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Ibovespa tem moderada correção no dia após recordes e recua 0,26% na semana

A cautela de véspera de fim de semana predominou na B3 nesta sexta-feira, 12, após o índice ter renovado no dia anterior tanto a máxima histórica intradia, na casa de 144 mil pontos, quanto o recorde de fechamento, na de 143 mil, com os investidores atentos a eventuais desdobramentos, junto à Casa Branca, da condenação do ex-presidente da República Jair Bolsonaro por trama golpista que sucedeu a derrota na eleição de 2022. O chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, sinalizou, na noite da quinta-feira, que o governo americano dará uma resposta à “essa caça às bruxas”, sem especificar ações.

Assim, em dia de agenda econômica acomodada no Brasil e no exterior, o Ibovespa flutuou nesta sexta menos de mil pontos entre a mínima (142.240,70) e a máxima (143.202,09) da sessão, em que saiu de abertura aos 143.150,84 pontos. Ao fim, marcava perda de 0,61%, aos 142.271,58 pontos, com giro enfraquecido a R$ 16,4 bilhões nesta sexta-feira. Na semana, cedeu 0,26% após ter registrado ganhos nas cinco semanas anteriores – na primeira semana de setembro, entre os dias 1º e 5, havia avançado 0,86%. No ano, o índice sobe 18,28%, após ter mostrado avanço na quinta, em 2025, na casa de 19%, na máxima nominal do Ibovespa de fechamento.

Assim, analistas apontam que, com o índice vindo de recordes históricos, a relativa parcimônia no ajuste desta sexta-feira – apesar da incerteza com relação à já deteriorada relação Brasil-EUA – decorre da expectativa para uma semana que pode se mostrar como divisor de águas para o apetite global por risco.

“Nos Estados Unidos, o mercado projeta que o Federal Reserve, após manter os juros estáveis ao longo de 2025, deve cortar a taxa básica em 0,25 ponto porcentual na próxima reunião, semana que vem, reagindo aos sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho e à queda nos investimentos, agravados pela política tarifária da administração Trump”, aponta Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos. Caso o movimento venha a se concretizar na próxima semana, a expectativa é de que os rendimentos dos Treasuries recuem, o dólar se enfraqueça e os ativos de risco ganhem tração, aponta Simioni.

Mas antes da quarta-feira de decisão do Fed – e, no Brasil, também do Copom – vem a segunda-feira. E, com sábado e domingo no meio do caminho, os olhos e ouvidos estarão atentos a eventuais movimentos do governo dos Estados Unidos com relação às condenações desta semana na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Dessa forma, alguns papéis com exposição maior à economia americana, como Embraer (-3,25%), estiveram entre os mais punidos pela cautela dos investidores – bem como os cíclicos, como Yduqs (-4,93%), Vamos (-4,18%) e Hypera (-3,94%), mais correlacionados à economia doméstica e sensíveis a curva do DI.

No setor metálico, destaque para Gerdau (PN -4,12%, na mínima do dia no fechamento) e Metalúrgica Gerdau (PN -3,65%).

Na ponta oposta, ganhadora, destaque na sessão desta sexta-feira para nomes como RD Saúde (+2,85%), Marfrig (+2,63%), Minerva (+2,47%), Direcional (+2,30%) e Eneva (+1,99%). Apesar da alta do petróleo na sessão, e do avanço de cerca de 2% na semana, Petrobras acompanhou a cautela geral e fechou o dia em baixa de 0,88% na ON e de 0,67% na PN. O principal papel da carteira Ibovespa, Vale ON, fechou perto da estabilidade, também em viés negativo (-0,04%), com ganho de 1,48% na semana.

A maioria das ações de grandes bancos, por sua vez, encerrou o dia em baixa, à exceção de BB ON (+0,41%), que avançou 5,63% na semana e tem agora recuperação de 4,44% no mês. Com desempenho conjunto negativo da maioria dos nomes do setor na sessão, na semana Itaú PN acumulou perda de 2,63%, tendo cedido nesta sexta 1,50%. Bradesco ON e PN tiveram baixa nesta sexta de 1,10% e 1,17%, e cederam na semana 1,70% e 2,38%, pela ordem, enquanto Santander Unit caiu 1,10% nesta sexta-feira e recuou 1,78% na semana.

Dólar

O dólar exibiu queda firme nesta sexta-feira, 12, e encerrou os negócios no nível mais baixo desde o início de junho de 2024. Em dia marcado pelo viés de alta da moeda norte-americana no exterior, o real não apenas se descolou como apresentou o melhor desempenho entre as divisas mais relevantes.

Além de eventual fluxo externo, com a perspectiva de aumento da atratividade do carry trade diante da provável redução de juros nos Estados Unidos na semana que vem, operadores afirmam que o real se beneficiou de um movimento de retirada de prêmios de risco no câmbio.

Investidores estariam desfazendo posições defensivas na ausência de novas sanções do governo norte-americano de Donald Trump ao Brasil após a condenação do ex-presidente da República Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A perspectiva de alinhamento das forças mais à direita do espectro político em torno do nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na corrida presidencial de 2026 também teria contribuído para o recuo do dólar. Por ora, Tarcísio não fez críticas à decisão do STF nem voltou a pregar a favor da anistia a Bolsonaro, reduzindo os temores de um confronto direto com a Suprema Corte.

Após mínima de R$ 5,3452, à tarde, o dólar à vista terminou o pregão em queda de 0,71%, a R$ 5,3541 – menor valor de fechamento desde 7 de junho de 2024 (R$ 5,3247). A divisa encerra a semana com perda de 1,08%, o que leva a desvalorização em setembro a 1,25%. No ano, recua 13,37% em relação ao real, que tem o melhor desempenho entre divisas latino-americanas.

O economista sênior do Banco Inter, André Valério, ressalta que o real é uma das poucas divisas emergentes a se apreciar nesta sexta. Ele atribui o movimento a uma combinação de maior atratividade do carry trade com as expectativas para a corrida eleitoral de 2026.

“A condenação do ex-presidente Bolsonaro pelo STF torna o cenário eleitoral mais claro, fortalecendo potencial candidatura do Tarcísio, que é bem-vista pelo mercado”, afirma Valério, que vê continuidade da tendência de apreciação do real. “O Fed irá cortar a taxa de juros em 25 pontos-base na quarta-feira e sinalizar uma sequência de cortes, favorecendo a posição de carry do real.”

Já o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, chama a atenção para um possível efeito do leilão de linha do Banco Central (BC) realizado nesta sexta sobre a dinâmica do mercado de câmbio local. “Eu acho que a rolagem da linha teve efeito porque havia relatos de que o dólar pronto estava pressionado. Se fosse a questão eleitoral, a bolsa e os juros futuros deveriam estar bem também”, afirma Borsoi.

Pela manhã, o BC vendeu a oferta integral de US$ 1 bilhão em leilão de linha para rolar o vencimento de 2 de outubro. Foi aceita apenas uma proposta. A operação de recompra será liquidada em 3 de março de 2026.

Lá fora, o Índice Dólar (DXY) operou em ligeira alta e rondava os 97,642 no fim da tarde. O Dollar Index termina a semana – marcada por dados de inflação nos EUA – com leve queda. As principais divisas emergentes pares do real operam em baixa, à exceção do peso mexicano, que sobe pouco mais de 0,10%.

A perspectiva é de que o dólar continue a se enfraquecer com o início, na próxima quarta-feira, 17, de um ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Analistas alertam, porém, que a queda tende a ser menos intensa do que a observada até o momento, uma vez que o Dollar Index já recua 10% no ano.

Juros

A curva a termo percorreu o pregão desta sexta-feira, 12, em elevação modesta. Para participantes do mercado, a abertura moderada foi mais induzida pelo movimento de deterioração externo nos mercados de renda fixa do que por questões políticas domésticas, uma vez que o câmbio teve bom comportamento na sessão: o dólar encerrou o dia com recuo de 0,71% ante o real.

No fechamento, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 14,014% no ajuste de quinta-feira para 14,025%. O DI para janeiro de 2028 saiu de 13,269% no ajuste para 13,305%. O DI para janeiro de 2029 subiu a 13,210%, vindo de 13,163% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,430%, ante 13,408% no ajuste.

Houve leve alta das taxas com vencimentos curtos e intermediários no balanço da semana, enquanto a ponta longa teve pequeno alívio, considerando níveis de fechamento. A deflação mais fraca que a prevista do IPCA de agosto – de 0,11%, ante expectativa de queda de 0,16% – trouxe também uma dinâmica mais pressionada de núcleos e serviços, fazendo com que o vértice de janeiro de 2027 voltasse a se aproximar do patamar de 14%. Para os economistas do Santander, no recuo semanal das taxas mais distantes, predominaram a influência da apreciação cambial e de diminuição de diferentes métricas do chamado Risco Brasil.

No cenário político, a esperada condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e dois levantamentos que mostraram melhora na avaliação do governo atual foram monitorados, mas parecem não ter pressionado muito as taxas futuras nesta sexta, avalia André Muller, economista-chefe da AZ Quest. “O risco político com possíveis retaliações dos EUA ao julgamento não é o fator mais relevante hoje. Tanto que o câmbio performou muito bem. Já o impacto das pesquisas pode ter sido marginal e maior em outros mercados”, disse. Para Muller, a curva local seguiu o contexto de piora nos mercados de renda fixa de países desenvolvidos.

Após uma sequência de perdas, os rendimentos dos Treasuries subiram nesta sexta, em movimento de correção. Os agentes seguem esperando corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), com evidências reforçadas nesta semana de distensão do mercado de trabalho e perda de ímpeto da demanda do consumidor, mas há dúvidas sobre o grau de desaquecimento da economia.

“Há uma deterioração relevante nos dados de emprego, mas observando outros dados da economia, a desaceleração parece estar ocorrendo de maneira mais difusa. Parece que está se buscando algum equilíbrio antes das decisões que vão dar sinais mais claros, tanto aqui quanto lá fora”, diz em referência à próxima quarta-feira, quando tanto o Fed como o Banco Central brasileiro vão definir juros.

Por aqui, publicada mais cedo pelo IBGE, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) veio praticamente em linha com o previsto, ao mostrar alta de 0,3% do setor entre junho e julho, feitos os ajustes sazonais, minimizando pressão sobre as taxas futuras curtas. A mediana do Projeções Broadcast apontava aumento de 0,4%. “Os serviços prestados às famílias até vieram mais fracos do que esperávamos, mas não foi um dado desastroso. Veio em linha com o comportamento mais recente dos indicadores, apontando desaceleração do consumo das famílias”, diz o economista-chefe da AZ Quest.

Na próxima semana, além das decisões de política monetária nos EUA e no Brasil, o mercado também ficará atento ao Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) referente a julho. O dado, que funciona como um termômetro mensal do PIB, será divulgado na segunda. Na terça-feira, sai a taxa de desocupação do mesmo mês. O mercado de trabalho vem sendo constantemente destacado pelo BC como foco de resiliência da economia.

Estadão Conteudo

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