O tom apaziguador do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação à China, no domingo, 12, reduziu os temores de uma escalada na guerra comercial e estimulou o apetite ao risco no exterior, abrindo espaço para a recuperação de divisas emergentes neste início de semana. Com mínima de R$ 5,4428, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 13, em queda de 0,75%, cotado a R$ 5,4623.
Na última sexta-feira, a moeda norte-americana havia subido 2,39% no mercado local e ultrapassado o nível de R$ 5,50, fechando no maior valor desde 5 de agosto. Foi uma reação à onda de aversão ao risco no exterior depois de Trump ameaçar impor tarifas de 100% a produtos chineses a partir de 1.º de novembro, em resposta às restrições impostas pela China às exportações de terras raras.
No domingo, Trump disse que os Estados Unidos “querem ajudar a China, e não prejudicá-la”, alegando que o presidente chinês, Xi Jinping, “teve apenas um momento ruim” em relação ao comércio de terras raras. “Não se preocupe com a China; tudo ficará bem”, escreveu Trump na Truth Social.
“As moedas emergentes foram as que mais perderam na sexta-feira e hoje estão se ajustando com o recado do Trump ontem, mas o ambiente é de liquidez bem fraca com o feriado em Nova York”, afirma o superintendente da Tesouraria do BS2, Ricardo Chiumento, em referência ao Dia de Colombo, que mantém o mercado de Treasuries fechado. “Apesar das declarações de Trump, o confronto entre EUA e China não vai acabar e podemos ver mais volatilidade.”
O real, que amargou na sexta-feira o pior desempenho entre as divisas emergentes, nesta segunda-feira apresentou ganhos superiores aos de pares latino-americanos e um pouco abaixo da valorização do rand sul-africano. Pela manhã, o Banco Central vendeu US$ 5 bilhões em leilão de linha para rolagem do vencimento de 4 de novembro.
Além do ambiente externo desfavorável, pesaram também contra o real na sexta-feira o aumento da percepção de risco fiscal. Após a derrubada da Medida Provisória (MP) alternativa à elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), houve desconforto com a notícia do Estadão de que o governo prepara um “pacote de bondades” de R$ 100 bilhões para o ano que vem.
“O quadro fiscal estava em segundo plano, mas contribuiu na sexta-feira para alta mais forte do dólar. O governo foi derrotado na questão da MP, não consegue mais vitórias no Congresso para aumentar a arrecadação, mas quer anunciar mais benefícios”, afirma Chiumento, que prevê o dólar rodando numa faixa entre R$ 5,40 e R$ 5,50 nas próximas semanas. “O fundamento local é ruim. O que segura o real é o carry, que continua bem alto”.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o Dollar Index (DXY) operou em leve alta ao longo do dia, voltando a superar os 99,000 pontos, com máxima aos 99,346 pontos. Na sexta, havia recuado, com a aversão ao risco levando à busca por moedas como o franco suíço e o iene japonês.
Sem indicadores econômicos nos EUA para guiar os negócios, dada a paralisação parcial do governo norte-americano em razão de impasse orçamentário, investidores monitoraram declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). À tarde, a presidente do Fed da Filadélfia, Anna Paulson, disse que considera apropriado um afrouxamento monetário de mais 50 pontos-base até o fim do ano, após o Banco Central (BC) dos EUA ter reduzido a taxa básica americana em 25 pontos-base no mês passado.
O diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, trabalha com o quadro de dólar fraco globalmente, por conta da fragilidade do mercado de trabalho americano. Ele estima corte de 50 pontos-base nos juros pelo Fed até o fim do ano, “com risco recente de cortar mais”.
“Mantemos visão construtiva para o real nos próximos meses, já que o ambiente geopolítico e monetário global favorece moedas de mercados emergentes com ganhos de termos de troca, taxas de juros reais elevadas e risco soberano relativamente estável”, afirma, em relatório, Oliveira, que estima taxa de câmbio entre R$ 5,15 e R$ 5,25 até o fim de 2025.
Bolsa
Após ter fechado a sexta-feira aos 140 mil pontos antes mesmo que se conhecesse a sobretaxa adicional de 100% prometida pelo governo Trump à China para novembro, o Ibovespa ficou perto de recuperar a marca dos 142 mil pontos nesta abertura de semana, em alta de 0,78%, aos 141.783,36 pontos no fechamento, na ausência de desdobramentos negativos ao longo do sábado e do domingo sobre a relação bilateral entre as duas maiores economias do globo. Pelo contrário, os comentários do secretário do Tesouro, Scott Bessent, foram interpretados como apaziguadores, com canal de diálogo ainda aberto com a China.
Em entrevista à Fox Business pela manhã, Bessent disse que as linhas de conversa com autoridades chinesas foram reabertas e estão em andamento nesta semana, após a ameaça de Trump na sexta-feira.
A leitura de fundo é a de que, mais uma vez, está em ação a estratégia típica de Trump: bater forte na largada para alcançar resultados ao longo de negociações. A princípio, a China mostra firmeza ao prometer retaliações e ao sustentar, também, que não mudará de ideia quanto as vendas de terras raras para os EUA, que havia restringido como parte da disputa por supremacia mundial em áreas de inovação, como tecnologia e energia.
Ainda assim, a descompressão dos mercados nesta segunda-feira foi observada, além da Bolsa, também na curva do DI e no câmbio. Na B3, o Ibovespa oscilou dos 140.681,77 até os 142.302,81 pontos, fechando o dia com giro muito enfraquecido, a R$ 14,7 bilhões. No mês, o índice de ações ainda cede 3,05%, com ganho no ano a 17,87%.
“Depois do sell-off onda de vendas da sexta-feira – quando fazia sentido uma realização de lucros, tendo em vista também a situação fiscal doméstica -, veio a recuperação baseada na descompressão global, no fim de semana, sobre a relação Estados Unidos e China”, resume Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
“Trump havia subido o tom na sexta-feira e agora já se fala em chegar a acordo, para evitar o que seria um evento recessivo para ambos os países, como notou o próprio presidente dos Estados Unidos”, diz Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, acrescentando que o nível de incerteza fiscal doméstica, desde a derrota na semana passada da MP no Congresso, permanece elevado.
Em Nova York, os ganhos nesta segunda-feira sem Treasuries – em razão do feriado de Colombo nos EUA – superaram 2% no índice tecnológico Nasdaq (+2,21%) no fechamento, com destaque também para o amplo S&P 500 (+1,56%) – ambos vêm de recordes recentes -, e em menor medida para o Dow Jones (+1,29% na sessão).
Na B3, o dia foi de ganhos, de moderados a firmes, para as ações de primeira linha – porta de entrada habitual do fluxo estrangeiro – como Vale (ON +1,49%), Petrobras (ON +0,94%, PN +0,97%) e Itaú (PN +0,40%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Usiminas (+6,35%), CSN (+6,32%) e Braskem (+3,99%). No campo oposto, MBRF (-4,16%), Pão de Açúcar (-3,03%), Magazine Luiza (-2,38%) e Raízen (-2,30%).
Para Otávio Araújo, consultor sênior na ZERO Markets Brasil, na sessão, as quedas em ações como as de Pão de Açúcar e Marfrig, além de Assai (-2,07%) e Minerva (-1,07%), todas na ponta negativa do Ibovespa na sessão, foram motivadas por “ajustes técnicos após valorização recente, além de resultados operacionais considerados abaixo do esperado, especialmente no segmento de alimentos, que enfrenta pressões sobre margens e exportações”.
Taxas de juros
Os juros futuros intermediários e longos negociados na B3 operaram em baixa contida em boa parte do pregão desta segunda-feira, mas apagaram o sinal negativo no final da sessão e encerraram o dia praticamente estáveis ante os ajustes. Sem a referência do mercado de Treasuries, fechado devido ao feriado de Colombo nos Estados Unidos, as taxas contaram com algum suporte da boa performance do real, mas a melhora na curva a termo foi tímida em comparação com o declínio de quase 0,8% do dólar na sessão, o que ainda reflete a apreensão sobre o quadro fiscal doméstico.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 passou de 13,995% no ajuste de sexta-feira a máxima intradia de 14,030%. O DI para janeiro de 2028 oscilou de 13,419% no ajuste para 13,430%. O DI para janeiro de 2029 ficou em 13,410%, vindo de 13,411% no ajuste. O DI para janeiro de 2031 cedeu ligeiramente, de 13,684% no ajuste a 13,680%.
Depois de ter ameaçado a China na última sexta-feira com tarifas adicionais de 100%, o presidente dos EUA, Donald Trump, moderou o tom no domingo, ao afirmar que Washington, na verdade, quer ajudar Pequim, e que o presidente chinês, Xi Jinping, “apenas teve um momento ruim” ao estabelecer restrições às exportações de terras raras. A postura mais conciliadora do republicano teve efeito positivo sobre os ativos domésticos, mas entre eles, o mercado de juros foi o menos beneficiado.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, o alívio do dólar influenciou o viés negativo das taxas mais longas na sessão de hoje. Mas a redução, que não chegou a 3 pontos-base nos DIs a partir de 2030, foi limitada pelas dúvidas sobre quais serão os próximos passos do governo após o fracasso da Medida Provisória (MP) 1.303. A arrecadação gerada com a MP, que apresentava alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), estava nas previsões do Executivo para cumprir a meta fiscal de 2026.
Nesta quarta-feira, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deve se reunir com ministros de sua equipe para discutir opções viáveis de receita após a rejeição da MP do IOF pela Câmara na semana passada.
“O mercado está cauteloso, à espera do que o governo vai decidir nesta quarta”, diz Velho, destacando que as opções na mesa não são muitas – mudança da meta fiscal, corte de gastos com emendas parlamentares ou ministérios que não sejam prioritários, antecipação de leilões do pré-sal e mais dividendos vindos do BNDES, entre outros. “O mercado está na berlinda aguardando essa resposta do governo na quarta”, aponta o economista. Até lá, em sua visão, os movimentos na curva a termo serão restritos.
Do lado dos indicadores, o boletim Focus apontou nova queda nas estimativas de inflação para este ano, depois de o IPCA de setembro ter surpreendido favoravelmente. A mediana para a alta do indicador em 2025 diminuiu de 4,80% para 4,72%, terceira redução seguida, mas permaneceu inalterada para 2026 e 2027, em 4,28% e 3,90%, respectivamente. Para 2028, o consenso de mercado foi levemente ajustado para baixo, de 3,70% para 3,68%.
“Vemos a melhora nas expectativas de inflação de curto prazo como necessária, mas não suficiente para antecipar o momento de flexibilização monetária por parte do Banco Central, já que as expectativas de longo prazo permanecem distantes da meta e considerando o esperado aumento do ruído fiscal daqui até o final do ano”, afirma Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays, em relatório a clientes.
No cenário do banco britânico, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai começar a reduzir a Selic em março do próximo ano. O orçamento total de cortes deve ser relativamente modesto, avalia Secemski, e a taxa básica deve sair dos atuais 15% para 12,75% até o terceiro trimestre de 2026.