Opinião

Arborização Urbana no Brasil: o que revela o Censo 2022 do IBGE 

A urbanização acelerada é um fenômeno global. Hoje, mais da metade da população mundial vive em cidades, e essa proporção continua crescendo. Com isso, os problemas ambientais urbanos tornam-se cada vez mais evidentes, afetando diretamente a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas. 

A grande questão é: como tornar nossas cidades mais saudáveis, sustentáveis e resilientes? 

Uma das respostas está diante de nós: nas árvores

Nas cidades, as florestas urbanas cumprem um papel igualmente essencial. Áreas verdes suavizam a rigidez do ambiente construído, introduzindo curvas e fluxos naturais que tornam os espaços mais acolhedores. Elas influenciam não apenas a estética urbana, mas também o microclima, a mobilidade e a qualidade de vida. 

O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, trouxe dados inéditos sobre arborização urbana no Brasil. O retrato é de contrastes. De um lado, cidades que são referência em cobertura arbórea; de outro, milhões de brasileiros que vivem em ruas sem uma única árvore. 

Segundo o levantamento, que avaliou o entorno dos domicílios em 5.568 municípios: 

  • 58 milhões de pessoas (34% da população urbana pesquisada) vivem em ruas sem nenhuma árvore. 
  • 114,9 milhões (66%) moram em vias com algum nível de arborização: 
  • 56 milhões (32,1%) em ruas com cinco ou mais árvores. 
  • 23,5 milhões (13,5%) em ruas com três a quatro árvores. 
  • 36 milhões (20,4%) em ruas com até duas árvores. 

Para o IBGE, uma via é considerada arborizada quando possui pelo menos uma árvore com altura mínima de 1,70 metro, considerando apenas áreas públicas (árvores em quintais privados não entram na conta). 

Os números também revelam desigualdades regionais. Entre os estados com maiores índices de arborização urbana estão: 

  • Mato Grosso do Sul: 92,4% 
  • Distrito Federal: 84,2% 
  • Paraná: 82,6% 
  • Goiás: 81,9% 
  • Mato Grosso: 80,9% 

Estados com menores índices: 

  • Sergipe: 38,5% 
  • Santa Catarina: 41% 
  • Acre: 42,1% 
  • Amazonas: 44,6% 
  • Alagoas: 45,4% 

Entre as capitais, temos os seguintes destaques: 

  1. Campo Grande (MS) – 91,4% 
  1. Goiânia (GO) – 89,6% 
  1. Palmas (TO) – 88,7% 
  1. Curitiba (PR) – 88,2% 
  1. Brasília (DF) – 86,7%  

Cuiabá (MT) ocupa a 8ª posição, com 74,5%

Já na outra ponta, o cenário é bem diferente: 

25. Rio Branco (AC): apenas 39,86% da população urbana em ruas arborizadas  

26. São Luís (MA): 34,3% 

27.Salvador (BA): 34,1%  

Entre os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, o ranking das cidades mais arborizadas revela um verdadeiro mapa de boas práticas. 

  1. Birigui (SP): 98,4% 
  1. Sertãozinho (SP): 97,5% 
  1. São José do Rio Preto (SP): 97,3% 
  1. Maringá (PR): 97,2% 
  1. Dourados (MS): 97,1% 
  1. Londrina (PR): 96,8% 
  1. Umuarama (PR): 96,6% 
  1. Araçatuba (SP): 96,1% 
  1. Ourinhos (SP): 95,9% 
  1. Jaú (SP): 95,6% 
  1. Araraquara (SP): 95,1% 
  1. Marília (SP): 94,9% 
  1. Toledo (PR): 94,6% 

Duas cidade de Mato Grosso completam a lista: Sinop, com 94,0%, e Rondonópolis, com 93,8%, respectivamente a 14ª e a 15ª posição no ranking nacional. 

A pesquisa Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios ocorreu em duas etapas: 

  1. Agentes supervisores percorreram mais de 340 mil Setores Censitários urbanos para apurar elementos do contexto urbano 
  1. Recenseadores ajustaram as informações durante a coleta domiciliar  

Foram avaliados segmentos específicos das ruas (chamados “face de quadra”), o que significa que uma mesma rua poderia ter trechos considerados arborizados e outros não. 

Mas o que esses dados significam na prática? 

Eles são fundamentais para: 

  • Orientar políticas públicas. 
  • Apoiar compromissos da Agenda 2030 da ONU. 
  • Enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. 
  • Melhorar a qualidade de vida nas cidades. 

Entretanto, é importante destacar uma limitação metodológica: o IBGE considerou apenas a presença ou ausência de árvores em vias públicas, sem avaliar fatores como estado fitossanitário, toxicidade ou caráter invasor das espécies. 

É justamente nesse ponto que se evidencia a importância dos profissionais legalmente habilitados em arborização urbana, responsáveis por planejar e manejar de forma técnica, garantindo que as árvores sejam sempre soluções e não potenciais problemas. 

O Brasil dispõe de conhecimento, infraestrutura e profissionais qualificados. O que falta não é capacidade, mas decisão política para transformar planejamento em ação. 

Uma cidade bem arborizada resiste melhor a enchentes, secas, ondas de calor e tempestades. Mais que isso: torna-se um espaço humano, acolhedor e preparado para oferecer às próximas gerações não apenas infraestrutura, mas também qualidade de vida. 

Como mostram os dados do Censo, o desafio é evidente: milhões de brasileiros ainda vivem em áreas com baixos índices de arborização. Está nas mãos dos gestores e também da sociedade mudar esse retrato desigual e construir um futuro mais verde, humano e justo. 

Cícero Ramos é engenheiro florestal e vice-presidente da Associação Mato-grossense dos Engenheiros Florestais (AMEF), sendo articulista colaborador do Circuito Mato Grosso. 

Fonte de pesquisa:  

CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA (CONFEA): Manual de Boas Práticas na Arborização Urbana em Municípios Brasileiros. 2024. Disponível em

www.confea.org.br/midias/uploads-imce/Manual%20de%20Boas%20Praticas%20de%20Arboriza%C3%A7%C3%A3o.pdf 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE): Censo Demográfico 2022: características urbanísticas do entorno dos domicílios. 2025. Disponível em

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102168.pdf 

Cícero Ramos

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