir de março.
No cenário externo, as bolsas de Nova York operaram em alta, porém em magnitude inferior à observada no mercado brasileiro, em um dia de liquidez reduzida. Já no mercado local, a sustentação do Ibovespa ocorreu apesar da queda das ações da Petrobras, impactadas pela nova carteira teórica do índice, e do movimento de realização da Vale após os ganhos recentes.
Para Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos, o avanço do Ibovespa esteve ligado principalmente ao fluxo e rotação de portfólio, com recomposição de posições após perdas recentes. Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, acrescenta que o alívio político e a correção técnica em setores que haviam sofrido nos pregões anteriores ajudaram a sustentar a alta, mesmo com giro financeiro mais fraco, típico de véspera de feriado.
*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.
Dólar
Após sete pregões consecutivos de alta, o dólar voltou a perder força ante o real e reverteu partes dos ganhos desta segunda-feira, 22, em um movimento amplificado pela realização de dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) pelo Banco Central. De uma oferta total de US$ 2 bilhões, o BC vendeu US$ 500 milhões. A operação, que não estava atrelada à rolagem de vencimentos, representou uma injeção de liquidez no mercado, que costuma ser reduzida pela semana de feriado.
Com a máxima de R$ 5,5975, o dólar fechou o dia cotado a R$ 5,5314, em baixa de 0,95%, próximo da mínima de R$ 5,5304. O dólar futuro para janeiro caiu 1,21%, cotado a R$ 5,5300. A moeda americana acumula valorização de 0,03% na semana e de 3,69% no mês, mas perde 10,50% no ano.
Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 5,5843 e chegou a bater o maior pico em cinco meses, a R$ 5,6072. As remessas de lucros e dividendos ao exterior e um posicionamento mais defensivo por parte dos investidores justificaram a necessidade dos dois leilões de linha do BC para limitar uma valorização mais expressiva da moeda americana.
O índice DXY, que mede a tração da divisa americana ante seis moedas fortes, fechou o dia em baixa de 0,34%, aos 97,948 pontos, após mínima aos 97,852 pontos.
Para o head da mesa de câmbio e internacional da Mirae Asset Brasil, Jonathan Woo, o leilão parcial feito pelo BC demonstra que a autarquia está confortável com o colchão atual. “Talvez o mercado tenha esperado uma posição um pouco mais direta para tirar a pressão do câmbio”, observa. “O que deixou claro é que o BC estava confortável com a venda de US$ 500 milhões”, acrescenta Woo.
Embora o dólar tenha passado a seguir tendência de desvalorização nesta terça-feira, o fator externo teve influência minoritária para provocar reações expressivas na moeda, segundo operadores. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou hoje o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que registrou alta anualizada de 4,3%, acima do esperado pelo mercado.
Em âmbito doméstico, o destaque foi a divulgação do IPCA-15 de dezembro, com alta de 0,25%, na margem, e de 4,41% no ano – abaixo do teto da meta de inflação de 4,5% e em linha com o consenso do mercado. Para Woo, da Mirae Asset, porém, a prévia da inflação brasileira também não foi o suficiente para impulsionar uma queda mais expressiva do dólar. Segundo ele, o cancelamento da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao portal Metrópoles contribuiu para a perda de tração da divisa americana à tarde.
“O Bolsonaro ter cancelado a entrevista foi positivo porque existia uma preocupação em, eventualmente, o ex-presidente demonstrar um apoio mais explícito à candidatura do Flávio Bolsonaro, que ainda não é um nome muito forte”, observa. Com isso, os investidores adotaram posições defensivas para uma eventual piora cambial – o que não ocorreu.
A semana esvaziada com o feriado de Natal deve voltar as atenções dos investidores para os dados de pedidos de auxílio-desemprego dos Estados Unidos, a serem divulgados amanhã, às 10h30, pelo Departamento do Trabalho.
Com o Legislativo e Judiciário em recesso, a expectativa dos analistas é por movimentos políticos relevantes no início do ano que vem, com eventuais notícias sobre a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República. O próximo presidente do Federal Reserve, substituto de Jerome Powell, também estará no radar do mercado.
Juros
Em pregão de liquidez reduzida, os juros futuros intermediários e longos passaram a cair no período da tarde, após o cancelamento da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) propiciar a leitura de redução de volatilidade. Operadores destacam, ainda, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de dezembro abaixo do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), no acumulado em 12 meses – apesar de, pela manhã, o enfoque ter sido mais no qualitativo não tão benigno.
Como pano de fundo, um leilão de US$ 70 bilhões em T-notes de 5 anos com demanda abaixo da média fez os rendimentos dos Treasuries reduzirem ganhos, e o T-Bond de 30 anos inclusive passou a ceder. Além disso, a queda do dólar proporcionou alívio na curva a termo, ainda que o vértice curto tenha rondado a estabilidade.
Ao fim dos negócios, na antevéspera de Natal, a taxa de DI para janeiro de 2027 fechou em 13,84%, de 13,839% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,295%, de 13,354%, e o vencimento para janeiro de 2031 encerrou em 13,575%, de 13,650% ontem no ajuste.
A melhora dos ativos domésticos coincidiu com o cancelamento da entrevista de Bolsonaro ao Metrópoles, que ocorreu de última hora, sendo que sua defesa pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que o ex-chefe do Executivo seja internado nesta quarta-feira, 24, e realize uma cirurgia no feriado de Natal para tratar uma hérnia inguinal bilateral.
“Cancelou a entrevista para fazer cirurgia, então acho que não teve muito peso na precificação dos DIs, mas claro que numa possível entrevista, o mercado financeiro gostaria de ouvir da boca de Bolsonaro quem ele está apoiando, o que aumentaria o trading eleitoral”, comenta o diretor de análise da Zero Markets Brasil, Marcos Praça.
O head de renda fixa da Suno, Guilherme Almeida, aponta que a volatilidade da curva de juros recentemente se dá na esteira do anúncio de pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente. “Se há dois candidatos polarizados, com agendas diametralmente distintas, deve haver um impacto na economia dependendo de quem ganhar o pleito. Há preocupação com fiscal, sendo que governos de esquerda tendem a ter política fiscal muito mais frouxa, enquanto governos de direita, mais restritiva, de enxugamento da máquina pública e austeridade”, afirma.
Segundo Praça, o destaque desta terça-feira ficou para o IPCA-15 apontando a inflação finalmente dentro da banda de tolerância da meta do Banco Central. “É atípico para o Brasil, uma conquista para o BC.”
Houve ainda mínima nos contratos perto do fim do pregão, instantes após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informar que janeiro terá bandeira tarifária verde, retomando patamar não alcançado há oito meses. Segundo o economista Homero Guizzo, da Terra Investimentos, a bandeira verde em janeiro do IPCA era esperada e tem impacto de -11 pontos-base no IPCA.



