A crise financeira no agronegócio atingiu níveis alarmantes em 2025, com um salto expressivo nos pedidos de recuperação judicial no primeiro trimestre do ano. Mato Grosso lidera o ranking entre produtores rurais pessoa física, com 50 solicitações, seguido por Goiás (38) e Minas Gerais (31). Segundo dados da Serasa Experian, foram registrados 389 pedidos de recuperação judicial no setor agropecuário entre janeiro e março, um aumento de 44,6% em relação ao mesmo período de 2024 e de 21,5% sobre o trimestre anterior.
O cenário reflete, segundo especialistas, uma combinação de fatores que incluem alta da taxa básica de juros, desvalorização de commodities e retração nos investimentos. Para o advogado Euclides Ribeiro, especialista em recuperação judicial no agronegócio, a situação se tornou insustentável. “Conseguimos quebrar o nosso agronegócio. Com juros de 15% ao ano na Selic, quem consegue produzir e pagar as contas?”, questiona.
Além da alta dos juros, o recente tarifaço imposto pelos Estados Unidos tende a agravar ainda mais a situação. Ribeiro alerta que os produtores de café e laranja — que juntos representam cerca de 60% das exportações brasileiras para os EUA — podem sofrer grandes impactos. “O efeito psicológico dessa pressão já é visível. Pode ser a gota d’água para muitos”, afirmou.
O especialista aponta, no entanto, que o aumento nos pedidos de recuperação também pode ser encarado como um sinal de maior conscientização sobre os mecanismos legais disponíveis para enfrentar a crise. “A reestruturação por meio da recuperação judicial é um caminho legítimo e eficaz. A dívida do agro ultrapassa R$ 1 trilhão, e muitos estão percebendo que esse instrumento pode salvar seus negócios”, explicou.
Como solução, Ribeiro defende duas frentes de ação: disseminar a informação sobre a recuperação judicial como ferramenta de reestruturação e, a médio prazo, reduzir os juros. “Não há como sustentar o agronegócio com taxas tão elevadas. Nem aqui, nem nos Estados Unidos. Ou reduzimos os juros, ou inviabilizamos a produção”, concluiu.