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Dólar vai a R$ 5,35 com ajustes em dia de liquidez baixa por feriado nos EUA

Após três pregões consecutivos de queda, em que acumulou baixa de 1,24%, o dólar exibiu alta moderada nesta quinta-feira, 27, e voltou a fechar no nível de R$ 5,35. Operadores afirmam que a perda de força de moedas emergentes pares do real no exterior abriu espaço para realização de lucros no mercado local, em sessão de liquidez bem reduzida com a ausência de negócios nas bolsas em Nova York, fechadas em razão do feriado de Ação de Graças nos EUA.

Fatores técnicos como a rolagem de contratos futuros perto da virada do mês e ajustes de posição para a disputa, na sexta, pela formação da última taxa ptax de novembro também influenciaram a dinâmica de negócios. A divulgação de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e falas do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foram monitoradas, mas sem impacto relevante na formação da taxa de câmbio.

Com máxima de R$ 5,3587 à tarde, em paralelo às mínimas do Ibovespa, o dólar à vista fechou a R$ 5,3521, em alta de 0,33%. A divisa acumula baixa de 0,91% na semana e de 0,52% em novembro, após avanço de 1,08% em outubro.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, atribui a alta do dólar “em grande parte a um movimento de correção técnica”, uma vez que não houve divulgação de indicadores capazes de ter um “impacto significativo” na taxa de câmbio.

“A liquidez é menor com o feriado nos Estados Unidos. Temos um pouco de aversão ao risco, por conta da questão política e fiscal, mas acho que o mercado passa mais por uma correção nesta quinta”, afirma Quartaroli, ressaltando que as falas de Galípolo à tarde foram “condizentes” com as últimas comunicações do BC. “A sinalização é de manutenção da Selic pelo menos até o fim do ano, embora haja números melhores de inflação e uma moderação do mercado de trabalho”.

Dados do Novo Caged, divulgados à tarde pelo ministério do Trabalho e Emprego, mostraram criação de 85.147 vagas formais em outubro, bem abaixo do número de setembro (213 mil) e da mediana das estimativas de analistas ouvidos pela pesquisa Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de 120.000 vagas. O saldo de janeiro a outubro deste ano é positivo em 1.800.650 postos formais, um resultado 15,3% menor do que o observado no mesmo período de 2024.

Em evento da Itaú Asset, o presidente do BC reiterou a busca pela convergência da inflação à meta, de 3%. Ele ressaltou que a política monetária tem surtido efeito, mas “de uma maneira bastante lenta”. A economia, observou, mostra resiliência diante do nível de restrição monetária imposto pelo BC, que não deve “se emocionar” com dados específicos.

Em relação à possibilidade de uma saída mais expressiva de dólares no país neste fim de ano, por antecipação de remessas de dividendos para fugir de taxação incluída no projeto de ampliação da isenção do Imposto de Renda, ele afirmou apenas que a autarquia monitora o mercado. Segundo Galípolo, a preocupação do ponto de vista da política cambial é que a nova regra da tributação de dividendos seja compreendida por todos os agentes.

“O BC tem rolado as linhas para dar liquidez ao mercado e pode oferecer linhas novas ao longo de dezembro se houver uma demanda maior por divisas”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressaltando que a taxa Selic elevada inibe apostas contra o real, apesar do aumento dos ruídos políticos e fiscais.

Bolsa

No Dia de Ação de Graças nos EUA, sem negócios nos mercados de Nova York – e com sessão curta na sexta-feira por lá -, o Ibovespa refletiu a cautela e a queda de fluxo que costumam pautar o entorno do longo feriado americano. Assim, com giro muito limitado nesta quinta-feira, 27, a R$ 12,4 bilhões, o índice conseguiu preservar a linha dos 158 mil durante toda a sessão, tocada pela primeira vez em fechamento no dia anterior.

Hoje, com oscilação restrita entre 158.167,08 e 158.863,96 nos extremos do dia, encerrou em baixa de 0,12%, aos 158.359,76 pontos. Na semana, em quatro sessões, ainda preserva ganho de 2,32%, tendo avançado entre a segunda e a quarta-feira, sem interrupção. No mês, o Ibovespa ainda sobe quase 6% (+5,90%), colocando o ganho do ano a 31,66%.

Na mínima do dia, pouco antes das 16h, o Ibovespa mostrou baixa ainda leve, de 0,24%, após ter chegado a zerar as perdas e a testar alta, no começo da tarde. A piora na Bolsa, do meio para o fim da tarde, ocorreu em paralelo a ajuste também na curva do DI, durante fala do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento na Itaú Asset Management, com declarações sobre juros e a perspectiva para a política monetária consideradas hawkish.

Na B3, Petrobras, na máxima do dia no fechamento em ambas as ações (ON +0,80%, PN +0,53%), à espera do plano de negócios 2026-2030 que será conhecido nesta noite, contribuiu para impedir queda mais acentuada do Ibovespa. O fechamento das ações de bancos, por outro lado, foi majoritariamente negativo, com Bradesco (ON -0,30%, PN -0,20%) e Santander (Unit +0,09%) perdendo fôlego na reta final.

Principal ação do Ibovespa, Vale ON também mostrou ajuste discreto, em baixa de 0,38% no fechamento. Na ponta ganhadora, CVC (+6,86%), Pão de Açúcar (+3,24%) e IRB (+2,94%). No campo oposto, Hapvida (-5,30%), Azzas (-2,33%) e MBRF (-2,19%).

No evento da Itaú Asset, Galípolo reconheceu que o cenário tem se movido na direção que a autoridade monetária espera, mas talvez não tão rápido quanto o desejado. “Os dados novos continuam apontando nessa direção que a gente comentou, de que a política monetária está sim funcionando, mas funcionando de maneira bastante lenta, em uma economia que vem apresentando resiliência para o nível de restrição que a gente colocou na política monetária”, disse.

“Dia foi de quase zero a zero para o Ibovespa, com volume baixíssimo devido ao feriado nos Estados Unidos, que deixou o mercado daqui bem de lado apesar de alguns dados disponíveis na sessão para orientar os negócios. Os investidores optaram pela cautela, o que deve se repetir na sexta, na ausência de notícias e de surpresas que tragam alguma volatilidade”, diz Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora.

Juros

Em um dia sem a referência dos mercados americanos, fechados devido ao feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, declarações consideradas mais duras do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ditaram a dinâmica dos juros futuros negociados na B3 no pregão desta quinta-feira, 27.

Toda a extensão da curva futura operava em queda em relação aos ajustes, apoiada também em números mais fracos do mercado de trabalho. Mas as taxas curtas e intermediárias passaram a subir após Galípolo esfriar o otimismo sobre a proximidade de cortes da Selic. “Ele não deu ‘downplay’ na possibilidade de corte em janeiro, mas em cortar juros apenas porque os dados de curtíssimo prazo vieram melhores”, afirmou Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,523% no ajuste antecedente para 13,550%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 12,71% no ajuste anterior para 12,72%. O DI para janeiro de 2031 seguiu em declínio, e passou de 13,024% no ajuste para 13,010%. O vértice longo operou abaixo de 13% em boa parte da sessão, mas o patamar não se sustentou.

Ao participar de evento da Itaú Asset, o comandante do BC reiterou que a política monetária está funcionando, mas de “forma lenta em economia resiliente”, que a autarquia não pode se “emocionar” com um dado específico, e que os juros serão mantidos em nível elevado pelo tempo necessário, além de reforçar o compromisso do BC com o centro da meta inflacionária, de 3%. “Os dados continuam mostrando o que o Banco Central esperava, e novos dados não mudam a direção da política monetária”, disse.

Para Galípolo, o mercado de crédito brasileiro continua crescendo “de maneira bastante surpreendente”, tendo em vista o nível atual do juro básico, de 15%, o que demanda “vigilância e conservadorismo” na condução da política monetária.

As afirmações vieram em seguida à publicação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de outubro, que frustrou as expectativas ao mostrar que o mercado formal gerou 85.147 vagas no mês passado, depois de 213.002 postos em setembro. O número ficou abaixo da estimativa mediana do Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado de 120.000 vagas celetistas.

“Como disse o ex-presidente do BC Roberto Campos Neto em situação semelhante no passado: ‘O Banco Central tem um plano de voo e não pode alterá-lo a cada dado de alta frequência que vem melhor que as expectativas'”, disse Lima, para quem este foi o recado que Galípolo quis passar.

Na última terça, o diretor de Política Monetária, Nilton David, provocou efeito inverso na curva, quando afirmou que uma nova alta da Selic não é mais contemplada no cenário-base da instituição, e que agora a questão é entender quando se dará o processo de afrouxamento. “Nilton já é ‘dove’ normalmente e não deu nenhum sinal. O pessoal que está muito aplicado e quis se animar”, afirmou um economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez avalia que as declarações de Galípolo foram mais relevantes do que o Caged, que foi um “não evento” na sessão desta quinta. “Nada de novo, mas ele deu um ‘downplay em fatores que justificariam um arrefecimento, e manteve o firme compromisso da autoridade monetária com o regime de metas de inflação”, comentou.

Sobre o Caged, Sanchez aponta que o período recente foi marcado por desalinhamento entre o desempenho do saldo de vagas celetistas e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que mede a taxa de desemprego no País. O dado mais recente indicou desocupação de 5,6% no trimestre terminado em setembro, menor patamar da série histórica do IBGE.

Estadão Conteudo

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