O dólar fechou em alta firme nesta sexta-feira, 21, dia marcado por perdas expressivas de divisas emergentes, em especial latino-americanas, em meio ao tombo do petróleo. Parte da depreciação do real é atribuída à incorporação, apenas nesta sexta, do pico de aversão ao risco no exterior observado na quinta, após a divulgação do relatório de emprego (payroll) dos EUA de setembro, quando o mercado local permaneceu fechado pelo feriado do Dia da Consciência Negra.
No momento de maior estresse, entre o fim da manhã e o início da tarde, o dólar não apenas ultrapassou o nível de R$ 5,40 como tocou R$ 5,43. A moeda americana arrefeceu os ganhos no restante do dia, com realização de lucros e melhora do ambiente externo, com avanço de mais de 1% das bolsas em Nova York. Com as atenções voltadas ao exterior, ficou em segundo plano o anúncio ontem pelo presidente Donald Trump de remoção das tarifas de 40% à importação a produtos brasileiros, em especial café e carne.
Com máxima de R$ 5,4317, o dólar à vista encerrou em alta de 1,18%, a R$ 5,4015 – maior valor de fechamento desde 17 de outubro (R$ 5,4055). A moeda termina a semana com ganhos de 1,97% em relação ao real e passou a apresentar variação positiva no mês (0,39%). No ano, as perdas do dólar, que chegaram a superar 14%, agora são de 12,60%.
O real, que costuma apresentar desempenho superior a de pares em momentos de apetite ao risco, amargou a maior queda entre as principais divisas emergentes, seguido de perto pelo peso colombiano. A apreciação do iene pode ter ensejado também desmonte de operações de carry trade, abalando moedas da América Latina. Operadores afirmam que o real tende a ficar mais vulnerável no fim de ano com o aumento de remessas de lucros e dividendos ao exterior.
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que o ambiente é de muita incerteza em meio à divulgação de dados represados da economia americana, em razão do shutdown de 43 dias. “O Federal Reserve está pilotando de certa forma no escuro e há muita dúvida se vai haver um corte de juros em dezembro”, diz Velloni, ressaltando que houve ontem tombo expressivo das bolsas americanas.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY superou o nível dos 100,000 e operava próximo à estabilidade no fim da tarde, ao redor dos 100,180 pontos, encerrando a semana com ganhos de quase 1%.
Ontem, o payroll revelou criação de 119 mil vagas em setembro, bem acima da mediana de Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de 51 mil. Houve, contudo, revisão para baixo na criação de postos de trabalho em agosto (de 22 mil para 4 mil) e de julho (de 79 mil para 72 mil). Além disso, a taxa de desemprego subiu de 4,3% para 4%, quando a expectativa era de manutenção.
Na última quarta-feira, o Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA informou que não vai divulgar o payroll de outubro. Já o relatório referente a dezembro será divulgado em 16 de dezembro, após, portanto, do derradeiro encontro de política monetária do Federal Reserve no ano, nos dias 9 e 10.
O presidente do Fed de Nova York, John Williams, abriu a porta para continuidade do afrouxamento monetário em dezembro, ao afirmar que vê, no curto prazo, “espaço adicional” para um ajuste na taxa básica de juros. Monitoramento do CME Group mostrou que as chances de corte de 25 pontos-base do juros em dezembro passaram a ser majoritárias, por volta de 70%.
O economista-chefe da Monte Bravo corretora, Luciano Costa, ressalta que a fala de Williams tem peso relevante, dado que o dirigente é muito próximo do presidente do Fed, Jerome Powell. Ele observa, contudo, que o comitê de política monetária do BC americano parece dividido em relação aos próximos passos, como revelou a ata do encontro do Fed no fim de outubro, divulgada na última quarta-feira.
“A fala de Williams foi mais dovish, com ênfase na deterioração do mercado de trabalho. As chances de um corte de 25 pontos-base em dezembro aumentaram. Mas o tom do ata e de vários dirigentes sugerem que o processo de afrouxamento monetário está muito perto do fim”, afirma Costa, que vê um esgotamento da tendência de perda de força global do dólar. “As incertezas sobre a economia americana aumentaram e o ambiente já não é tão favorável para divisas emergentes”.
Bolsa
O Ibovespa encerrou a sexta-feira, 21, volta do feriado da Consciência Negra, em queda, em um pregão de correção influenciado pela aversão ao risco global já vista na véspera, quando Wall Street sofreu fortes perdas em meio às dúvidas sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos, após o payroll de setembro – o primeiro desde o fim do shutdown – , e ao temor de uma possível bolha em ativos de inteligência artificial. No front doméstico, incertezas em relação ao risco fiscal também pesaram sobre a bolsa.
Ao longo do dia, o índice oscilou em torno dos 154 mil pontos, com a mínima do dia a 153.570,94 (queda de 1,16%), e ensaiou alguma recomposição no início da tarde, acompanhando a melhora das bolsas de Nova York, mas sem força para retomar o rali recente que levou o mercado brasileiro a máximas históricas. O Ibovespa fechou aos 154.770,10 pontos, queda de 0,39%. Na semana, acumulou variação negativa de 1,88%.
Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, houve um “catch-up” em relação ao tombo de ontem em Wall Street, e o peso de Petrobras, que acompanha a queda do petróleo no exterior. Ele lembra que, mesmo após a realização, o ano ainda é de forte valorização para os ativos de risco. “A bolsa americana subiu cerca de 15% no ano, o Ibovespa mais de 30%. Investidores que procuravam motivo para realizar encontraram na combinação de juros ainda elevados mais discussão de bolha de IA a saída perfeita para ajustar posição na reta final do ano”, afirmou.
Spiess nota, porém, que o ambiente global ficou menos carregado após fala do presidente do Fed de Nova York, John Williams, que reabriu as apostas em pelo menos mais um corte de juros em dezembro, depois de uma combinação incômoda de ata considerada dura do Federal Reserve e dados mistos do payroll, prejudicados pelo shutdown nos Estados Unidos.
Na quinta, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que foram criadas 119 mil vagas em setembro, bem acima da mediana de Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de 51 mil. Ao mesmo tempo, houve revisão para baixo na criação de postos de trabalho em agosto (de 22 mil para 4 mil) e de julho (de 79 mil para 72 mil). Além disso, a taxa de desemprego subiu de 4,3% para 4%. A expectativa era de manutenção a 4,3%. Os dados constam no relatório conhecido como payroll.
Pedro Cutolo, estrategista da ONE Wealth Management, avalia que o mercado brasileiro tentou, ao longo do pregão, equilibrar a repercussão positiva da ampliação da lista de produtos brasileiros isentos das tarifas americanas com o mau humor externo e o receio em torno dos múltiplos das empresas ligadas à IA. Para ele, os dados de emprego nos EUA vieram “um pouco mais para o lado hawkish do que dovish”, mantendo o mercado sensível a qualquer sinal do Fed. Ainda assim, Cutolo vê espaço para oportunidades na Bolsa brasileira.
“Estamos digerindo o noticiário como um todo. Não é apenas um dia de ajustes técnicos. Ajustes sempre existem, o mercado sempre se acomoda às novidades. Mas ainda considero um momento bom, de oportunidade para o Brasil”, afirma, lembrando que, apesar de a Bolsa parecer cara em alguns recortes históricos, segue barata em relação ao mercado americano.
Juros
Em um pregão de liquidez reduzida após a volta do feriado da Consciência Negra e marcado por firme elevação do dólar, os juros futuros negociados na B3 oscilaram entre leves altas e quedas, mas terminaram o dia praticamente no zero a zero. As taxas curtas e intermediárias chegaram a subir um pouco mais, alinhadas ao fôlego da moeda americana no meio da tarde, mas a ascensão foi perdendo força rumo à etapa final.
A dinâmica benigna dos Treasuries, que operaram em recuo no dia com a volta à mesa das apostas de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro, acabou predominando sobre as taxas futuras.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 13,631% no ajuste de quarta-feira para 13,615%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,882% no ajuste anterior para 12,865%. DI para janeiro de 2031 marcou 13,185%, vindo de 13,229% no ajuste.
“Houve uma falta de liquidez no dia e o mercado ficou muito apertado. Uma pequena mudança nas perspectivas lá fora gerou um comportamento diferente da curva no dia”, diz Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, destacando que, na primeira etapa do pregão, as taxas parecem ter seguido mais a redução dos juros dos Treasuries, após a mudança da visão do mercado sobre os próximos passos do Fed.
Em evento mais cedo, o presidente da distrital de Nova York, John Williams, disse que o progresso rumo à meta de inflação de 2% “estagnou temporariamente” e sinalizou que ainda vê “espaço para um ajuste adicional no curto prazo” nos Fed Funds.
“Depois desse pronunciamento, a probabilidade de corte passou de 30% para 70%, o que foi um vetor para todos os preços aqui”. Também como possível influência de baixa sobre as taxas, Marianna cita a nova lista de exceções à tarifa adicional de 40% dos Estados Unidos a pouco mais de 200 produtos brasileiros, publicada ontem.
Segundo cálculos da Broadcast sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, 55,4% da pauta de exportação nacional está livre da sobretaxa – o equivalente a US$ 22,381 bilhões dos US$ 40,369 bilhões embarcados para os EUA em 2024.
Pelas estimativas do Goldman Sachs, considerando também as isenções tarifárias recíprocas de novembro – de 10% no caso do Brasil – a alíquota dos EUA sobre o País diminuiu de 30,2% para 29,2%. Após o corte adicional de ontem, houve redução de mais 3,7 pontos, para 25,5%.
“O Brasil se saiu bem da situação do tarifaço”, diz Marianna, da Mirae. “O impacto sobre a balança comercial foi menor do que se imaginava, e a isenção das tarifas tem impacto positivo no câmbio no médio prazo, no comportamento da inflação e também na atividade econômica”, disse.
Outra frente monitorada pelos agentes na sessão, ainda que sem efeitos claros sobre os DIs, foi a tensão entre Executivo e Senado, depois de o presidente Lula ter indicado o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Como represália, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), retomou uma “pauta-bomba” que pode custar até R$ 21 bilhões aos cofres públicos.
O projeto para contratação e aposentadoria de agentes de saúde deve ser apreciado na próxima terça-feira. “Esse movimento reforça o nível de fricção institucional e a fragilidade da coordenação do governo no Congresso”, avalia a BuysideBrazil em relatório. O mercado ainda aguarda, embora sem grandes expectativas, o relatório bimestral de receitas e despesas do governo federal, agendado para esta sexta e não divulgado até o fechamento do mercado.
No cômputo semanal, a inclinação da curva teve pouca alteração. Considerando níveis de fechamento da última sexta-feira, a taxa projetada para janeiro de 2027 caiu 1 ponto-base, e o DI de janeiro de 2029 e do primeiro mês de 2031 subiram 3 pontos-base e 1 ponto-base, respectivamente.



