O dólar perdeu força ao longo da segunda etapa de negócios, em meio a uma redução dos ganhos da moeda norte-americana em relação a divisas emergentes, e fechou a sessão desta terça-feira, 14, a R$ 5,47, em alta de 0,14%, longe dos níveis vistos pela manhã, quando registrou máxima de R$ 5,5196. A divisa chegou a operar pontualmente em terreno negativo, com mínima a R$ 5,4582.
A melhora do ambiente externo veio após sinais de autoridades dos EUA à China, que moderaram temores de recrudescimento ainda maior das tensões comerciais, e declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, apontando piora do mercado de trabalho americano.
No início da tarde, o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, afirmou que Trump é um “grande negociador” e que fará um acordo com a China. Ele informou que há “um horário marcado” para o encontro de Trump com o presidente chinês, Xi Jinping. No fim da tarde, Trump voltou a subir o tom em relação à China, moderando o apetite ao risco.
Investidores também assimilaram falas de Powell que sugerem espaço para continuidade de corte de juros, apesar das incertezas provocadas pela guerra tarifária e da interrupção da divulgação de indicadores relevantes da economia americana, em razão da paralisação parcial (shutdown) do governo dos EUA.
Embora tenha alertado que a inflação segue acima da meta e parece “continuar aumentando gradualmente”, Powell afirmou que o mercado de trabalho “está mostrando riscos negativos bem significativos”. Ele voltou a pregar cautela na condução da política monetária, reiterando que as decisões serão tomadas “reunião a reunião”.
“A declaração de Powell de que os riscos para o mercado de trabalho subiram em relação à última reunião do Fed praticamente deixou claro que vai haver uma redução de juros no fim de outubro. Isso fez o dólar reduzir a alta em relação a divisas emergentes, o que favoreceu o real”, afirma o head de banking da EQI Investimentos, Alexandre Viotto.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY recuava pouco mais de 0,20% no fim da tarde, ao redor dos 99,000, após mínima aos 98,988 pontos O real apresentou nesta terça o segundo melhor desempenho entre seus principais pares, grupo que abrange as divisas latino-americanas e o rand sul-africano. Operadores afirmam que houve um movimento mais forte de ajustes e realização de lucros, dado que o dólar se aproximou de R$ 5,52 pela manhã.
“Pela manhã, o dólar foi para as máximas vistas na sexta-feira, mas devolveu praticamente toda a alta à tarde, com performance melhor que à de outras divisas emergentes. Mas, também, tinha se saído muito pior nos últimos três dias”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, que vê possibilidade de o dólar voltar a furar o piso de R$ 5,40 como novos cortes de juros pelo Fed.
Por aqui, investidores acompanharam a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. O ministro se queixou da derrubada da Medida Provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e disse que vai avaliar a possibilidade da “taxação BBB” (bancos, bets e bilionários) antes do avanço na tramitação do Projeto Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026.
Para Viotto, da EQI Investimentos, o aumento da percepção de risco fiscal nos últimos dias limita o fôlego do real e pode levar a taxa de câmbio a R$ 5,70 ou R$ 5,80 até o fim do ano, mesmo em um ambiente de novos cortes de juros pelo Federal Reserve.
“O dólar pode subir nas próximas semanas com a dificuldade do governo de aprovar projetos para aumentar a receita e o aumento da popularidade do presidente Lula, o que aumenta chance de reeleição e torna menos provável um ajuste fiscal a partir de 2027”, afirma Viotto.
Bolsa
O Ibovespa se esforçou ao longo de boa parte da sessão para recuperar a linha dos 142 mil pontos no fechamento desta terça-feira, 14, mas, acompanhando piora em Nova York, encerrou pouco abaixo da estabilidade (-0,07%), aos 141.682,99 pontos. Nesta terça-feira, o índice mostrou pouca força, entre mínima de 141.334,32 e máxima de 142.588,97 pontos, com giro financeiro a R$ 19,6 bilhões. No mês, recua 3,11%, com ganhos no ano a 17,79% Na semana, no agregado de duas sessões, sobe 0,71%
Mais cedo, o dia era majoritária e moderadamente positivo para as ações de primeira linha. Ao fim, Vale ficou sem variação (ON +0,00%) e as ações do setor metálico também perderam ímpeto, sem sinal único no fechamento (Gerdau -0,06%, CSN +0,48%, Usiminas +2,88%). O mesmo ocorreu com os papéis do setor financeiro, com variações entre -1,05% (Santander Unit) e +1,42% (Bradesco PN) no fechamento entre as maiores instituições. Principal papel do segmento, Itaú PN subiu 0,43%, enquanto Banco do Brasil ON cedeu 0,86% nesta terça-feira.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, Embraer (+4,89%), Raízen (+3,53%) e Usiminas (+2,88%). No lado oposto, Cogna (-3,97%), MBRF (-3,71%) e Engie (-3,49%).
“Apesar do dia negativo para os preços das commodities, o Ibovespa resistiu bem na sessão, considerando o peso de Vale e Petrobras (ON -0,06%, PN -0,69%) no índice. Mercado tem mostrado estabilidade e mesmo alguma recuperação, hoje com o dado de atividade de serviços, divulgado de manhã pelo IBGE, alinhado às expectativas, assim como a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em comissão do Senado, sem atribulações”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Apesar da perda de força do Ibovespa no fim do dia, ele destaca também o fechamento observado na curva do DI, que favorece ativos de risco como as ações, bem como a relativa estabilidade observada no câmbio, no fechamento.
No encerramento, o dólar à vista mostrava leve alta de 0,14%, a R$ 5,4700, tendo chegado na máxima da sessão quase a R$ 5,52, cotado a R$ 5,5196. “Os investidores seguem em compasso de espera pela divulgação dos indicadores de inflação dos Estados Unidos mesmo com atraso, como o CPI”, que deve sair ao longo do mês a despeito do prosseguimento do shutdown do governo americano, observa Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos.
Apesar da queda forte do minério de ferro na China, de 2% em Dalian, Vale e CSN Mineração (+0,53%) ensaiaram altas à tarde, com Usiminas se posicionando entre os destaques positivos no encerramento. Segundo o analista Pedro Galdi, da AGF, o movimento de alta parcial das metálicas reflete alguma melhora do sentimento do mercado quanto às negociações entre EUA e China, após o susto da noite de sexta-feira, quando o presidente Donald Trump anunciou sobretaxa adicional de 100% sobre as exportações do país asiático, o que na prática as inviabilizaria para os EUA.
“Tudo ficará bem na relação com a China”, afirmou nesta tarde a jornalistas o presidente americano. “Até mesmo a queda do preço do minério de ferro foi minimizada por este movimento”, acrescenta Galdi, da AGF.
Por outro lado, Trump disse também acreditar que a China, ao não comprar “intencionalmente nossa soja e causar dificuldades para nossos produtores”, comete um “ato de hostilidade” econômica. Diante disso, o republicano disse considerar encerrar relações comerciais com o país asiático em relação a óleo de cozinha e “outros elementos de comércio” como forma de retaliação.
Para além do cenário macro, a cautela observada no Ibovespa na sessão também decorre da iminência de novas temporadas de balanços corporativos, referentes ao terceiro trimestre, a partir desta semana nos Estados Unidos, e da próxima, no Brasil, aponta Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital.
“Os principais bancos americanos abriram hoje a temporada, com JP Morgan, Goldman Sachs e Wells Fargo, todos com bons resultados, acima da expectativa, o que tende a trazer um otimismo maior para as bolsas, tanto lá fora quanto aqui no Brasil”, diz Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital. Ainda assim, os principais índices de ações em Nova York, que vêm de máximas históricas, tiveram desempenho misto na sessão, com variações de +0,44% (Dow Jones), -0,16% (S&P 500) e -0,76% (Nasdaq) no fechamento.
Juros
Por Arícia Martins e Isabella Pugliese Vellani
Os juros futuros negociados na B3 sustentaram baixa comedida no pregão desta terça-feira, 14, após terem operado em leve ascensão até o início da tarde. O sinal foi invertido por volta das 13h20, na esteira de declarações do representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, que renovaram expectativas sobre um acordo do país com a China. Em seguida, fala do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, que destacou fraqueza do mercado de trabalho foi interpretada como indicativo de mais cortes de juros à frente, fornecendo alívio adicional ao real e também à curva a termo local.
Mais perto do final do pregão, no entanto, o presidente Donald Trump fez novas ameaças ao país asiático. Em publicação na Truth Social, Trump afirmou que a China, ao não comprar “intencionalmente” a soja americana e causar dificuldades aos produtores locais, comete um ato de “hostilidade econômica” contra os EUA, o que colocou o dólar em alta novamente e limitou a queda dos DIs.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 14,005% no ajuste anterior a 14,993%. O DI para janeiro de 2028 cedeu de 13,412% no ajuste a 13,385%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,360%, vindo de 13,391% no ajuste da véspera. O DI para janeiro de 2031 caiu de 13,665% no ajuste a 13,645%.
Gerente da Tesouraria do Banco Daycoval, Otávio Oliveira afirma que o movimento de hoje nos DIs representa uma correção após o estresse da última sexta-feira, embalada por visão mais otimista do mercado sobre a resolução do impasse entre EUA e China. “Existe expectativa de que se encontre um meio termo entre os dois países”, diz Oliveira, para quem a perspectiva de alívio nas tensões comerciais entre as duas economias foi o principal vetor baixista sobre os juros futuros nesta terça-feira.
Também contribuiu com a dinâmica da curva local, segundo o gerente, falas de Powell que endossaram perspectivas de flexibilização adicional da política monetária nos EUA, a despeito da continuidade da paralisação do governo americano, que impede a publicação de estatísticas oficiais. “Powell não disse nada de diferente do que o mercado espera, mas corroborou esse norte para um novo corte de juros”.
Durante discurso em evento no início da tarde, o comandante do Fed reforçou que a condução da política monetária no país exige cautela, mas avaliou que os riscos negativos para o mercado de trabalho ficaram maiores. Em sua visão, o emprego nos EUA está “menos dinâmico e um pouco mais fraco”, e o ritmo de contratações e demissões permanece baixo. Embora a taxa de desocupação tenha ficado em nível reduzido até agosto, os ganhos no emprego “desaceleraram fortemente”, disse o dirigente.
Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, Powell destacou que o avanço recente dos preços de bens parece estar mais relacionado aos efeitos das tarifas do que a pressões inflacionárias generalizadas, sinalizando que não há preocupação imediata com um novo surto de inflação. “Sem catalisadores relevantes no cenário doméstico, o mercado brasileiro acompanhou o tom mais brando de Powell e o recuo do DXY no exterior, movimento que resultou no fechamento da curva de juros local”, aponta Shahini.
No âmbito doméstico, divulgada hoje pelo IBGE, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) mostrou que o volume prestado pelo setor subiu 0,1% entre julho e agosto, feitos os ajustes sazonais. O dado ficou praticamente em linha com a mediana apontada pelo Projeções Broadcast, que previa estabilidade no período e, para economistas, trouxe sinais mistos, com atividade ainda resistente no segmento, mas indícios iniciais de desaceleração. Sem grandes surpresas em relação ao previsto, o número pouco afetou a dinâmica da curva a termo na sessão.