Opinião

Os créditos finais

Um dia, e sinto que será em breve, essa história vai virar filme. Daqueles de suspense, com toques psicológicos e referências hitchcockianas dirigido por alguém com o estilo, por exemplo, de Bruno Bini, cineasta mato-grossense que arrebentou o Festival de Gramado ganhando quatro Kikitos!

O roteiro da futura película cheio de meandros e detalhes nos obrigará a manter os olhos grudados na tela. A atenção ficará voltada aos diálogos e às sequências de onde, certamente, surgirão pistas que levarão ao clímax da obra com a elucidação do caso antes, se possível (o que nem sempre acontece), do take derradeiro e o começo dos créditos.

Estes, os créditos finais, não serão breves enquanto durarem. Virão longos, repletos de nomes conhecidos não apenas pelos técnicos e a chamada turma do cinema, a que costuma ficar na sala escura para saudar e aplaudir com o reconhecimento no olhar os ocupantes de cada função na execução do projeto cinematográfico.

Para quem não sabe (porque só vê aquele monte de letrinhas subindo velozes num cantinho das telas das TVs dos streamings) por ali passa por seus olhos a ficha técnica do filme. Nela, aquela correria desenfreada, aparecem informações que revelam ao público por quem, como, quando e onde foi realizada a obra que assistimos.

Se a informação é democrática no conteúdo, o mesmo não se aplica a forma. Existem nomes que aparecem em cartelas únicas. Isso é definido, inclusive, em contratos entre profissionais, empresas e os responsáveis por levar o produto audiovisual às telas. Patrocinadores produtores, diretores e os cargos mais importantes da equipe técnica merecem mais destaque. Assim como os atores principais. Para o restante do elenco pode ser usada uma lista em ordem alfabética ou de aparição.

Na sequência vem a equipe técnica engatada, talvez, num carrossel em que os nomes vão desfilando pela tela divididos por setores e funções. Da criação à finalização, passando pelo desenvolvimento do projeto, a produção, execução, pós produção, distribuição…

Quem participou do filme tem seu nome ali registrado. Do mais importante figurão ao mais humilde trabalhador e as empresas que prestaram serviços. É pouco? Não. Ainda faltam os agradecimentos a todos os que, de uma maneira ou de outra, colaboraram, apoiaram e de alguma forma, incentivaram sua realização.

No cinema, sou daquelas que fica até o fim dos créditos. Espero as luzes acenderem e a tela apagar. Sei que ali estão informações importantes e surpresas que aumentam ainda mais o prazer que a obra cinematográfica me proporciona.

Sempre foi assim. Pensa, por exemplo, no prazer de procurar o nome do meu pai em filmes como “Janete” de Chico Botelho; “Avaeté semente da vingança”, de Zelito Viana; “Memórias do Cárcere” e “Estrada da Vida”, de Nelson Pereira dos Santos… Cito apenas obras do início de sua carreira quando o coronel foi para a reserva do Exército e pode, finalmente, cair dentro do mundo das artes oficialmente. Sei que ele vai dizer que não foi bem desse jeito, mas é como me lembro de criança.

Na memória cinematográfica familiar adolescente também surge o filme de Geraldo Miranda “Um brasileiro chamado Rosaflor”, com Joana Fomm e Stepan Nercessian, em que Lucia, minha mãe, fez a cenografia, e passa por uma incrível viagem de prospecção sobre a Retirada da Laguna, com Nelson Pereira dos Santos e uma equipe cinematográfica, por Mato Grosso (ainda uno) e pelo Paraguai.

Esses créditos não vi nos filmes, porque o projeto da Guerra do Paraguai nunca foi em frente e não se tem notícias do filme de Geraldo. Se existe uma cópia nem desconfio qual é o seu paradeiro. Achei a informação da equipe técnica na Cinemateca Brasileira.

Se hoje fazer cinema é um sonho realizável de muitos, na época, década de 1970, era maluquice quixotesca de poucos. Cresci no meio dessas viagens cinematográficas. Por isso os créditos, para mim, são um filme dentro do filme. Nele me reconheço por afinidade.

E é por ela, a afinidade, que me vejo na imensa lista de nomes que finalizará o filme do julgamento que paralisa o Brasil agora em setembro. Não é preciso ser vidente, nem estatístico de instituto de pesquisa, para afirmar que sua audiência será maior do que a dos capítulos da morte de Odete Roitman da novela Vale Tudo, a original.

Nesse futuro sucesso do cinema nacional, seja como personagem, técnico cinematográfico, ou nos agradecimentos, deveria constar nas cartelas de encerramento, o nome de cada brasileiro que participa ativamente da vida em sociedade de nossa nação.

Uma sugestão pra você, leitor que me segue no rumo do sem fim: espere os créditos finais e o acompanhe atentamente para, então, aplaudir de pé o filme “Brasil 2025, o julgamento”.

Ele começou a ser produzido há alguns anos e nós fazemos parte dessa equipe. Afinal, certamente, somos peças no tabuleiro do jogo registrado nessa aventura desde que depositamos os votos e deixamos nossas escolhas registradas nas urnas espalhadas por todo o país nas eleições presidenciais de 2022…

Texto e foto  Valéria del Cueto

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM…  delcueto.wordpress.com

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