Opinião

Volto já

O destino é a Chapada dos Guimarães. O único apelo capaz de mover a montanha. Isso porque Maomé mandou.

O recado foi curto e grosso: “O olho do dono é que engorda o gado”. Que gado, senhor? O que tenho e me leva para lá é o cerrado. Nativo. Sem intervenções, na medida do possível.

Se não deu para chegar na COP30 em Belém, o Jogo do Contente do livro Polylianna, escrito por Eleonor H. Porter, em 1913, me convenceu a explorar, 6 anos depois da última viagem ao Centro-Oeste, o bioma que tanto amo e, mesmo à distância, faço o que posso para preservar. E não é fácil. Falo do mais castigado e desmatado no momento.

Para começar, diz que atualmente tudo tem que ser previamente planejado. Eu? Considero fora de questão fazer um roteiro pré-definido, com agendas e visitas checadas e verificadas antecipadamente pela internet.

Ora bolas, aí para que viajar se já fui virtualmente? É um tédio que não deixar espaço ao acaso. Ele, que sempre me levou a lugares incríveis e proporcionou lembranças inesquecíveis.

Sei que não é o normal na vida dos turistas usuais. Porém, conheço meus movimentos. Estou cansada de fazer muitos planos. Executá-los fielmente não faz parte do meu show. Sim, sempre, eu disse sempre, dá errado!

Já escrevi, anos atrás, um texto intitulado “Turista ou viajante” explicando que me encaixo, até pelo karma que rege meus movimentos, no segundo grupo. Quando planejo tudo com antecedência, não vejo razão para me movimentar se já viajei preparando o passo a passo do percurso. Imagens, sons, programações… Só os cheiros são inalcançáveis. Por enquanto.

Ir só para executar o planejado não me pega por convicção e não funciona na prática. O que confirmo a cada tentativa de seguir as normas vigentes. Dá errado!

O único planejamento quase infalível que os deuses me permitem é o que me leva à Marquês de Sapucaí ano após ano. Lá supero o mau tempo, as mudanças de roteiro provocadas pelas alterações de regulamentos e das saídas e passagens que me levam da pista à torre de transmissão.

Sou abusada. Não me satisfaço com um único enquadramento. Quero o perto/pista quase aéreo/torre. Faço desse percurso um desafio físico e mental fotografando para o Diário de Cuiabá e parceiros há mais de 20 anos os desfiles carnavalescos.

Entre tombos, esbarrões e percalços (colecionados da concentração até a dispersão na pista em que se realiza o maior espetáculo de cultura popular do planeta no sambódromo carioca), coleciono cada imagem resguardada no acervo carnevalerio.com. Vem, carnaval! O que me move? É a paixão.

Que não é a mesma que me fez sair do Rio justo no dia em que a Liesa, a Liga das Escolas de Samba, anunciou a abertura do credenciamento dos desfiles do carnaval 2026.

Aí está uma boa razão para voltar. A passagem está comprada para dois dias antes do minidesfile que marcará as comemorações do Dia Nacional do Samba, entre 28 e 30 de novembro (lembrando que dia 29 é a final da Libertadores e o Flamengo enfrenta o Palmeiras na… Argentina!)

Melhor assim, vai que role um déjà vu e ocorra o mesmo fenómeno sísmico existencial, como na primeira vez que fui a Cuiabá. Jurei que ia ficar três meses por lá e foram mais de vinte anos de amor desenfreado!

Sim, comi cabeça de pacu, virei cidadã cuiabana e mato-grossense e levei décadas para conseguir transferir minha base de volta ao Rio. E olha que não faltaram tentativas! Voltei por amor quando vi que era hora de cuidar de quem sempre me cuidou, minha avó, D. Ena.

Agora é tempo de não combinar nem planejar. Me deixar levar seguindo um roteiro mínimo. Olhar o que me pertence e cair nos braços e abraços dos afetos que o destino, sempre ele, me fizer encontrar. Os que cultivei pelos caminhos dessa longa jornada por Mato Grosso.

Sem avisar que estou chegando, o que conduz meus passos é o acaso. Como na primeira vez (e em todas as que consegui seguir meu desplanejamento inicial), sei que alcançarei meu o objetivo primordial: ser feliz com as boas surpresas que me aguardam.

Lá vou eu em mais uma aventura pelo centro da América do Sul que tanto amo, antes de cair nos braços da paixão que aquece meu sangue e faz pulsar meu inquieto coração no ritmo acelerado das baterias da folia carioca.

Fui ali e volto já…

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica das séries “Parador Cuyabano” e “É Carnaval” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

Texto e foto  Valéria del Cueto

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Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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