Caramelo, dirigido por Diego Freitas e estrelado por Rafael Vitti, é um desses filmes que tocam fundo a alma, deixando no ar um perfume de ternura, coragem e esperança.
Gravado no estado de São Paulo, o longa é uma delicada homenagem ao vira-lata caramelo, símbolo do afeto simples e sincero do povo brasileiro. Mas é, sobretudo, uma história sobre o poder dos encontros, aqueles encontros que mudam o rumo da vida, mesmo quando a vida parece estar se despedindo.
Pedro, o protagonista, é um jovem chef de cozinha cheio de sonhos, prestes a abrir o próprio restaurante. Tudo em sua trajetória aponta para o sucesso, até que um diagnóstico inesperado o obriga a interromper seus planos e a se confrontar com a fragilidade da existência.
O tempo, antes acelerado, passa a correr em outro ritmo, o do medo, da reflexão, da busca por sentido. É então que o destino lhe apresenta Caramelo, um simpático cão de rua de pelo dourado e olhar de sol. Pedro o adota sem planejar, talvez por impulso, talvez por necessidade. E naquele gesto simples nasce o fio de amor que o sustentará nos dias mais difíceis.
O cão Caramelo se torna o companheiro de todas as horas, aquele que o espera, o escuta sem palavras e o conforta com presença. Entre os dois cresce uma relação de reciprocidade e cura: o homem salva o cachorro da rua, e o cachorro salva o homem do desespero. Há algo de profundamente humano nessa troca, uma lembrança de que amar é também se permitir ser salvo.
Durante o tratamento com quimioterapia e radioterapia, Pedro encontra outro tipo de amor: o da amizade.
Em meio aos corredores frios e às horas longas de hospital, ele conhece um companheiro de jornada, alguém que, entre uma dose de remédio e outra, ensina a rir do impossível e a celebrar o instante. Esse novo amigo, marcado também pela doença, se torna um farol de leveza e coragem. Juntos, eles aprendem que a vida, mesmo frágil, ainda pode ser saborosa. Mas, como a própria vida ensina, o tempo é breve: o amigo parte antes do fim do caminho, deixando um vazio e a lição de seguir olhando para frente, saboreando o que cada dia ainda oferece, sem pressa, sem garantias, com gratidão. Essa perda silenciosa amadurece Pedro e o fortalece. Ele entende, enfim, que viver não é vencer a dor, mas caminhar ao lado dela com serenidade.
Essa jornada é conduzida com a delicadeza de uma fábula e a sinceridade de um retrato real.
A direção de Diego Freitas recusa o melodrama e aposta na emoção contida, nas pausas, nos olhares. O filme reflete a evolução do cinema brasileiro, que tem se reinventado com histórias íntimas, de beleza cotidiana, sustentadas por atuações intensas e fotografia poética. A câmera acompanha Pedro e Caramelo com respeito, como quem observa um milagre simples acontecer diante dos olhos. A paleta de cores, em tons quentes e dourados, traduz o calor dos afetos e a luz que insiste em permanecer, mesmo quando o céu ameaça desabar.
A trilha sonora é outro personagem — discreta, mas profundamente sensível. Ela não domina a cena, apenas a embala, como um coração que pulsa no mesmo compasso das emoções. As notas suaves parecem nascer do próprio silêncio, ecoando o sopro de esperança que move o protagonista.
Rafael Vitti entrega uma atuação comovente, marcada por gestos sutis e silêncios cheios de significado. Ele compõe um Pedro humano, vulnerável, real — um homem que aprende, entre a dor e a ternura, que o amor pode ser o melhor remédio. E Amendoim, o cão Caramelo, é a alma viva do filme. Sua presença é quase simbólica: um espelho da inocência, um lembrete de que o amor puro ainda existe e, às vezes, tem quatro patas e um olhar que tudo compreende.
Caramelo é, em essência, um hino à vida. Um convite a desacelerar, a acolher o que é simples, a reconhecer a beleza que ainda floresce mesmo em meio à doença, à perda e à incerteza. O filme nos recorda que a cura nem sempre está na medicina, mas na presença, na amizade, no afeto, na coragem de continuar, mesmo quando não há promessas de amanhã.
Ao final, o que permanece é a ternura. Pedro e o cão Caramelo caminham lado a lado, como quem aprendeu que cada amanhecer é um presente. E o público, emocionado, sai do cinema com o coração aquecido e certo de que o amor, seja humano ou animal, é sempre o melhor caminho para atravessar a vida.
Viva o cinema Brasileiro.
Vale a pena assistir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial. @aeternalente
Foto Capa: Reprodução/Divulgação


