O dólar recuou nesta abertura da semana, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities se beneficiaram da menor tensão nesta segunda-feira, 27, com a expectativa em torno das negociações entre Estados Unidos e China. Operadores relataram mais apetite por ativos domésticos na esteira de declarações positivas dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Donald Trump (EUA), após encontro entre ambos no domingo, na Malásia.
Com máxima de R$ 5,3859 e mínima de R$ 5,3613, o dólar à vista fechou em queda de 0,41%, a R$ 5,3703. A divisa apresenta alta de 0,89% em outubro, após ter recuado 1,83% em setembro. No ano, a moeda norte-americana cai 13,10% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho entre as divisas latino-americanas Mais uma vez, a liquidez foi reduzida, o que sugere pouco apetite para apostas mais contundentes.
“A possibilidade de um acordo entre Estados Unidos e China dominou as mesas de negociação e levou a uma alta das commodities, o que favoreceu moedas emergentes como o real”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, lembrando que na quarta-feira, 29, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve anunciar novo corte de juros, o que tende a tirar força do dólar.
Trump disse nesta segunda-feira que vê “uma boa chance” de fechar um acordo com a China ainda nesta semana. O americano se encontra com o presidente chinês, Xi Jinping, na quinta-feira, 30. O republicano revelou ainda que pretende visitar a China “no início do próximo ano”, enquanto o chinês deve retribuir a visita “em Washington, Palm Beach ou algum outro lugar” em data posterior.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY recuava pouco mais de 0,10% no fim da tarde, ao redor dos 98,830 pontos, após mínima aos 98,729 pontos. Destaque para o avanço de quase 4% do peso argentino em relação à moeda americana, na esteira da vitória do presidente Javier Milei nas eleições legislativas de meio mandato na Argentina, o que pode garantir ajuda dos EUA ao país.
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, destaca o apetite por ativos domésticos diante dos sinais do início das negociações entre o Brasil e os EUA. “Isso acaba puxando o dólar para baixo e dando força para a bolsa, com o Ibovespa atingindo nova máxima história. O Brasil acabou ficando com a maior tarifa entre os emergentes e se recupera com a possibilidade de um acordo”, diz Velloni, para quem a apreciação do real ainda é limitada pelas questões fiscais, que permanece como “o principal problema do país”.
Lula celebrou a conversa com Trump, que classificou como “surpreendentemente boa”, e disse que estabeleceu uma “regra de negociação” que envolve contato direto com o americano. Já Trump deixou em aberto a possibilidade de atender ao pedido do presidente brasileiro para rever o tarifaço. “Tivemos uma boa reunião”, disse o americano.
Pela manhã, o BC realizou operação casada, com leilão de US$ 1 bilhão em swap cambiaL reverso e venda de US$ 1 bilhão em moeda à vista. A atuação da autoridade monetária irrigou o mercado e trouxe alívio modesto no cupom cambial de curto prazo, segundo operadores. A expectativa é de que haja aumento de remessas ao exterior a partir de novembro. Nos próximos dias, pode haver aumento da volatilidade cambial com a rolagem de contratos no segmento futuro e a disputa técnica pela formação da última Ptax do mês, a sexta-feira, 31.
Bolsa
O Ibovespa, que mais cedo renovou a máxima histórica aos 147.976,99 pontos, recuou no decorrer da tarde, mas conseguiu terminar a sessão desta segunda-feira, 27, em nível recorde de fechamento, aos 146.969,10 pontos, em alta de 0,55%. Pela manhã, o índice foi impulsionado por sinais de redução na tensão comercial dos Estados Unidos com a China e o Brasil, mas à tarde a Bolsa cedeu parcialmente à pressão da realização de lucros, depois de ter subido quase 4% nas últimas duas semanas.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos, apontou que as expectativas positivas em relação ao encontro entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China), bem como o diálogo recente entre Trump e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, contribuíram para melhorar o apetite por risco entre os investidores.
A isso se soma o contexto de alívio na pressão de juros futuros que já vinha dando força à Bolsa nos pregões anteriores, motivado pela revisão para baixo das expectativas de inflação no boletim Focus, a redução no preço da gasolina pela Petrobras e a leitura abaixo da esperada tanto do IPCA-15 quanto dos preços ao consumidor dos EUA, segundo Lucas Tambellini, gestor de renda variável da Lifetime Asset. “A inflação cedendo alivia a curva de juros. Todo mundo coloca na conta que o Banco Central começará a cortar juros e isso ajuda a Bolsa.”
Daniel Nogueira, coordenador de sales e distribuição de renda variável da InvestSmart XP, destacou que, além dos encontros de Trump, a vitória eleitoral de aliados do presidente argentino Javier Milei também colaborou para a busca por ativos mais arriscados. Segundo ele, houve um forte fluxo de capital direcionado para ETFs de países emergentes no exterior.
Entre os destaques da sessão, as ações de Itaú Unibanco e Banco do Brasil foram as que mais contribuíram para o avanço do Ibovespa. Os papéis da MBRF (MBRF3) tiveram alta significativa, de 6,45%, após a empresa ampliar a parceria com a Halal Products Development Company (HPDC). Do lado negativo, Sabesp (SBSP3) foi a que mais prejudicou o movimento do Ibovespa.
Juros
Em uma sessão marcada por oscilações contidas, tanto de alta quanto de baixa, os juros futuros encerraram o pregão desta segunda-feira, 27, em ligeira elevação. Agentes avaliam que o movimento praticamente lateral ante os ajustes frente a mais uma redução consistente das expectativas inflacionárias pode refletir ajustes técnicos, após uma sequência de cinco quedas dos DIs na última semana. A leitura, no entanto, é que a conjuntura de descompressão dos preços e da atividade segue propícia a declínio das taxas futuras.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,817% no ajuste de sexta-feira a 13,835%. O DI para janeiro de 2028 marcou 13,105%, vindo de 13,087% no ajuste antecedente. O DI para janeiro de 2029 passou de 13,036% no ajuste anterior a 13,045%. O DI para janeiro de 2031 oscilou de 13,314% no ajuste a 13,310%.
Economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa afirma que o comportamento dos DIs na sessão desta segunda ainda ecoou a última sexta-feira, quando foram publicados a prévia da inflação oficial de outubro e, nos Estados Unidos, o CPI de setembro, ambos abaixo do esperado.
“O CPI chancela que o Fed vai cortar os juros esta quarta, o que tem impacto importante sobre a moeda, e o IPCA-15 tem um viés um pouco mais benigno. O mercado não capturou a totalidade desses números porque tinha um certo tom de cautela na sexta”, diz Marianna, tendo em vista as dúvidas sobre qual seria o desenrolar das tensões entre Estados Unidos e China, nesta segunda com desfecho positivo com as indicações de que os presidentes Donald Trump e Xi Jinping podem fechar um acordo ainda esta semana.
Para a economista, o sinal de avanço nas tratativas comerciais entre Washington e Pequim e, em menor medida, o encontro entre os presidentes Lula e Trump, que trouxe otimismo sobre uma resolução para o tarifaço, também explicam o fechamento da curva no início do dia, mas não necessariamente a movimentação na segunda etapa da sessão. “Ao longo do dia acredito que teve um ajuste técnico, porque a curva fechou, mas não tivemos novas notícias”.
No campo dos indicadores, as expectativas inflacionárias trazidas pelo Boletim Focus de hoje tiveram nova rodada de melhora, na medida em que os agentes incorporam o recente reajuste negativo da gasolina nas refinarias e o resultado inferior ao esperado do IPCA-15 deste mês. A projeção para a alta do IPCA neste ano diminuiu de 4,70% a 4,56% – já bastante próxima ao limite superior da meta, de 4,5% -, enquanto a projeção para 2027 caiu 0,07 ponto, a 4,20%. Para 2027 e 2028, o consenso de mercado recuou de 3,83% a 3,82% e de 3,60% a 3,54%, respectivamente.
A economista-chefe da Mirae ressalta a evolução das expectativas suavizadas para o IPCA 12 meses à frente, que são horizonte relevante para a política monetária e também cederam na edição atual do Focus, de 4,12% a 4,06%. “Esses são argumentos para o fechamento da curva no início do dia”, disse.
Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 17 de setembro, a previsão do mercado para a inflação de 2027 teve declínio de 0,08 ponto porcentual, observa a equipe econômica da BuysideBrazil em relatório. Já a mediana para o ano seguinte ficou 0,22 ponto menor. “As quedas mais acentuadas nas projeções para 2027 e, particularmente, 2028 sugerem que a política monetária está funcionando de forma eficaz”, avalia a consultoria.



