Uma Vida em 7 Dias é um filme que se aproxima de nós como quem toca um fio sensível da alma.
A narrativa segue a jornada de uma mulher que vive imersa em rotinas rígidas, metas profissionais e convenções sociais que ela nunca ousou questionar. Sua existência, antes mecânica e silenciosa, gira em torno da ambição de alcançar um cargo mais alto — símbolo de prestígio, reconhecimento e de uma vida que ela imaginava ser a ideal. Por anos, ela persegue essa ascensão como se ali estivesse o sentido que lhe faltava, como se o aplauso do mundo pudesse preencher o vazio que ela mesma não compreendia.
No entanto, quando finalmente conquista o posto tão desejado, ele se revela estranho, quase incolor. Não há festa íntima, não há brilho nos olhos: apenas um cansaço que ela não sabe nomear. Esse momento, aparentemente triunfante, já anuncia a fissura que se abrirá quando recebe a notícia da proximidade da morte.
É no choque da finitude que as camadas artificiais de sua vida começam a se desprender, expondo uma verdade que ela sempre temeu enxergar: enquanto corria atrás de metas alheias, abandonou suas próprias vontades, silenciou seus desejos e esqueceu de viver. O cargo maior, tão idealizado, perde completamente o sentido diante da urgência do sentir.
O filme conduz essa transformação com delicadeza visual. A fotografia inicia em tons frios, quase austeros, como se a vida da protagonista fosse um corredor estreito. À medida que ela reencontra sua essência e passa a valorizar o instante, os enquadramentos se abrem, a luz se suaviza, as cores se aquecem. Cada imagem parece respirar junto com ela, revelando que a liberdade, quando admitida, ilumina até o que antes estava apagado. A trilha sonora acompanha essa travessia de forma contida e sensível: ora sussurra, ora silencia, permitindo que o espectador escute o rumor íntimo das emoções que brotam no despertar tardio da personagem. As interpretações sustentam o coração do filme. A atriz principal, a maravilhosa Angelina Jolie, entrega uma atuação cheia de humanidade, mostrando o choque entre o medo da despedida e o desejo recém-descoberto de viver de verdade. Em seus olhos habitam perguntas que atravessam todos nós: O que tenho feito com meus dias? O que deixei de sentir? O ator que lhe acompanha funciona como um contraponto suave,oferecendo presença e simplicidade, como se representasse o mundo que ela começa, enfim, a enxergar.
Ao unir vida e morte no mesmo fio, o filme revela um ensinamento profundo: não vivemos quando apenas cumprimos expectativas; vivemos quando nos permitimos ser. A protagonista, ao abandonar a busca por metas vazias, encontra a beleza que sempre lhe escapou. A vida deixa de ser um roteiro e volta a ser um encontro, com os outros, com os afetos, consigo mesma.
No final, Uma Vida em 7 Dias não é uma história sobre perder tempo, mas sobre reencontrá-lo. É um lembrete de que ainda há tempo, enquanto respiramos, para devolver cor aos dias, libertar desejos, manifestar opiniões e nos pôr inteiros diante da existência. Um convite para que deixemos de apenas existir e passemos, enfim, a viver.
Vale a pena assistir.
Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial



