Na semana passada, os problemas escandalizaram a sociedade após o programa “Fantástico”, da Rede Globo, exibir uma reportagem baseada em estudo inédito do Tribunal de Contas da União (TCU), que examinou a qualidade no atendimento em 116 hospitais públicos brasileiros. O Pronto-Socorro de Cuiabá ganhou destaque negativo com a denúncia de um médico que trabalha na unidade. Segundo o profissional, não identificado, “são vários os plantões em que não há médicos na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI)” e o horário dos óbitos dos pacientes da UTI é alterado para que os familiares não saibam que não havia médicos de plantão.
A maioria desses problemas, já relatados pelo Circuito Mato Grosso inúmeras vezes, é, no entanto, reflexo de algumas situações que não podem ser esquecidas.
A inexistência de um hospital estadual, por exemplo, é um dos fatores que colaboram para a superlotação do Pronto-Socorro. As obras do Hospital Central de Cuiabá, localizado no Centro Político Administrativo, estão paralisadas há quase 30 anos, embora a Justiça Federal já tenha determinado ao Estado concluir a construção, que custou cerca de US$ 14 milhões (na época).
Com quatro andares, o hospital traria cerca de 130 novos leitos à capital se fosse finalizado. O deficit de leitos de retaguarda no Pronto-Socorro forçou a Prefeitura a assinar contrato, no valor de R$ 322 mil, para compartilhar leitos com a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá. Serão 30 novos leitos, 26 adultos e quatro infantis. Atualmente, por causa da falta de leitos, os pacientes ficam nos corredores do PS, em macas.
Outro ponto que sobrecarrega o Pronto-Socorro, lembra o presidente do Sindicato dos Profissionais da Enfermagem (Sinpen), Dejamir Soares, é o atraso nos repasses do governo estadual aos municípios do interior. Segundo ele, a falta de recursos para investir em saúde nos pequenos municípios força o fluxo de pacientes para Cuiabá, sobrecarregando as unidades, principalmente o Pronto-Socorro.
“Os municípios já não têm muitos recursos para a área, a maioria deles não tem hospitais regionais, e com repasses atrasados fica impossível investir na atenção básica, então isso acaba por desaguar na capital”. Recentemente, por exemplo, o deputado Ezequiel Fonseca (PP) cobrou do secretário-adjunto de Saúde do Estado, Marcos Rogério, a regularização dos repasses para os hospitais de Cáceres. As pendências ultrapassam R$ 6 milhões.
A opinião de Soares é ratificada pela presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Elza Queiroz. “É onde toda a precariedade da Saúde é refletida. O Pronto-Socorro é onde todos os problemas que não são resolvidos na rede primária e secundária de atendimento acaba chegando”.
Apesar de todos os problemas, Soares garante que a maior unidade de saúde pública do estado é referência em atendimento de urgência e emergência. “Com todos esses problemas, ainda somos excelência em urgência e emergência”.