Uma pena que o porém, ai porém, não era um caso tão diferente assim, apesar de ter marcado, num breve instante, (poderia ter sido preferencialmente um dia como outro qualquer), vários corações para sempre. Era dia de operação da Polícia Federal.
Coitado! Navegou por oceanos, rios e mares pantaneiros até que subindo pelas águas lindas, ter subitamente encalhado nas águas rasas de um rio, o Cuiabá.
Por uma questão diplomática, precisava comunicar sua passagem às autoridades. Pela ordem hierárquica. Preferiu se deslocar por terra para o Palácio Paiaguás, sede do governo de Mato Grosso “do Sul”. Engarrafou. Muito. Demaaaais. Puxou informações no seu aparelho de comunicação. Descobriu que não era o primeiro visitante do dia e que, graças a abordagem anterior, o mandatário que tinha o nome de um pomar de silvas, não estava disponível. A última notícia é que tinha passado escoltado por ruas da cidade. E não eram os guardiões costumeiros quem o conduziam.
Já que estava ali por perto tomou a decisão de seguir até a casa que representava outro poder, o que fazia as leis. Elas, que deveriam beneficiar o povo e proteger o território que, pasmem, abrangia três ecossistemas: o cerrado, o pantanal e o bioma amazônico. Quanta responsabilidade.
Estranhou quando procurando o gabinete do prestigiado presidente vitalício do poder em tela verificou in loco que um prosaico móvel impedia o acesso ao feudo quase secular. Lá o tsunami federal era contido entre 4 paredes por um sofá!
E o povo pelos corredores fazendo cara de paisagem. Sem saber que para seres como ele os pensamentos alheios e próximos eram um livro aberto! Em alguns casos contábeis. Em outros, expressos em arquivos de computador, comprometedores ou não, eis a questão. Como a casa era plural, esperava-se que houvesse uma variedade maior literária, mas a verdade é que, com raras e ocultas exceções, a qualidade das obras era precária. Algumas, inclusive, com sérias falhas de concordância e ortografia.
Diante dos acontecimentos ainda não explicados era melhor fazer o que a maioria das mentes sugeria e gostaria: dar no pé. Rapidinho. Upa, upa cavalinho, lá se foi o ser interplanetário conhecer a praça de guerra cuiabana (descrição cheia de moral) numa busca que permitisse cumprir seu protocolo de apresentação.
Para o centro da cidade. Praça ao lado da catedral, cujo relógio passou décadas sem funcionar. Ali esperava encontrar uma receptividade mais de acordo com o manual de boas maneiras do Universo. Pura frustração… Membros da mesma força tarefa estavam fazendo uma visita não agendada ao alcaide exigindo papéis e cobrando informações. Deviam ser sérias e relevantes, caso contrário, tal solicitação não seria feita assim, no pá e bola.
Cansado de ser ignorado, apesar de seus 3 dedos, um único olho, da antena de captação, do tom lilás e da gosma de sua pele – que costuma assustar os humanos- , ele desistiu da missão. Algo mais assustador e imprevisto havia chegado antes dele.
Na partida, passou por outro visitante, o Rei da FIFA, que havia comprado o país e dominado 12 cidades para fazer uma competição com o dinheiro do povo/gado. Pensou em alertá-lo da situação anômala e dar o endereço para onde parte dos visitados havia sido gentilmente encaminhada. Mas, pensando bem, preferiu tentar mais um pulo desesperado para a Via Láctea sem se envolver com o outro alienígena. Contando, nem ele ia acreditar nos fatos que havia testemunhado…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”,do SEM FIM…