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Galípolo: dizer não para pessoas importantes é uma das funções de um presidente do BC

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, mencionou nesta segunda-feira, 6, que faz parte do trabalho da autoridade monetária “dizer não” para algumas pessoas importantes. “O Banco Central tem acesso a algumas alavancas que colocam ele nessa posição de muitas vezes ter que dizer não para pessoas bastante importantes”, afirmou Galípolo, ao participar de evento na Fundação FHC, em São Paulo.

Ele destacou que se sentiu “bastante abraçado” pela comunidade de ex-presidentes do BC brasileiro.

“Vocês não sabem o privilégio que é poder passar a mão no telefone e poder ligar para o Armínio Fraga, ex-presidente do BC”, disse Galípolo, dirigindo-se ao próprio Armínio, também presente no evento.

Inflação e meta

O presidente do Banco Central reafirmou que o compromisso da autoridade monetária é perseguir a meta de inflação de 3%. “A meta é 3%. De maneira nenhuma foi dada ao Banco Central a liberdade de interpretar diferente esse comando legal. Não é uma sugestão, é um comando legal. A banda piso e teto da meta de inflação é feita para absorver choques”, afirmou Galípolo, destacando que a inflação hoje está em 5,1%. “É bastante acima, inclusive, da banda superior”, reforçou.

Neste contexto, o banqueiro central mencionou que, de acordo com o boletim Focus, não há convergência das expectativas de inflação para a meta até 2028.

“A partir desse movimento é o que justifica a gente ter colocado a taxa de juros no patamar em que a gente colocou, e temos reiterado que enxergamos esse processo de convergência lenta para a meta. Temos reiterado que vislumbramos uma manutenção da taxa de juros em patamar restritivo por período bastante prolongado”, repetiu Galípolo.

Ao comentar sobre o nível da inflação, ele observou que houve uma “dispersão” da inflação em diversos itens da cesta de consumo. E destacou, por exemplo, os bens industriais, que sofreram pressão por conta da desvalorização do real.

“A gente enxerga uma inflação de serviços, e aqueles componentes da inflação que respondem mais ao ciclo econômico, num patamar incompatível com a meta”, acrescentou o presidente do BC.

EUA, Trump e dólar como moeda global

No mesmo evento em São Paulo, o presidente do Banco Central disse que a política econômica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é uma tentativa de resolver o déficit nas transações correntes do país, mas sem que o dólar perca a condição de moeda global.

“Países que detêm a sua moeda como moeda internacional costumam ter déficit em transações correntes”, disse Galípolo, acrescentando que esse também foi um problema enfrentado pela Inglaterra nas primeiras décadas do século 20.

Na avaliação de Galípolo, porém, a situação atual nos EUA é um pouco mais complexa. Ele citou algumas questões históricas, como a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que fez com que produtos mais baratos produzidos em países asiáticos passassem a ser consumidos nos EUA.

“O déficit em transações correntes que os Estados Unidos têm é uma forma de subsídio ao consumo das famílias norte-americanas”, disse Galípolo, acrescentando que hoje as relações sociais e econômicas não se dão mais, necessariamente, em um mesmo espaço nacional. “Isso gera uma complexidade mais ampla”, apontou.

Nesse contexto, Galípolo destacou que a estratégia adotada por Trump parece a de “confinar” o debate à questão do comércio bilateral, sobretudo entre os países com os quais os EUA têm mais déficit comercial. Essa estratégia, acrescentou Galípolo, parece ter sido a escolhida porque, nessas negociações, os EUA teriam mais poder de barganha e, como já há déficit comercial, teriam também mais a ganhar do que a perder.

Estadão Conteudo

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