Mix diário

Dólar sobe de olho em quadro eleitoral, mas fecha longe das máximas; Bolsa vira e cai no fim

Após se aproximar de R$ 5,50 pela manhã, o dólar desacelerou bastante o ritmo de alta ao longo da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 9, a R$ 5,4359, avanço de 0,28%. Uma vez mais, a taxa de câmbio oscilou ao sabor das notícias envolvendo a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à presidência da República e seus possíveis desdobramentos sobre a dinâmica da corrida presidencial em 2026.

Operadores atribuíram a arrancada do dólar pela manhã, com máxima a R$ 5,4958, à afirmação na segunda-feira de Flávio de que sua candidatura é “irreversível” e “não está a venda”, contrariando declaração anterior de que haveria um “preço” para retirada de seu nome do pleito. O senador também disse que tem a vantagem do sobrenome Bolsonaro ao comentar a possibilidade do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), concorrer ao Planalto.

“Ontem, o real até mostrou um pouco de fôlego com a perspectiva de que Flávio pudesse estar apenas fazendo uma jogada política e midiática e acabaria abandonando a candidatura. Mas hoje vemos um movimento de alta do dólar com o mercado avaliando que Flávio enfraquece a direita na disputa com Lula”, afirma Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos.

A febre compradora amainou no início da tarde com a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar para esta terça a apreciação do chamado projeto da dosimetria, que traz redução de penas para condenados por atos golpistas em 8 de janeiro. Ao beneficiar Jair Bolsonaro, que cumpre pena por tentativa de golpe de Estado, a aprovação do projeto pode pavimentar o caminho para negociações que resultem na retirada da pré-candidatura de Flávio.

A avaliação entre analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) é que a saída do filho de Bolsonaro evitaria a fragmentação do campo da direita e fortaleceria a candidatura de Tarcísio, que seria capaz de barrar a reeleição do presidente Lula.

O governador de São Paulo é visto por ala relevante do mercado como fiador de um ajuste fiscal estrutural a partir de 2027 – o que se traduziria em redução dos prêmios de risco embutidos nos ativos domésticos.

À tarde, Flávio afirmou a jornalistas, em Brasília, que há “alguma insegurança” nos partidos do Centrão sobre sua competitividade na corrida eleitoral, dada a avaliação que Tarcísio estaria mais bem posicionado. O senador disse ter conversado com o ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes antes de anunciar sua decisão de concorrer ao Planalto. Fontes afirmaram que Flávio deve tentar uma aproximação com o mercado financeiro após definição de nomes técnicos para a campanha.

“Infelizmente, a disputa política já está fazendo preço no câmbio. Temos também a pressão sazonal de remessas ao exterior”, afirma o diretor de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando, contudo, que o cupom cambial de curto prazo está comportado e “sem grandes alterações”, no nível de 5%. Movimentos de alta mais forte no cupom cambial, que mede o juro em dólar no Brasil, ocorrem em momentos de estresse e de menor liquidez no mercado spot.

Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes – operava em leve alta no fim da tarde, na casa dos 99,200 pontos, após máxima aos 99,312 pontos. O iene recuava cerca de 0,60% após o presidente do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês), Kazuo Ueda, minimizar os riscos inflacionários e acenar com ajuste gradual da taxa de juros. Divisas emergentes pares do real, à exceção do peso mexicano, perderam força, em meio a quedas do minério de ferro e do petróleo.

O provável desenlace da chamada “Super Quarta” – com decisão e política monetária aqui e nos Estados Unidos – tende a ser benéfico para o real, ao ampliar o diferencial entre juros interno e externo. A aposta consensual por aqui é de manutenção da taxa Selic em 15% ao ano. A dúvida é se o Comitê de Política Monetária (Copom) vai promover mudanças no comunicado e nas projeções de inflação que abram espaço para início de um ciclo de corte de juros em janeiro de 2026.

É dado como certo que o Federal Reserve vai anunciar na sexta-feira novo corte da taxa básica americana em 25 pontos-base. As atenções se voltam às projeções dos dirigentes do BC americano para atividade, inflação e juros, contidas no chamado “gráfico de pontos”, e à entrevista coletiva do chairman Jerome Powell – que podem trazer sinalizações sobre o espaço para o afrouxamento monetário adicional nos EUA.

Bolsa

Após a recuperação moderada do dia anterior, quando descontou apenas 0,52% vindo de uma queda livre de 4,31% na sexta-feira, o Ibovespa voltou ao campo negativo em boa parte desta terça-feira, mas na reta final chegou a encontrar fôlego para esboçar leve alta no fechamento. Contudo, no ajuste de encerramento, o índice neutralizou a recuperação, em leve baixa de 0,13%, aos 157.981,13 pontos, com a suspensão de aguardada sessão na Câmara em razão de um protesto do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que ocupou a cadeira da presidência.

Ele disse que dali não sairia, em manifestação contra o processo do qual é alvo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. A Polícia Legislativa foi acionada e a transmissão pela TV Câmara, também suspensa. Até então, o Ibovespa subia, tendo tocado máxima da sessão, no fim da tarde, com a sinalização de que tanto o Senado como a Câmara dos Deputados devem votar com celeridade o PL da Dosimetria – tido como chave para a eventual desistência do senador Flávio Bolsonaro de sua pré-candidatura à Presidência da República.

Além da cautela que costuma anteceder as decisões sobre juros nos EUA e no Brasil, como as da quarta-feira, os investidores ainda monitoram, com lupa, as idas e vindas em torno da pré-candidatura do senador fluminense à Presidência da República, que recolocou no foco o risco político antes mesmo de 2026 começar.

Com giro financeiro mais acomodado nesta terça-feira, mas ainda a R$ 25,0 bilhões, após a acentuação de volume observada nas duas sessões anteriores, o índice da B3 oscilou de 155.187,81 a 158.851,19 pontos, no fim da tarde, após ter operado em boa parte do dia com máxima que correspondia ao nível de abertura. No ano, o Ibovespa avança 31,34%, com leve perda de 0,69% no agregado de dezembro.

“Nervosismo e volatilidade têm prevalecido no mercado desde a sexta-feira, com o anúncio do Flávio Bolsonaro, na medida em que o mercado estava comprado em único nome, o de Tarcísio de Freitas”, resume Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. “Com dosimetria caso venha a ser aprovada no Congresso, quem sabe o Flávio não desiste de ser o candidato indicado pelo pai”, acrescenta.

“A gente não vê, no discurso, o Flávio colocar o Brasil numa rota de crescimento, atrair investimento estrangeiro ou tornar o ambiente doméstico mais favorável aos negócios. E são esses pontos que o Tarcísio consegue deixar mais claro, agradando muito ao mercado”, diz Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos.

Em busca de melhorar a própria imagem junto a agentes econômicos, Flávio Bolsonaro disse hoje ter conversado, antes mesmo de anunciar sua pré-candidatura, com o ministro da Economia do governo de Jair Bolsonaro, o economista liberal Paulo Guedes. “Busco pessoas de confiança que já foram testadas”, acrescentou o senador.

Em desdobramento político significativo, Hugo Motta decidiu pautar para esta terça-feira o projeto de anistia aos condenados por atos golpistas. A proposta que tramita em urgência, inicialmente chamada de PL (projeto de lei) da Anistia, passou a ser denominada PL da Dosimetria, pela relação com o tamanho das penas.

Por sua vez, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, disse no fim da tarde que, caso seja aprovado na Câmara hoje, o PL da Dosimetria pode ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na quarta-feira, e no plenário da Casa, na semana que vem – declarações que contribuíram para o Ibovespa mudar de direção e firmar sinal positivo na reta final desta terça-feira, até que veio a reviravolta em torno do protesto do deputado do PSOL.

“A questão do Flávio ainda está no centro da atenção. A insistência na candidatura reforça a perspectiva, o temor, de reeleição do atual governo, o que coloca em xeque eventual ajuste fiscal futuro, com efeito para inflação e juros altos por mais tempo. Ativos de risco sofrem com o aumento do pessimismo”, diz Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos.

“O risco fiscal segue como principal obstáculo para uma queda mais rápida dos juros, já que a dívida bruta deve se aproximar de 80% do PIB em 2027”, aponta Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos. “No campo político, a proximidade das eleições adiciona volatilidade. Movimentos preliminares de candidaturas já impactam a curva de juros futuros e o câmbio”, acrescenta.

Na B3, apesar da queda em torno de 1% para os preços do petróleo em Londres e Nova York, as ações de Petrobras mostraram resiliência (ON +0,63%, PN também +0,63%). Ação de maior peso na carteira Ibovespa, Vale ON perdeu força no ajuste final, pouco acima da estabilidade no fechamento (+0,06%). Mais cedo, o papel da mineradora contribuía para mitigar o efeito negativo das ações do setor financeiro, com Santander (Unit -2,13%) na ponta perdedora do segmento. No campo vencedor, destaque para Pão de Açúcar (+3,91%), Usiminas (+3,68%) e CSN (+3,31%). No lado oposto, Magazine Luiza (-4,93%), Vamos (-3,33%) e Cyrela (-2,56%).

“Cenário político ainda está volátil, e é cedo para falar sobre o que pode acontecer com a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, mas a possibilidade de o Federal Reserve voltar a cortar os juros dos Estados Unidos, na reunião de amanhã, continua a ser um driver de alta importante também para a Bolsa brasileira”, diz Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora.

Taxas de juros

Após mais uma manhã de volatilidade em que o ambiente político dominou as discussões nas mesas de renda fixa, os juros futuros negociados na B3 se afastaram dos piores momentos do pregão a partir do início da tarde da terça-feira. A melhora tímida coincidiu com declaração de Hugo Motta, de que vai pautar para esta terça-feira o projeto de lei da Dosimetria.

A leitura sobre a votação é positiva para o mercado financeiro porque adiciona mais fraqueza na já vista como frágil pré-candidatura ao pleito presidencial do senador Flávio Bolsonaro. No fim da segunda-feira, Flávio classificou sua participação nas eleições como “irreversível”, o que causou deterioração nos ativos na primeira parte da sessão. Pela tarde, a indicação sobre a proposta da anistia ajudou a moderar os ânimos. Mas o quadro segue bastante instável e o ‘trade’ político está ofuscando os fundamentos econômicos, que são propícios a uma queda dos juros.

Os agentes avaliam que Flávio não tem força suficiente para enfrentar o presidente Lula, que em eventual segundo mandato, tende a adotar política fiscal mais expansionista. Já sobre Tarcísio de Freitas, tido como o nome mais competitivo da direita e mais propenso a realizar um ajuste fiscal crível em 2027, a avaliação é que sua candidatura presidencial está em banho maria.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,754% no ajuste anterior para 13,76%. O DI para janeiro de 2029, que chegou a operar em máxima intradia de 13,485% perto da abertura, avançou de 13,143% no ajuste anterior para 13,19%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,465%, vindo de 13,393% no ajuste. A máxima deste vértice no dia foi de 13,715%.

“A resposta do Congresso e do centrão à candidatura de Flávio e a questão da dosimetria da pena são temas correlacionados, mas Flávio está segurando a postura de que vai ser candidato. A questão política é o único driver dos mercados locais hoje”, afirma Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus Research, para quem o mercado ainda avalia a possibilidade de que a concorrência do filho de Bolsonaro à presidência seja um blefe. “Estamos com a direita dividida”.

Economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa aponta que os DIs, assim como os demais ativos domésticos, melhoraram o comportamento após o anúncio da votação do projeto da Dosimetria, mas ressalva que o cenário de incertezas segue inspirando cautela. “A dosimetria favoreceria sim uma negociação com Flávio. Mas o cenário hoje está muito embaralhado. Tarcísio está de molho”.

Lá fora, a curva dos Treasuries operou sem direção única ao longo da sessão, às vésperas de decisão do Federal Reserve, que deve reduzir o juro básico americano em 0,25 ponto porcentual nesta quarta. O mercado também acompanhou sinais mistos do relatório Jolts, que mostrou abertura de 7,67 milhões de vagas em outubro, ante 7,658 milhões em setembro.

Segundo a BuysideBrazil, os dados dos últimos dois meses apontaram recuperação consistente do mercado de trabalho, com maior número de geração ante os meses anteriores, enquanto a proporção de vagas em relação a desempregados voltou a superar 1%. Por outro lado, o levantamento também trouxe sinais de moderação: “a taxa de demissões voluntárias caiu para 1,8% em outubro, enquanto as demissões aceleraram para o nível mais alto em mais de um ano”, observa a consultoria.

Por aqui, a expectativa majoritária para a decisão do Comitê de Política Monetária da quarta-feira é de manutenção da Selic em 15%, sem indicações explícitas sobre quando será o início do ciclo de cortes. “Se vai ter queda de juros à fora, isso deveria ser bom para o Brasil. Mas o BC não deve afrouxar o discurso”, diz Costa, da Empiricus.

Estadão Conteudo

About Author

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Você também pode se interessar

Mix diário

Brasil defende reforma da OMC e apoia sistema multilateral justo e eficaz, diz Alckmin

O Brasil voltou a defender a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) em um fórum internacional. Desta vez, o
Mix diário

Inflação global continua a cair, mas ainda precisa atingir meta, diz diretora-gerente do FMI

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva disse que a inflação global continua a cair, mas que deve