Uma viagem ao Peru e ao silêncio sagrado que habita dentro de nós
Viajar sozinha, às vésperas dos sessenta, é como abrir uma janela nova dentro da própria alma. O tempo já não corre com a pressa dos vinte, nem pesa como aos quarenta — ele apenas flui, maduro e sereno, como um rio que já aprendeu o caminho até o mar.
Há coragem em decidir partir sozinha para um lugar tão distante e místico. O Peru sempre me pareceu um chamado — não de aventura, mas de introspecção. Talvez porque, em certos momentos da vida, não se busca mais o mundo, mas a si mesma. A viagem tornou-se uma travessia interior: uma vontade silenciosa de provar que ainda é possível recomeçar, de ouvir o próprio coração sem o ruído das vozes alheias.
No Peru, entre montanhas que parecem guardar segredos dos deuses e mercados coloridos que cheiram a vida, há um reencontro silencioso com o que sempre esteve dentro: a coragem de ser inteira. Há algo de sagrado em caminhar sozinha por terras estrangeiras — cada passo é uma conversa com o passado, cada paisagem é um espelho do que ainda se pode ser. O vento dos Andes sussurra que a liberdade não tem idade, e o olhar das mulheres que cruzam o caminho confirma: viver é um ato contínuo de descoberta.
Em Machu Picchu, o coração parece bater em outra frequência. As pedras, dispostas com precisão impossível, contam histórias que o tempo não apagou. Não há pressa, nem ruído, nem distração — apenas o som do vento tocando as montanhas e a sensação de estar diante de algo que ultrapassa a compreensão. Diante daquelas construções, erguidas sem máquinas e sem pressa, percebe-se o poder do propósito, da fé e da harmonia com o que é natural.
Os incas, com sua sabedoria silenciosa, sabiam que o homem não domina a natureza — ele a serve. Cada terraço, cada pedra encaixada, cada canal de água revela um pacto de respeito entre o humano e o divino. Ali, compreende-se que a verdadeira força não está em transformar o mundo, mas em caminhar com ele. E entre os povos que ainda habitam aquelas montanhas, sobrevivem rituais antigos — oferendas à Pachamama, danças ao nascer do sol, cânticos que ecoam nos vales como preces de eternidade. As flores, as folhas de coca e o milho são entregues à terra em gestos de gratidão, e o fogo, aceso com reverência, parece conversar com o céu. Há algo de inexplicável nessas cerimônias: uma energia que ultrapassa o olhar e toca o espírito, lembrando que o sagrado nunca se perdeu, apenas se transformou. É impossível não sentir que algo desperta — uma lembrança ancestral de pertencimento, de comunhão com o invisível.
Em Cusco, o passado e o presente se tocam como o ouro e o barro. Nas ladeiras íngremes, o corpo cansa, mas a alma desperta. Nas feiras, o colorido dos tecidos e o aroma do milho lembram que a simplicidade pode ser sagrada. E entre uma ruína e outra, descobre-se que a solidão, quando escolhida, é fértil: faz brotar dentro da gente uma voz antiga, que ensina a ver o essencial.
Viajar sozinha é atravessar não apenas fronteiras, mas camadas internas. É reconhecer-se pequena diante das montanhas, mas também parte delas — feita da mesma matéria da terra e do vento. No silêncio das alturas, entende-se que a paz não está no que se conquista, mas no que se aceita.
Ao retornar, traz-se um novo olhar: o das mãos que aprenderam a não reter, o do coração que descobriu que nada é tão grandioso quanto o simples ato de existir em harmonia. O Peru fica, de algum modo, dentro da gente — como uma lembrança que não se apaga, um altar invisível onde repousa a gratidão por tudo o que é vivo e verdadeiro.
E, por fim, fica também o reconhecimento àqueles que tornaram essa jornada possível. A empresa @lelo.tour, de Cuiabá, cuidou de cada detalhe com atenção e carinho, transformando o sonho em realidade. Há viagens que nos levam para longe; esta, conduzida com tanto zelo, me levou para dentro — e é lá que ela continua, viva e serena, como o eco das montanhas que nunca se esquecem.
Por tudo isso, visitar o Peru e seus inúmeros sítios arqueológicos é mais que uma viagem: é um encontro espiritual com o tempo e com a própria essência humana. Cada ruína, cada trilha, cada nascer do sol sobre os Andes desperta algo adormecido em nós. É uma experiência que deveria fazer parte da vida de todos — não apenas como destino turístico, mas como caminho de alma, onde se aprende a ouvir a sabedoria antiga da terra e a redescobrir, dentro de si, o verdadeiro sentido de existir.















@aeternalente


