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Ibovespa retoma os 136 mil, em alta de 1,48%, no maior nível desde 10 de julho

O Ibovespa retomou a linha de 136 mil pontos nesta quinta-feira, 7, em alta superior a 1% que o colocou em nível não visto no intradia desde 15 de julho e, em fechamento, desde 11 do mês passado. O índice obteve também o quarto ganho consecutivo, série positiva em extensão não registrada desde meados de maio. E dois ganhos seguidos na casa de 1%, como o da quarta e desta quinta, não eram observados na B3 desde 23 e 24 abril. No fechamento, marcou nesta quinta-feira maior nível desde 10 de julho.

Com a efetivação do tarifaço da forma como já era conhecida, na quarta-feira, os investidores tiraram prêmio de risco da curva de juros doméstica, contribuindo para o ensaio de uma recuperação mais sustentada no Ibovespa.

O indicador se inclinou tendencialmente abaixo desde que renovou máxima histórica há pouco mais de um mês, então aos 141 mil pontos, no fechamento de 4 de julho. Pouco depois, no dia 9, veio o tarifaço de Donald Trump sobre as importações brasileiras, relativamente aliviado na semana passada com uma ampla lista de exceções.

Assim com o dólar em baixa na sessão, na casa de R$ 5,42 no fechamento, o Ibovespa marcava 136.527,61 pontos, em alta de 1,48% no encerramento do dia, que foi seu maior ganho em porcentual desde 16 de junho, há quase dois meses.

Em uma sessão com poucos catalisadores para movimentar os preços, analistas e operadores destacam ruptura de região de resistência que pode resultar em canal de alta para o índice. O giro desta quinta-feira ficou em R$ 23,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 3,09% e, no mês, avança 2,60%. No ano, tem alta de 13,50%.

“A Bolsa deve dois dias de altas fortes, ainda que a situação, no cenário mais amplo, permaneça complexa e instável. Mas a temporada de resultados das empresas tem trazido surpresas boas, como as sentidas em nomes como Eletrobrás e Suzano (+4,88% no fechamento), o que acaba compensando a instabilidade que ainda prevalece no quadro institucional, favorecendo assim a recuperação dos preços dos ativos”, diz Felipe Moura, gestor de portfólio e sócio da Finacap Investimentos.

Nesse contexto, as duas ações de Eletrobras, ON e PNB, fecharam o dia em alta de 9,47% e 9,60%, pela ordem, na ponta do Ibovespa na sessão, à frente de Smartfit (+7,80%) e de Cogna (+5,32%). No lado oposto, Minerva (-5,14%), Hypera (-3,74%) e Raízen (-2,99%).

Entre as ações de primeira linha, o dia foi de ganhos bem distribuídos, com destaque para os grandes bancos, em variações que chegaram a +1,77% (Itaú PN) no fechamento. Vale ON subiu 0,63% e Petrobras avançou 0,71% na ON e 0,56% na PN, mesmo com o petróleo se firmando em baixa à tarde, em trajetória negativa nas últimas seis sessões para os preços da commodity.

“Embora o cenário ainda seja de volatilidade, do ponto de vista técnico a superação do nível dos 135 mil pontos coloca o Ibovespa em uma região bastante interessante, onde haveria espaço inclusive para voltar a testar os 137 mil, 140 mil pontos”, diz Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.

Para Gustavo Trotta, especialista e sócio da Valor Investimentos, “o mercado vê com bons olhos a reiteração de que o governo brasileiro não pretende retaliar os Estados Unidos”, o que envolveu nesta quinta, também, declarações como a do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em um vídeo gravado para a Febraban, onde esteve nesta quinta, de que não há qualquer estudo, no ministério, sobre quebra de patentes.

Dólar

O dólar à vista perdeu força nas últimas horas de negócios e, após renovar mínima a R$ 5,4167 na reta final do pregão, encerrou a sessão desta quinta-feira, 7, em queda de 0,74%, a R$ 5,4227 – menor valor de fechamento desde 3 de julho (R$ 5,4050).

O real teria se beneficiado do ambiente positivo para divisas emergentes, na esteira do reforço das apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em setembro, após números acima das expectativas de pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA.

Eventual fluxo positivo para ações domésticas, em dia de avanço de mais de 1,40% do Ibovespa, e sinais de que o governo brasileiro não pretende promover uma escalada das tensões comerciais com os EUA teriam contribuído para valorização da moeda brasileira.

O dólar se firmou em baixa à tarde logo após o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descarta a possibilidade de promover quebra de patentes em retaliação ao tarifaço do presidente americano, Donald Trump.

“É mais um sinal de distensão das tensões comerciais. A reação do câmbio é a mesma da fala de Lula ontem”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, em referência ao fato de o presidente ter dito, em entrevista à Reuters, que não pretende taxar produtos americanos.

Já as mínimas perto do fechamento vieram com a perda de força do índice DXY (referência do desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes), que chegou a tocar o campo negativo após Trump anunciar a indicação de Stephen Miran para diretora no Conselho Federal do Fed, em substituição a Adriana Kugler, que renunciou ao cargo.

Operadores ressaltaram que a liquidez foi bastante reduzida, o que deixou a formação da taxa de câmbio mais sujeita a transações pontuais. Principal termômetro do apetite por liquidez, o contrato de dólar futuro para setembro apresentou giro fraco, abaixo de US$ 11 bilhões.

No fim da manhã, o dólar ensaiou uma leve alta, com máxima a R$ 5,4762, em meio à informação da Bloomberg de que o diretor do Fed Christopher Waller seria o favorito para substituir Jerome Powell na presidência da instituição, em vez do diretor do Conselho Econômico da Casa Branca, Kevin Hassett.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que a apreciação recente do real se dá em linha com o ambiente externo, com certa “estabilidade global” após a definição do nível de tarifas americanas para a maioria dos países.

Após ter subido 3,07% em julho, o dólar à vista já acumula baixa de 3,14% nos cinco primeiros pregões de agosto. Já o DXY recua mais de 1,90% no mês. Entre pares do real, destaque para o peso colombiano, com ganhos superiores a 3%, e do rand sul-africano, que avança cerca de 2,60%.

“Além do ambiente externo favorável, continuamos atrativos aos investidores estrangeiros, por conta dos juros altos e da bolsa barata em dólar”, afirma Galhardo.

Juros

Em dia sem vetor claro de influência na curva a termo, as taxas futuras seguiram a tendência de queda do dólar e renovaram mínimas na segunda etapa do pregão desta quinta-feira, 7. Nos vértices intermediários e longos, a valorização do real, os leilões de títulos menores do Tesouro Nacional e dados que endossaram a fraqueza do mercado de trabalho norte-americano – e, portanto, que o Federal Reserve (Fed) pode cortar juros em setembro – ajudaram a aliviar os DIs.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2026 caiu de 14,904% no ajuste de ontem para mínima intradia de 14,895%. O DI de janeiro de 2027 recuou de 14,143% no ajuste da véspera a 14,1%. O DI de janeiro de 2028 cedeu de 13,453% ontem no ajuste para 13,375%. O DI de janeiro de 2029 marcou 13,26%, de 13,364% no ajuste antecedente.

Na ponta mais longa da curva, o DI para janeiro de 2031 diminuiu de 13,592% no ajuste para 13,46%. O DI de janeiro de 2033 ficou em 13,59%, de 13,707% no ajuste de quinta. Após a divisa americana bater mínima de R$ 5,4496, às 15h37, as taxas de 2027, 2031 e 2035 chegaram a atingir seus menores patamares intraday.

“Hoje foi um dia sem grandes destaques no mercado de DIs e com efeitos pulverizados sobre as taxas”, comentou Paulo Henrique Oliveira, estrategista de renda fixa da Daycoval Corretora. Oliveira não vê um gatilho específico para as reduções observadas em boa parte da curva, mas sim uma conjunção de fatores, sem que um deles tenha peso determinante.

A parte curta segue ancorada na expectativa de que a Selic ficará em 15% por período bastante prolongado, diz o estrategista, sem novidades em relação às últimas sessões. Durante participação no evento Porto Asset Day nesta tarde, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, reiterou que, diante do cenário externo ainda incerto devido à ofensiva tarifária dos EUA, a posição de menor risco para a autarquia é “ter juro restritivo com segurança”. Ele repetiu a palavra “cautela” por três vezes.

David afirmou que o BC está convicto de que a economia brasileira cresceu acima do potencial e precisa voltar a um ritmo mais sustentável, e que a instituição não vai reagir a ruídos. Observou, ainda, que há desconforto unânime no Comitê de Política Monetária (Copom) com as medianas do Boletim Focus para a inflação em nível acima da meta. “As últimas comunicações do BC conseguiram ancorar bem as expectativas do mercado”, nota Oliveira.

Já sobre as taxas intermediárias e longas da curva, o especialista do Daycoval destaca que o dólar acumula depreciação ante o real de mais de 10% no ano, o que é um canal de alívio à inflação e, consequentemente, aos juros. Embora cerca de 700 itens tenham ficado livres da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos ao Brasil, o efeito líquido do tarifaço deve ser desinflacionário, por aumentar a oferta de produtos no mercado doméstico, acrescenta.

Por fim, no exterior, os Treasuries operaram sem direção única, mas novos dados do mercado de trabalho americano endossaram a visão de que há perda de dinamismo no setor, o que deve levar o Fed a cortar os juros em setembro. O número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA subiu para 226 mil na semana encerrada em 2 de agosto. A previsão de analistas consultados pela FactSet era de 219 mil solicitações.

Estadão Conteudo

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