Assim como no dia anterior, o Ibovespa conseguiu renovar máxima histórica intradia – nesta terça-feira aos 147.578,39 pontos, apenas 20 pontos além da marca da segunda-feira -, mas desta vez precisou lutar para conservar o nível de 146 mil pontos no fechamento. No mês, o Ibovespa, em avanço de 3,40% no intervalo, conseguiu confirmar seu melhor desempenho para setembro desde 2019 (então em alta de 3,57%). E o ganho vem na sequência de um salto de 6,28% no mês precedente, que havia sido o maior para o Ibovespa desde agosto do ano passado. Em 2025, o índice da B3 sobe 21,58%.
Nesta terça-feira, saiu de abertura aos 146.337,37 pontos e, no pior momento, tocou mínima na sessão a 145.774,24 pontos. O giro financeiro subiu para R$ 23,0 bilhões nesta terça-feira. No fechamento, mostrava nesta terça leve baixa de 0,07% na sessão, aos 146.237,02 pontos.
No terceiro trimestre, que também chega ao fim nesta sessão, o Ibovespa mostrou ganho de 5,31%, após avanços de 6,18% no trimestre anterior e de 8,29% no agregado entre janeiro e março de 2025. No trimestre julho-setembro de 2024, o Ibovespa teve alta nominal de 6%, mas vinha então de perda de 3,27% no trimestre anterior e de 4,53% entre janeiro e março.
Em dólar, o Ibovespa havia encerrado o mês de junho – correspondente ao fim do segundo trimestre de 2025 – a 25.552,45 e, no fechamento de julho, recuou para 23.759,29, com a apreciação de 3% para o dólar frente ao real no mês e o recuo nominal de 4% para o índice da B3, convergindo então também para níveis de abril (23.793,63) – dessa forma, em patamar um pouco abaixo do encerramento de maio (23.957,79).
Na máxima histórica de então, a 141.422 pontos no fechamento de agosto, o Ibovespa foi no dia 29 daquele mês a 26.083,04, considerando a queda de 3,19% da divisa americana no mês. Agora, no fechamento de setembro, chega a 27.472,66 pontos, com dólar em baixa de 1,83% no mês. Em termos nominais, entre a então máxima de fechamento, a 141.422 pontos em 29 de agosto, e a mais recente, de 146.491 pontos, em 24 de setembro, o Ibovespa avançou pouco mais de 5 mil pontos em pouco menos de um mês, tendo renovado picos de encerramento em oito ocasiões desde então – nos dias 5, 11, 15, 16, 17, 19, 23 e 24 de setembro.
Na B3, as ações da Petrobras (ON -1,57%, PN -1,10%) pesaram sobre o Ibovespa nesta terça-feira, em meio ao prosseguimento da correção do petróleo – que na segunda caiu mais de 3% em Londres e Nova York, e nesta terça recuou mais de 1% em ambas as praças, com foco do mercado nos rumores sobre aumento, em breve, da oferta da Opep+. As cotações da commodity não tiveram reação ao desmentido da Opep sobre a produção.
Em comunicado no começo da tarde, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo desmentiu rumores quanto a um plano de aumento na produção em 500 mil barris por dia (bpd) pelo cartel. De acordo com a Opep, os relatos da mídia sobre aumento de produção são “imprecisos e enganosos”. O cartel volta a se reunir na quarta-feira para debater o futuro da produção de petróleo de membros e aliados.
Segundo o comunicado da organização, as discussões sobre o assunto ainda não começaram. “O Secretariado da Opep recomenda veementemente que os meios de comunicação sejam precisos e responsáveis em suas reportagens, a fim de evitar alimentar especulações desnecessárias no mercado de petróleo”, acrescentou.
Entre as blue chips, a principal ação da carteira Ibovespa, Vale ON, operou perto da estabilidade ao longo da sessão, mas encerrou em alta de 0,52%, em terça-feira de desempenho misto para as principais instituições financeiras, mas majoritariamente positivo ao fim, com variações entre -0,14% (BB ON) e +1,20% (Bradesco ON) no encerramento.
Na ponta ganhadora do índice, destaque para as construtoras MRV (+3,19%) e Cury (+2,58%), ao lado de Minerva (+3,21%). No lado oposto, destaque para outros nomes associados ao ciclo doméstico e com sensibilidade a juros, como Magazine Luiza (-9,60%) e Lojas Renner (-4,00%), além de Pão de Açúcar (-8,72%).
“Mais um dia de noticiário macro fraco, com um pouco mais de atenção, no momento, para a possibilidade de shutdown de serviços públicos nos Estados Unidos, em meio às recorrentes discussões sobre a elevação do teto da dívida americana”, aponta Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos.
Na ausência de noticiário macro consistente, os investidores em ações se orientaram pela agenda corporativa, como o rebaixamento da recomendação do Citi para Grupo Pão de Açúcar, que colocou o papel na ponta perdedora do dia. O banco alterou a recomendação, de neutra para venda, e cortou o preço-alvo para R$ 2,80 – um potencial de desvalorização de 35,8% em relação ao fechamento da segunda. Nesta terça, o papel encerrou a R$ 3,98.
Em Nova York, apesar das incertezas em torno de possível shutdown nos EUA, os principais índices de ações fecharam o dia com leves ganhos, entre 0,18% (Dow Jones) e 0,41% (S&P 500) nesta terça-feira. “Há uma certa cautela global, no momento, o que reforça a demanda por ativos mais seguros”, diz Leonardo Santana, sócio da casa de análise Top Gain. Ele chama atenção também para o relatório Jolts, sobre o giro de mão de obra nos EUA, uma das métricas sobre o mercado de trabalho acompanhadas mais de perto pelo Federal Reserve, divulgado pela manhã.
“O Jolts veio acima do esperado, sinalizando um mercado de trabalho ainda aquecido, com mais postos de emprego abertos do que se previa. Essa leitura reforça a ideia de que a economia americana segue robusta, o que pode adiar cortes de juros pelo Fed – e isso não é exatamente o que o mercado gostaria de ouvir”, acrescenta.
Dólar
O dólar rondou a estabilidade ao longo da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 30, cotado a R$ 5,3230 (+0,01%), com variação de menos de três centavos entre a mínima (R$ 5,3049) e a máxima (R$ 5,3336). Apesar de fatores técnicos típicos de fim de mês, como a tradicional disputa pela formação da taxa ptax e a rolagem de contratos no segmento futuro, o pregão foi morno. No mês, o dólar recuou 1,83%, após cair 3,19% em agosto. No ano, as perdas são de 13,87%.
No exterior, a moeda norte-americana recuou ante pares e frente à maioria das divisas de países emergentes e exportadores de commodities, em meio à cautela com a possibilidade de paralisação do governo dos Estados Unidos, caso não haja acordo no Congresso norte-americano para aumentar o teto da dívida.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressalta que nem o tradicional embate de fim de mês entre “comprados” e “vendidos” na moeda americana para a definição da taxa Ptax animou os investidores – o que fez o dólar “andar de lado” ao longo do dia.
“A sensação é a de que ninguém quis se arriscar no fim do trimestre, mantendo o dólar perto do patamar de R$ 5,30, que foi eleito pela maioria como novo nível de segurança para a taxa de câmbio”, afirma Galhardo, ressaltando que o real continua bem posicionado pela perspectiva de ampliação do diferencial de juros interno e externo nos próximos meses e de entrada de fluxo estrangeiro para a bolsa doméstica.
Declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) reforçaram nesta terça a aposta de nova redução da taxa básica americana em outubro. Vice-presidente do BC americano, Philip Jefferson disse que o mercado de trabalho mostra sinais de fraqueza e pode enfrentar dificuldades se não receber ajuda. A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, afirmou que pode ser apropriado aliviar um pouco mais a política monetária neste ano, mas ponderou que o grau de flexibilização está em aberto e dependente de indicadores.
Números do relatório Jolts surpreenderam nesta terça ao mostrar que a abertura de postos de trabalho nos EUA subiu para 7,227 milhões em agosto, acima das expectativas de analistas, que previam criação de 7,1 milhões de vagas no período. Houve revisão para cima do número de julho (de 7,181 milhões para 7 208 milhões).
Na quarta-feira, é a vez do relatório ADP, com números da criação de empregos no setor privado nos EUA em setembro. A grande expectativa é pelo relatório de emprego (payroll), na sexta-feira, 3, dado que, em seu balanço de risco, o Fed tem dado mais peso à deterioração do mercado de trabalho Há receio, contudo, de que o shutdown impeça a divulgação do número.
Para o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a perspectiva é positiva para o real no curto prazo, com o ciclo de cortes de juros nos EUA e a postura mais cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom), que não dá sinais de que pode começar a reduzir a taxa Selic no fim deste ano, apesar de um conjunto de indicadores recentes sugerirem desaceleração da atividade.
“Embora a Selic esteja parada, a taxa real de juros segue aumentando, porque há a percepção cada vez maior de que os riscos inflacionários estão diminuindo. Isso acaba atraindo capital estrangeiro para o Brasil e favorece a moeda”, afirma Galhardo.
Ele pondera, contudo, que a perda de fôlego da atividade, com manutenção da política monetária em campo muito restritivo, tende a diminuir a arrecadação do governo federal, o que acende um alerta para as contas públicas. “As dúvidas sobre o cumprimento das metas do arcabouço fiscal a partir do ano que vem com a economia crescendo menos podem afetar negativamente a moeda brasileira”, diz o economista-chefe da Análise Econômica.
O Citi prevê que a recente queda nos preços das commodities intensificará o déficit em conta corrente, limitando uma apreciação adicional do real daqui para frente. No cenário projetado, o dólar deve ser cotado a R$ 5,44 no final de 2025 e a R$ 5,53 no fim de 2026.
Em relatório, o Citi destaca que a apreciação da moeda brasileira em relação ao final de 2024 é resultado principalmente de fatores globais, como a desvalorização do Dollar Index (DXY), que caiu de 108,000 pontos para 98,000 pontos. O banco aponta que o desempenho do real mantém alguma paridade com o de moedas de mercados emergentes.
Taxas de Juros
Em um dia carregado na agenda de indicadores, mas de liquidez reduzida no mercado de renda fixa, os juros futuros percorreram a segunda etapa do pregão desta terça-feira,30, com baixa na parte intermediária e longa da curva. Já os vértices mais curtos permaneceram em recuo contido em boa parte da sessão, mas caminhavam mais próximos da estabilidade rumo ao fechamento.
Encerrados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 14,057% no ajuste de ontem para máxima intradiária de 14,075%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,374% no ajuste para 13,380%. O contrato negociado para janeiro de 2029 marcou 13,255%, de 13 27% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2031 recuou de 13 476% no ajuste precedente para 13,450%.
Sem grandes surpresas em dados de atividade e fiscais publicados a perda de inclinação da curva pode ter vindo na esteira de sinais iniciais de distensão do mercado de trabalho, tendo como pano de fundo o tom conservador da comunicação recente do Banco Central (BC). No trecho intermediário e longo, o leilão de baixo volume de NTN-B realizado hoje pelo Tesouro Nacional contribuiu para não conferir pressão às taxas, em uma sessão em que o dólar andou de lado e os Treasuries não caminharam em direção única.
No saldo do mês, a curva de juros futuros também perdeu inclinação. Considerando níveis de fechamento, o DI para janeiro de 2027 subiu 15,5 pontos base em relação ao primeiro dia de setembro, enquanto a taxa para janeiro de 2029 avançou 5,5 pontos-base e de 2031 recuou 8 pontos-base.
Divulgada mais cedo pelo IBGE, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua se manteve em 5,6% na passagem do trimestre encerrado em julho para os três meses terminados em agosto. O dado ficou em linha com a mediana de estimativas do Projeções Broadcast, e foi avaliado por economistas como evidência de que o mercado de trabalho ainda está aquecido, mas dá indícios incipientes de perda de fôlego na margem.
Para o economista Leonardo Costa, do ASA, a queda de 0,2% da população ocupada em relação ao mês imediatamente anterior – a primeira redução desse contingente em quase dois anos – sugere que o emprego pode estar perdendo força. Na visão do Bradesco, o mercado de trabalho tem perdido tração nos últimos meses, o que reforça o cenário de desaceleração da economia à frente.
“Viemos de uma semana em que o Banco Central demonstrou postura mais hawkish, principalmente na ata do Copom e no Relatório de Política Monetária. Esse tom, combinado a dados de emprego que mostram crescimento menor da população ocupada, contribuiu para o ‘flattening’ na curva de juros”, diz André Muller, economista-chefe da AZ Quest Investimentos.
De acordo com Muller, a taxa de desemprego só não subiu no mês porque houve redução na oferta de mão de obra, com queda da taxa de participação. “Não classificaria os dados como fracos, mas começam a mostrar sinais de um mercado de trabalho desacelerando”. Os números de emprego, segundo o economista, somados às falas conservadoras do BC, contribuem para que a curva “pare de abrir”, limitando o espaço para altas expressivas nos DIs.
No campo fiscal, o Tesouro Nacional publicou nesta tarde o Relatório Mensal da Dívida (RMD) referente a agosto, e também anunciou uma revisão do Plano Anual de Financiamento. O estoque da Dívida Pública Federal (DPF) cresceu 2,59% entre julho e agosto, e fechou o mês em R$ 8,144 trilhões. A única alteração no PAF foi no estoque da DPF, da faixa de R$ 8,1 trilhões a R$ 8 5 trilhões, definida anteriormente, para intervalo de R$ 8,50 trilhões a R$ 8,80 trilhões.