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Dólar fecha a R$ 5,58, pico em quase 5 meses, com remessas no radar

No sétimo pregão consecutivo de alta, o dólar seguiu a toada da manhã desta segunda, 22, e acelerou os ganhos ao longo da tarde. Com mínima de R$ 5,5182 e máxima de R$ 5,6072 – o dólar à vista fechou a sessão em alta de 0,99% cotado a R$ 5,5843 – maior valor de fechamento desde os R$ 5,5892 de 30 de julho.

Operadores afirmam que o aumento de remessas de lucros por multinacionais e saídas relacionadas ao pagamento de dividendos limitaram um recuo do dólar ante o real. No mês, o dólar acumula valorização de 4,68% ante o real, mas perde 9,64% no ano.

Companhias como Petrobras e Embraer estão entre as empresas que contribuíram para o movimento de saídas relacionadas a pagamentos de dividendos, segundo operadores. Outras empresas estrangeiras não listadas e que estão fora do radar também impulsionaram o movimento.

Pesou também sobre a divisa a cautela com o cenário eleitoral, sobretudo em relação à candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República. Mais cedo, o senador e postulante ao Executivo disse, em entrevista exclusiva à Reuters, ter uma agenda liberal para 2026: governo enxuto, corte de impostos, equilíbrio fiscal e retomada de privatizações, começando pelos Correios e, “se estudos indicarem”, por partes da Petrobras, que considera “complexa demais”.

Para o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, o mercado segue um movimento para fechar o ano mais protegido. “É um movimento de realocação de portfólio. Não vejo grandes mudanças no dólar até o dia 31. Reflete também, em parte, a expectativa de pouca mudança na política econômica em 2027, com os sinais do cenário eleitoral”, afirma.

Além do movimento de remessas e saídas de lucros, o head da Tesouraria do C6 Bank, Marcelo Muniz, põe no radar a entrevista que será concedida amanhã pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao portal Metrópoles. “O mercado anda comentando um pouco sobre como será a entrevista com o Bolsonaro. Houve um fluxo de generalizar a diminuição de posição, mas não vi muita conversa sobre a motivação”, observa.

O índice DXY, que mede o comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, fechou o dia em baixa de 0,32%, aos 98,599 pontos, após mínima aos 98,197 pela manhã.

Com o recesso do Congresso Nacional, o mercado deve voltar as atenções para os últimos indicadores da semana, como o IPCA-15 de dezembro e os dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, ambos a serem divulgados amanhã.

Ibovespa

O Ibovespa encerrou o pregão de hoje em queda moderada, em um dia de baixa liquidez e reavaliação de risco por parte dos investidores, que seguem cautelosos diante do noticiário fiscal e político, da reação da curva de juros e da forte alta do dólar.

Ao fim da sessão, o Ibovespa recuou 0,21%, aos 158.141,65 pontos, enquanto o dólar à vista subiu 0,99%, cotado a R$ 5,5843, em meia fatores de fluxo e aumento do prêmio de risco doméstico. O movimento da bolsa brasileira ocorreu na contramão das bolsas de Nova York, que operaram em alta ao longo do dia.

Segundo Pedro Cutolo, estrategista da ONE Wealth Management, o desempenho do mercado acionário refletiu a digestão de um conjunto de fatores. Entre eles, o desconforto com o cenário fiscal e a reação às mudanças nas expectativas para a trajetória da Selic, após a divulgação do relatório Focus.

Para Cutolo, embora o noticiário político também pese, o fiscal segue como o principal vetor de cautela, em um ambiente que tende a continuar marcado por volatilidade moderada.

No campo setorial, a alta das commodities deu algum suporte ao índice, mas foi insuficiente para compensar a fraqueza de setores mais sensíveis aos juros. As ações da Vale avançaram quase 3%, acompanhando a alta do minério de ferro, enquanto os papéis da Petrobras subiram em linha com a valorização de cerca de 2% do petróleo no mercado internacional.

De acordo com Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora, o movimento da bolsa hoje reflete um processo de “reavaliação de risco” por parte do mercado. “Os papéis ligados às commodities seguiram em alta. Entretanto, não foi suficiente para conseguir fazer com que o Ibovespa fosse para o terreno positivo. Os bancos, setor de construção civil, varejo negociados em baixa travaram a alta do mercado. E isso acontece porque o noticiário fiscal e político ainda continua muito complicado. O mercado está passando por um processo de reavaliação de risco”, afirmou.

Rubens Cittadin, especialista de renda variável da Manchester Investimentos, observa que o pregão também foi marcado por realização de lucros nos últimos dias do ano. Para ele, mesmo com o bom desempenho de empresas ligadas a commodities, o movimento não se espalhou para o restante do mercado, diante do aumento da sensibilidade aos juros e do ambiente de cautela.

O câmbio também exerceu papel relevante na dinâmica do mercado. Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, avalia que dezembro tem sido atípico neste ano. Segundo ele, o mercado segue atento às incertezas no cenário eleitoral, após declarações envolvendo a possível pré-candidatura de Flávio Bolsonaro em 2026, além das expectativas em torno da política monetária nos Estados Unidos. Ainda assim, Correia observa que o relatório Focus, ao indicar nova queda nas projeções de inflação, reforça a possibilidade de início de cortes de juros no Brasil em janeiro, cenário que pode favorecer a Bolsa mais adiante.

Juros

Os juros futuros ampliaram a alta na curva a termo nesta tarde, mediante desconforto fiscal, na esteira de incertezas sobre quais serão os candidatos nas eleições de 2026. Como pano de fundo, a abertura da curva dos Treasuries nos Estados Unidos e o dólar a R$ 5,58, também impulsionaram o movimento, porém a liquidez foi reduzida nesta segunda-feira de agenda esvaziada e com feriado na semana.

O contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 fechou com taxa de 13,84%, de 13,770%, e o para janeiro de 2029 avançou para 13,35%, de 13,237% na sexta-feira, enquanto o vencimento para janeiro de 2031 subiu para 13,655%, de 13,537% no ajuste anterior.

Destaque para notícias que apontam articulações para fortalecer a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a CNN, o entorno do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), abriu conversas para disputar a vice-presidência na chapa de Flávio, numa costura liderada pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab.

“Nessas últimas semanas o mercado financeiro vem acompanhando bastante esse desdobramento que temos com relação a Flávio Bolsonaro, Tarcísio, enfim. Antes do Flávio, havia uma propensão mais forte de um centro-direita ganhando força no ano que vem, mas na sequência do senador ganhando espaço nas pesquisas eleitorais, o mercado passa a colocar um pouco mais de ‘risco’ e tira um pouco a convicção de uma vitória de centro-direita”, comenta Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Asset. Ele acrescenta que cada vez mais haverá maior volatilidade por conta do tema eleitoral, e que nesta semana a liquidez tende a ser menor.

O economista Julius Hedegus Netto, da JHN Consulting, concorda: “Estresse com front fiscal delicado e incertezas sobre eleições” balizaram o comportamento da curva.

Passos menciona, ainda, que o mercado reverbera a comunicação mais dura do Banco Central (BC) recentemente. “Justamente por conta de ruído político, o BC ainda tende a ficar mais hawkish. E lá fora não tem nenhum grande direcionamento, com as taxas mais longas abrindo – sendo um movimento mais técnico, do que de fato, fundamento. E também tem um estresse no câmbio, pois sazonalmente há uma demanda mais forte por dólar”, complementa o analista.

Estadão Conteudo

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