Circuito Cinema

Soul”: uma viagem ao verdadeiro propósito da vida 

O filme Soul, da Disney Pixar, é uma daquelas obras que ultrapassam a barreira do entretenimento para se tornarem um verdadeiro convite à reflexão.  

Com sensibilidade e profundidade, a animação nos conduz a uma jornada existencial por meio do personagem Joe Gardner, um professor de música apaixonado por jazz, que acredita ter finalmente encontrado o sentido da sua vida ao ser convidado para tocar com uma famosa saxofonista. No entanto, um acidente repentino o leva a um plano espiritual, forçando-o a rever tudo o que pensava sobre propósito, realização e o que realmente significa “viver”. 

Ao longo da história, acompanhamos Joe em seu encontro com a alma 22, um espírito cético e desmotivado a encontrar um propósito na Terra. Através dessa relação improvável, o filme nos provoca a questionar: será que estamos buscando nossos propósitos nos lugares certos? Será que viver uma grande paixão ou alcançar um sonho é o que define uma vida plena? 

O filme Soul nos convida a refletir sobre o verdadeiro significado da vida, indo além dos propósitos grandiosos ou talentos excepcionais. A história de Joe Gardner, professor de música apaixonado por jazz que sonha em brilhar nos palcos, revela uma jornada emocional que rompe a ideia de que viver bem está atrelado a uma missão espetacular ou a uma realização profissional específica, e, ao conhecer 22, uma alma que ainda não encontrou motivação para vir à Terra, Joe passa a perceber que a vida tem valor mesmo nos momentos mais simples: sentir o vento no rosto, saborear uma fatia de pizza, observar as folhas caindo das árvores. 

A grande virada de Soul acontece quando percebemos que viver não se resume a encontrar um “grande propósito” ou realizar feitos extraordinários. Ao contrário, a beleza da vida se revela nos detalhes mais simples, como o sabor de uma fatia de pizza, a brisa no rosto, uma conversa significativa, o som de uma música tocada com alma.  

O filme nos lembra que viver intensamente o presente, com atenção e gratidão, pode ser o maior propósito de todos. 

Ao desconstruir a ideia de que só tem valor aquilo que é grandioso ou produtivo, Soul nos oferece uma lição valiosa: a vida não precisa ser justificada por um objetivo espetacular. Ela é, por si só, uma experiência digna de ser vivida plenamente. O personagem de Joe, ao compreender isso, descobre que fazer a vida valer a pena está muito mais ligado a sentir, estar presente e amar do que a realizar algo que impressione os outros. 

Com uma trilha sonora tocante, uma estética belíssima e um roteiro que equilibra humor e profundidade, Soul nos entrega uma obra inspiradora — especialmente em tempos onde a produtividade muitas vezes se sobrepõe ao prazer de viver. 

A grande lição que Soul nos oferece é que viver não é cumprir um único propósito, mas estar presente em cada instante, reconhecer a beleza do cotidiano e valorizar a experiência de estar vivo. 

 O filme desmonta a lógica de que só somos completos quando realizamos algo grandioso — ele mostra que o simples fato de existir já é um presente profundo. 

Em um mundo marcado por agendas lotadas, metas diárias e uma cultura que exalta a alta performance, Soul surge como um respiro necessário. Vivemos tempos em que muitas pessoas confundem propósito com produtividade, acreditando que só têm valor se estiverem sempre fazendo, produzindo, entregando. Nessa correria, deixamos de perceber a vida ao nosso redor: os encontros, os silêncios, os afetos. 

O filme nos lembra que viver bem não está necessariamente em “fazer algo grande”, mas em estar inteiro nas pequenas coisas. Na sociedade atual, isso é quase revolucionário. Resgatar a sensibilidade para perceber o que nos emociona, o que nos acalma, o que nos conecta com os outros — essa talvez seja a essência da vida que Soul tenta nos mostrar. Em vez de correr atrás de uma definição rígida de sucesso, o filme propõe: e se o propósito da vida for simplesmente vivê-la com presença e gratidão? 

 Ao final, fica o convite silencioso: e se o verdadeiro propósito da vida for simplesmente estar vivo? 

Vale a pena assistir e refletir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Foto capa: Reprodução/Divulgação

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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