Após o registro de mortes e internações supostamente provocadas pela ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, bares e restaurantes de São Paulo se viram obrigados a tentar tranquilizar seus clientes e esclarecer a procedência de seus produtos.
Na terça-feira, 30, quatro estabelecimentos tiveram garrafas de bebidas apreendidas e foram interditados pelas vigilâncias sanitárias do Estado e da cidade de São Paulo. O envolvimento destes pontos de venda com os casos de morte e internações é investigado.
Conforme mostrado pelo Estadão, donos de estabelecimentos já vêm notando, desde sábado, 27, sinais desta desconfiança popular: queda no movimento, questionamentos sobre a qualidade da bebida e, sobretudo, cancelamento de reservas.
Os bares Posto 6, Ômadá, Patriarca Bar e Salve Jorge, representados pelo Grupo Azim, disseram em nota que todas as bebidas são adquiridas de distribuidores homologados pela multinacional francesa Pernod Ricard (empresa do setor de bebidas alcoólicas) e que os produtos possuem nota fiscal, selo de autenticidade e lacre de segurança.
“Seguimos rigorosamente os padrões legais e as práticas recomendadas por órgãos competentes para a comercialização e o controle de bebidas”, informou a empresa.
O A.N Rock Bar, localizado na Avenida Nove de Julho, explica que as bebidas vendidas aos clientes no local são adquiridas “diretamente de distribuidores oficiais e idôneos”. No comunicado publicado nas redes sociais, o estabelecimento lembra que os supostos destilados adulterados levaram a internações e óbitos.
De acordo com o governo de São Paulo, foram confirmados sete casos de intoxicação por metanol com suspeita de contaminação pelo consumo de bebida adulterada e a situação de outros 15 pacientes ainda é investigada. Ao menos cinco pessoas morreram, e em um destes casos já foi confirmada a intoxicação pela substância – os outros quatro ainda estão em análise.
A Laje, um espaço de confraternização e exposição artística que fica em Perdizes (zona oeste), aproveitou a situação não apenas para reforçar que as bebidas vendidas por lá possuem procedência confiável, como também para expor uma situação vivida pelo estabelecimento ao comprar, sem perceber, bebidas supostamente adulteradas em um mercado.
“Descartamos (nos recusamos a devolver ao lojista) e fizemos denúncia no site da Polícia Federal. Nossa preocupação inicial era apenas não vender gato por lebre e arriscar algum tipo de mal-estar aos nossos clientes, devido à óbvia falta de cuidado e à falta de qualidade da produção pirata”, disse o espaço.
Na publicação, a Laje exibiu prints de conversas com os vendedores apresentando indícios de adulteração nos produtos.
Outros bares a se manifestar foram o Gaz Burning Bar, no bairro Água Branca, que informou que todos os produtos são adquiridos do próprio fabricante ou por meio de fornecedores indicados pelos fabricantes; e também o Bar dos Botões, em Perdizes, que afirmou arquivar todas as notas de compra de bebidas destiladas, cervejas e bebidas sem álcool, além dos alimentos.
“Compartilho que temos a preocupação de sempre selecionar bons produtos e fornecedores idôneos para o Bar dos Botões”, disse o estabelecimento, em nota.
Bebidas rastreáveis
Como o Estadão mostrou, o que os chamados bares de alta coquetelaria, por meio de seus proprietários, dizem para tranquilizar seus clientes é que todo o processo de compra de bebidas passa por uma cadeia fechada e rastreável.
De acordo com os principais representantes da cena de coquetelaria de São Paulo, os bares compram das próprias marcas (importadores) ou de distribuidores homologados – o que significa dizer que todos os lotes são rastreáveis
“A gente compra direto da marca ou dos homologados. Eventualmente, pagamos até mais por isso, mas cortamos toda a possibilidade de falsificação. Tudo é comprado com nota e pode ser rastreado”, diz o sócio do Caledonia Whisky & Co., Maurício Porto.
“Bares de alta coquetelaria e grandes grupos fazem isso – até porque trabalham com acordos entre marcas. O que gera a falsificação é comprar de fornecedor desconhecido. Se a promoção é muito grande, tem boi na linha”, completa.