O Ibovespa voltou a testar a linha dos 135 mil pontos na máxima do dia, mas não conseguiu sustentá-la no fechamento, pouco abaixo da estabilidade (-0,10%), aos 134.035,72 pontos, apesar da boa contribuição, assim como nesta segunda, 21, de Vale (ON +2,59%), e nesta terça, 22, de forma mais firme também por Petrobras (ON +1,04%, PN +0,97%). Da mínima (133.986,03) à máxima (135.300,29 pontos), o índice da B3 oscilou pouco mais de 1,3 mil pontos, com giro reduzido a R$ 18,2 bilhões na sessão. Na semana, avança 0,49%, mas ainda cede 3,47% no mês – no ano, sobe 11,43%.
O contraponto à ajuda do segmento de commodities foi o setor financeiro, com os grandes bancos no negativo, exceto Banco do Brasil (ON +0,15%), em leve alta após ter fechado ontem na mínima do dia, e Santander (Unit +0,61%, na máxima do dia no fechamento).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Vale, destaque também para outros nomes do setor metálico, como CSN (+7,13%, na máxima do dia no fechamento) e Usiminas (+5,99%) – ainda refletindo, como na sessão de segunda-feira, a expectativa positiva em torno do grande projeto de energia hidrelétrica a ser construído no oeste da China, anunciado pelo governo chinês no fim de semana. Auren (+4,09%), Braskem (+3,68%) e BRF (+3,55%) completaram a lista de maiores altas da sessão.
No campo oposto do Ibovespa, vieram hoje, pela ordem, Vivara (-3,54%), CPFL (-2,85%), Natura (-2,77%), Direcional (-2,61%) e Cyrela (-2,35%), ações de setores em sua maioria associados ao ciclo doméstico, como os de consumo e construção – que, ontem, já haviam freado o Ibovespa, em oposição ao de materiais básicos, que seguiu em alta nesta terça-feira (IMAT +1,59%), comparado, hoje, a uma perda 0,30% para o índice de consumo (ICON).
Com o foco do mercado ainda concentrado na disputa comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o diretor de análise na ZERO Markets Brasil, Marcos Praça, observa que “as respostas do Brasil têm sido por meios legais” e que um “meio termo” tende a pautar a negociação por canais “oficiais”, no momento em que vier a ocorrer. Ele aponta que muito do que se passou, até o momento, foi pautado pelo uso de rede social por Trump, o que eleva o grau de ruído. Mas o governo brasileiro em geral – como nas declarações recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad – tem optado por reduzir o grau de ebulição, ao não rebater comentários e evitar a conversa sobre retaliações aos EUA.
“Ainda há um dilema, de não se saber bem para onde as coisas caminham com relação às tarifas. O noticiário doméstico sai um pouco de cena, com o recesso do Congresso, mas ainda há preocupações por esse lado também”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus, destacando o caráter “politizado” da disputa comercial lançada pelo governo americano, o que dificulta o processo negociador. “Cautela favorece realização de lucros também em Nova York”, acrescenta Spiess. Por lá, os principais índices de ações fecharam hoje com variações entre -0,39% (Nasdaq) e +0,40% (Dow Jones) – e com o amplo, S&P 500, em novo recorde de encerramento decorrente do leve ganho de 0,06% nesta terça-feira.
“Os investidores estão em compasso de espera também em relação às decisões de juros nos Estados Unidos e no Brasil, que acontecem na semana que vem”, aponta Leonardo Santana, sócio da casa de análise Top Gain. “O mercado não está gostando desse cenário de indefinição sobre as tarifas comerciais. Trump sempre jogou tarifas para cima e negociou – e é isso que se esperava que acontecesse também aqui, o que não está ocorrendo”, até o momento, acrescenta Santana.
“Houve enfraquecimento em direção ao fechamento, mas tanto o dólar quanto a Bolsa ficaram bem perto da estabilidade no fim da sessão. Mais cedo, a Bolsa chegou a subir quase 1%, mas encerrou o pregão no zero a zero. Além das questões comerciais – aos poucos, espera-se que prevalecerá uma negociação -, o lado político também influencia o humor, com os rumores de que o ex-presidente Jair Bolsonaro poderá ainda vir a ser preso caso não preste esclarecimentos sobre participação em uma transmissão após a imposição de medida cautelar pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Dólar
A volatilidade predominou no mercado de câmbio nesta terça-feira, 22, de agenda esvaziada, com baixo volume de negócios. Nem mesmo o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas no fim da tarde mostrando que o contingenciamento passou de R$ 20,7 bilhões para zero e o bloqueio, de R$ 10,6 bilhões para R$ 10,7 bilhões fez muito preço.
A mínima do dólar ante o real, a R$ 5,55, ocorreu no início da tarde, em sintonia com a perda de força da moeda globalmente enquanto o mercado acompanhava falas do presidente Donald Trump novamente criticando o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. Mas a falta de catalisadores quanto a eventual diálogo do Brasil com os EUA para amenizar as tarifas de 50% a serem aplicadas a partir de 1º de agosto impediu uma valorização do real.
Após máxima a R$ 5,5903 pela manhã e mínima de R$ 5,5525 no início da tarde, o dólar à vista fechou perto da estabilidade (+0,04%), a R$ 5,5670, e o contrato futuro para agosto cedia 0,18%, a R$ 5,574 por volta das 17h13.
O ponto principal para a performance do câmbio continua sendo o rumo que o governo brasileiro pretende tomar para lidar com as tarifas de 50% a produtos importados informadas pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto – se em direção a negociações, ou retaliação, segundo operadores. “O mercado está na expectativa sobre as tarifas, que devem aumentar ou diminuir a quantidade de dólar no Brasil via balança comercial”, enfatiza o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia.
As últimas notícias neste âmbito, segundo o diretor, tiveram caráter mais negativo. Isso porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou ontem que “a guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta ao Trump, se ele não mudar de opinião”. Também ontem o senador americano Lindsey Graham ameaçou impor uma tarifa de 100% a países que continuarem comprando petróleo da Rússia, citando China, Índia e Brasil como principais compradores.
Contudo, Saadia diz que a expectativa é de que “Lula pare de atacar Trump pessoalmente e leve as tratativas para o âmbito mais institucional”.
Investidores também repercutiram o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, divulgado pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda por volta das 16h30. “Chama a atenção que o governo espera câmbio mais baixo – projeção de câmbio médio em 2025 passou de R$ 5,81 para R$ 5,70 – e um aumento de arrecadação, por isso o contingenciamento foi para zero. Mas não fez grande preço no mercado”, comenta o trader e especialista em dólar da Genial Investimentos, Luan Aral.
Juros
Em mais um dia sem divulgação de indicadores importantes na agenda doméstica – à exceção do Relatório Trimestral de Receitas e Despesas, que foi menos conservador que o previsto, mas não acentuou a percepção de risco fiscal -, os investidores operaram em compasso de espera sobre novos desdobramentos do embate comercial com os EUA. Tendo como suporte o alívio nos rendimentos dos Treasuries, a curva a termo registrou queda em todos os vértices na segunda etapa do pregão desta terça-feira, 22, com performance melhor que o dólar e a Bolsa.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 passou de 14,954% no ajuste de ontem para mínima intradia de 14,945%. O DI de janeiro de 2027 recuou de 14,31% no ajuste da véspera para 14,250%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,555%, de 13,645% no ajuste antecedente, e o DI de janeiro de 2029 cedeu de 13,573% no último ajuste para 13,470% – também mínima intradia.
Na ponta mais longa da curva, a taxa do contrato do primeiro mês de 2031 diminuiu de 13,79% no ajuste de segunda para 13,680%. O DI de janeiro de 2033 ficou em 13,770%, vindo de 13,879% no ajuste anterior.
Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, as taxas locais acompanharam um movimento coletivo em termos globais. “A curva está fechando em todos os países e isso se reflete no Brasil também. Com o Congresso esvaziado e espera contínua sobre alguma retaliação ou acordo com os Estados Unidos, o DI segue os Treasuries”, comentou.
Por volta das 17h23, o juro da T-note de 2 anos cedia a 3,834%, o rendimento da T-note de 10 anos caía a 4,344%, enquanto o juro do T-bond de 30 anos recuava a 4,914%. O presidente dos EUA, Donald Trump, reforçou nesta terça as críticas que vem fazendo ao comandante do Fed, Jerome Powell. Reiterou que o chefe da autoridade monetária americana deixará seu posto dentro de cerca de 8 meses, e defendeu que a taxa de juros no país deveria estar bem menor – em 1% ao ano. Hoje, a taxa básica de juros nos EUA se encontra entre 4,25% e 4,50%.
“Essas declarações acentuaram a queda da curva americana”, aponta Sanchez. “O mercado está atento a qual será a postura do próximo indicado a comandar o Fed, se ele pode ser mais ‘dove'”. Tanto no exterior quanto aqui, no entanto, o economista-chefe da Ativa avalia que o ambiente ainda inspira cautela, a despeito da descompressão em ambas as curvas.
“A volatilidade está grande. Todo mundo está monitorando na vírgula pronunciamentos de autoridades americanas, principalmente de Trump”, diz o economista, destacando que o republicano deu um prazo de 50 dias para que a Rússia atinja algum acordo sobre o conflito na Ucrânia, sob ameaça de tarifas elevadas ao país.
No ambiente doméstico, o destaque na etapa final do pregão foi a publicação, pelos ministérios da Fazenda e Planejamento, do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do terceiro trimestre, que trouxe contingenciamento zero de receitas e bloqueio de R$ 10,7 bilhões de despesas. A contenção total no Orçamento passou de R$ 31,3 bilhões na última edição do relatório para R$ 10,7 bilhões. Os dados não tiveram impacto sobre a curva.