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Empresas usam funcionários para criar conteúdo nas redes e atividade vira complemento de renda

Ítalo Silva, 31, trabalha no setor de marketing da master franqueada da CVC na Bahia. Além de cuidar de layouts e roteiros, ele também grava vídeos que são usados nas redes sociais da empresa.

Paula Gâmbaro, 23, estagiária de marketing em uma franquia da marca CVC em Sorocaba, edita, roteiriza e aparece em vídeos promocionais.

Ambos fazem parte de um movimento novo: o de funcionários que gravam conteúdos para as empresas em que trabalham, conseguindo complementar a renda e ganhar visibilidade.

Chamados de Employee Generated Content (conteúdo gerado por funcionários, EGC, na sigla em inglês), são materiais feitos por colaboradores da empresa (parceiros, franqueados e times comerciais), com base na vivência com a marca.

Por exemplo, bastidores do trabalho, dicas de produtos e participação em campanhas institucionais.

A partir dessa movimentação, uma pesquisa revelou que 55% das companhias estão dispostas a investir na formação de criadores de conteúdo internos, enquanto 84% consideram oferecer bonificações e benefícios para os colaboradores que mais se destacarem.

O levantamento feito pela CoCreators, agência especializada em marketing de influência, ouviu 100 organizações brasileiras.

Dri Elias, CEO da empresa, lançou recentemente a plataforma CoCreators Collab, voltada exclusivamente para conteúdos gerados por colaboradores, EGC, e por usuários, o UGC (User Generated Content), feitos por consumidores, usuários ou fãs de uma marca.

A CEO defende que o conteúdo feito por colaboradores gera mais conversão e engajamento. “Quando o colaborador fala, ele é um representante legítimo da marca. Isso passa confiança para quem consome”, afirma.

O fenômeno acompanha uma mudança nas estratégias de influência. Se antes as marcas focavam apenas em grandes nomes, agora também destinam parte do orçamento a micro e nanoinfluenciadores (com menor número de seguidores), avalia Dri.

O EGC tem uma vantagem estratégica para empresas de diferentes portes, segundo a CEO, por ser mais acessível financeiramente e exigir menos investimento do que uma campanha com influenciadores famosos.

O colaborador pode ser um funcionário CLT, um franqueado, um parceiro de negócio ou mesmo um consumidor que tem uma relação frequente e verdadeira com a marca. O importante é que essa pessoa represente bem os valores da empresa e tenha interesse em criar.

Casos como o da CVC, com franqueados atuando como creators, e da Natural One, que trabalha com nutricionistas parceiras, ilustram essa diversidade.

Funcionários criam conteúdo para complementar renda

Na CVC, a criação de conteúdo feita por funcionários vem se tornando fonte de visibilidade e renda extra.

Ítalo Silva integra há nove anos a equipe da master CVC na Bahia, base que atende as 59 lojas da rede no estado.

Atualmente, ele atua no setor de marketing. Foi durante a pandemia que a criação de vídeos entrou na rotina do profissional: com as lojas físicas fechadas, a necessidade de se comunicar com os clientes pelas redes sociais impulsionou os primeiros conteúdos.

Com o tempo, os vídeos ganharam visibilidade e passaram a ser replicados em toda a rede. Diante da repercussão, a empresa decidiu formalizar a produção por meio de um contrato específico de uso de imagem e voz.

O contrato é renovado periodicamente e prevê remuneração, paga separadamente de seu salário fixo. Ele não quis revelar o valor que recebe.

Em Sorocaba (SP), a estudante Paula Gâmbora, 23, estagia no setor de marketing há um ano em uma franqueada da CVC.

Como produzia conteúdo desde 2013 e cursou faculdade na área de Rádio e TV, a iniciativa de gravar vídeos na empresa foi voluntária.

Há alguns meses, ela participou de uma campanha interna oferecida pela companhia e conquistou o 2º lugar.

Na ocasião, foi remunerada pelo vídeo que produziu e ganhou um brinde da empresa. O valor foi pago como benefício extra, para além da remuneração salarial de estagiária.

A estudante diz que a produção extra serve para complementar a renda e aumentar a sua visibilidade nas redes, já que passou a produzir material para outras franquias.

“A criação de conteúdo está dentro do meu estágio, mas foi a partir disso que outras franquias me chamaram para trabalhar. Acabou abrindo portas e aumentando minha renda”, conta.

Criadores de conteúdo criticam uso de consumidores

Nem todo mundo vê com bons olhos o avanço do conteúdo gerado por consumidores, o UGC, como ferramenta estratégica das marcas.

O criador de conteúdo André Pannos, que acumula mais de 400 mil seguidores no TikTok, publicou um vídeo recente em que critica a forma como o UGC tem sido adotado por empresas e profissionais no Brasil.

No vídeo, Pannos diz que o termo UGC virou uma “muleta” para conteúdos publicitários. Segundo ele, o movimento está sucateando o mercado de influenciadores.

“Quem realmente se beneficia do UGC são as pessoas que vendem cursos e as plataformas que cobram pedágio sobre o conteúdo gerado, enquanto as marcas pagam cada vez menos pela mesma visibilidade”, afirma. Veja o vídeo na íntegra:

O criador também questiona a remuneração paga pelas empresas nesses acordos. Sem citar marcas ou casos específicos, ele aponta que há uma contradição entre a entrega exigida dos produtores de conteúdo e o valor que recebem.

Estadão Conteudo

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