DESTAQUE 4 Meio Ambiente

Quilombolas de Mato Grosso e do Brasil pautam práticas tradicionais como soluções climáticas e lançam Manifesto Científico na COP30

Por Andrés Pasquis – Instituto Baquité Quilombola

Em meio aos debates globais sobre o futuro do clima, as vozes das comunidades quilombolas ecoam na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre até o dia 21 de novembro, em Belém do Pará.

A engenheira agrônoma e pesquisadora em Sistemas Alimentares, Fran Paula, quilombola de Mato Grosso, junto com outras mulheres quilombolas e afrodescendentes, pautam a justiça climática a partir da perspectiva dos territórios afrodescendentes em várias atividades. Essa participação será tanto na programação oficial da Blue Zone da COP30, quanto na Cúpula dos Povos, espaço de articulação dos movimentos sociais.

Assim, no dia 18 de novembro, das 16h às 17h, Fran, representando o Instituto Baquité Quilombola, a CONAQ e a Aliança Científica Antirracista, participará com pesquisadores indígenas, afrodescendentes e quilombolas, de duas agendas fundamentais no pavilhão dedicado a debates sobre os sistemas alimentares saudáveis e justiça climática – Pavilhão Food Roots and Routes na zona azul.

De um lado, um evento chave na programação oficial da COP30: “Sistemas Agrícolas Tradicionais Quilombolas: Ecologia Ancestral para a Justiça Climática”. O debate na Blue Zone reafirmará a importância de disputar as narrativas científicas sobre o futuro da alimentação, do clima e da terra, levando perspectivas que partem da ancestralidade e das lutas locais por soberania alimentar.

“Nosso principal ponto nesta COP é compartilhar como as práticas quilombolas promovem a preservação e manejo sustentável e ecológico. Essas iniciativas locais podem ser reproduzidas a nível global com apoio e financiamento adequados, o que constitui também a responsabilidade de uma reparação histórica e reconhecimento,” destaca a pesquisadora.

Por outro lado, o lançamento do Manifesto da Aliança Científica pelos Sistemas de Agricultura e Alimentação Tradicional. O manifesto é um chamado coletivo que reafirma: não há justiça climática sem a transição para sistemas alimentares saudáveis, sustentados pelos povos que há séculos cuidam da biodiversidade. É um chamado coletivo a defender esses modos de plantar, colher, cozinhar e viver, que defendem o futuro do clima. É um convite para fortalecer essa agenda construída por pesquisadores e guardiões de saberes indígenas, quilombolas e afrodescendentes.

A pesquisadora reforça que a agenda quilombola é urgente. Apesar de a COP30 ser sediada no Brasil, com foco nos biomas cruciais, Fran Paula aponta para uma baixa inclusão de movimentos sociais, o que torna a participação das mulheres quilombolas ainda mais relevante. “Levamos a mensagem clara: sem Justiça de Gênero e sem Justiça Racial, não há Justiça Climática,” afirma.

Essa pauta está intrinsecamente ligada à reparação histórica e ao reconhecimento da agência quilombola. A principal demanda do Movimento Quilombola é defender os Territórios Afrodescendentes como Territórios Biodiversos que promovem Justiça Climática – defesa comprovada pelos dados que mostram que os menores índices de desmatamento no Brasil concentram-se justamente nas áreas Indígenas e Quilombolas.

“Pensar na transição ecológica é pensar em reparação histórica de acesso à Terra e Territórios, que começa com o reconhecimento dessas práticas e com a inclusão da regularização e titularização dos Territórios Indígenas e Quilombolas dentro da Política Climática do país,” defende Fran.

A presença quilombola na COP30 serve também como denúncia. Fran Paula ressalta que, embora os territórios sejam fortes guardiões ambientais, eles são vulnerabilizados e ameaçados pelo modelo de desenvolvimento capitalista, o agronegócio e a exploração de biomas. A degradação, os incêndios e o avanço de grandes projetos, como a Ferrogrão em Mato Grosso, são exemplos de racismo ambiental. Ao denunciar essas violações, as mulheres quilombolas reafirmam a importância de proteger os espaços que são soluções climáticas.

O convite final do Manifesto é para a ação coletiva: “Defender nossos modos de plantar, colher, cozinhar e viver é defender o futuro do clima.”

Foto: Reprodução/Divulgação

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