O procurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira, disse nesta quarta-feira, 29, que o Ministério Público do Rio de Janeiro não participou da megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV).
Ele afirmou que tomou conhecimento somente na manhã de terça-feira, 28, quando a ação já estava em curso. Ainda de acordo com o procurador, o MP acompanha a contabilização dos corpos e irá investigar as ações.
“Temos o dever de apurar todos os fatos com rigor sem estabelecer premissas. O MP lamenta profundamente o número de mortes. Todas as mortes. Sobretudo, em especial, aos quatro policiais”, afirmou.
Ele destacou ainda que a operação não foi propagada para fazer a retomada de território – a polícia cumpriu mandados judiciais. E defendeu uma unidade entre todas as esferas de poder.
“O ideal é que União, o governo federal, o Estado, a prefeitura, deixando de lado interesses políticos de momento, elaborem uma política de segurança pública de Estado e não uma política de governo. Essa briga não interessa a ninguém.”
Muro do Bope e dinâmica da operação
Mais cedo, a cúpula da segurança pública do Rio deu detalhes da operação. Um dos diferenciais, segundo o comando da PM, foi a montagem do “Muro do Bope”, linha de contenção formado por agentes de segurança para empurrar os bandidos para o topo do morro. A ação dessa terça-feira, 28, que terminou com 119 mortos, foi a mais violenta da história do Rio de Janeiro.
“Incursão de tropas do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) na área mais alta da montanha da Serra da Misericórdia, que divide esses dois complexos (Penha e Alemão), operando o que a gente chamou de ‘Muro do Bope’, uma linha de contenção formada por policiais que empurravam os criminosos para o topo da montanha”, disse o secretário da Polícia Militar do Rio, Marcelo de Menezes, nesta quarta-feira, 29.
Especialistas apontaram “lambança operacional” da ofensiva policial, que teve alto número de mortes, causou pânico nas comunidades e levou transtornos a outros pontos da cidade. O número supera o do massacre do Carandiru.
O governador Cláudio Castro (PL), por sua vez, classificou a operação como um “sucesso” e disse que as únicas vítimas foram os quatro policiais que morreram baleados nos confrontos.
Conforme Menezes, a estratégia tinha “objetivo claro: proteger a população de bem que mora naquela região.” Ainda segundo ele, “a grande maioria dos confrontos, quase a totalidade, se deu na área de mata. E a opção pelo confronto se deu pelos marginais, pelos narcoterroristas. Aqueles que quiseram ser presos, foram presos, basta os senhores avaliarem o grande número de presos nessa operação.”
Ainda de acordo com o secretário da PM, a operação teve 60 dias de planejamento. O Estado diz que a estratégia foi necessária para avançar sobre um território dominado pelo crime organizado. O CV chegou a usar drones com bombas na reação, o que expõe o crescente poder bélico dos traficantes.
O governo do Estado reclamou de falta de apoio federal na ação, mas o Ministério da Justiça e da Segurança disse que não foi chamado para essa operação.
“Não fomos comunicados de que seria deflagrada neste momento. Houve um contato anterior, do pessoal da inteligência da Polícia Militar com a nossa unidade no Rio para ver se haveria alguma possibilidade de atuarmos em algum ponto neste contexto”, disse Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal.
“A partir da análise do planejamento operacional, a nossa equipe entendeu que não era uma operação razoável para que a gente participasse”, acrescentou.
Veja os demais números divulgados pelo governo do Rio:
presos: 113, dos quais 33 são de outros Estados
Adolescentes apreendidos: 10;
Armas: 118, sendo 90 fuzis e 26 pistolas e um revolver;
14 artefatos explosivos;
centenas de carregadores – ainda não contabilizados;
milhares de munições – ainda não contabilizadas;
toneladas de drogas – ainda não contabilizadas;
Fila de corpos no Complexo da Penha
A operação foi a mais letal da história do Estado. Moradores do Complexo da Penha, na zona norte carioca, um dos locais onde houve a operação, levaram ao menos 60 corpos para a Praça São Lucas durante a madrugada e o início da manhã desta quarta-feira, 29.
“Ninguém nunca viu no Brasil o que está acontecendo aqui”, disse Jéssica, uma moradora. Ela estava no meio da multidão que tentava identificar as vítimas. “Ninguém nunca viu no Brasil o que está acontecendo aqui”, afirma Jéssica. Os corpos estavam amarrados, tinham marcas de facadas. A reportagem presenciou ao menos um corpo decapitado.
O Rio de Janeiro voltou ao estágio 1 às 6h desta quarta-feira, 29, segundo o Centro de Operações da Prefeitura. No momento, os meios de transportes operam normalmente. Todas as vias estão liberadas para o tráfego de veículos. O estágio 1 é o primeiro em uma escala de cinco e significa que não há ocorrências de grande impacto
A região havia entrado no estágio 2 às 13h48 de terça-feira, devido a ocorrências policiais que interditaram, de forma intermitente, diversas ruas das zonas norte, oeste e sudoeste da cidade, impactando os modais de transportes e a locomoção da população pela cidade.



