Entre os 10% dos motoristas que permanecem, o relato é sempre relacionado aos passageiros que agem de má-fé para não pagar a passagem e com isso causam tumulto no transporte coletivo. E ainda há o problema com os estudantes que desrespeitam tanto os motoristas quanto outros passageiros.
Para o motorista Paulo Pereira, que há 15 anos trabalha nessa área, os estudantes são os que mais causam transtorno e sempre o motorista tem que ficar quieto se não quiser ter problemas maiores.
“Os motoristas não têm voz. Nós somos ofendidos e não podemos responder porque depois ainda corremos o risco de sermos processados. Não existe nenhuma lei que nos defenda, mesmo tendo imagens da câmera dentro do ônibus. Com isso, vejo muitos colegas pedindo licença médica e até demissão”, desabafa Pereira.
O motorista diz que para manter a calma procura ter contato com os passageiros e ignorar situações complicadas, mas esse modo de agir foi conquistado com o tempo de profissão. “Os motoristas que permanecem na profissão são os mais antigos, porém os mais novos não aguentam muito tempo e trocam de emprego”, diz Paulo.
Outro profissional que também se diz cansado e estressado da rotina do trabalho é Guilherme Santana, que já foi cobrador e hoje está atrás do volante. “Alguns dos nossos colegas são agredidos fisicamente até por meninas, e mais recentemente outro está internado no hospital por ter apanhado de policial. Como somos trabalhadores simples, ninguém se importa e com isso a situação não muda”, relata Santana.
Passageiros irritados, motoristas estressados
A falta de sensibilidade dos passageiros e a própria deficiência do sistema de transporte coletivo são apontados como os principais motivos que levam os usuários a ofender os motoristas. Por conta disto é cada vez mais baixo o número de pessoas que querem seguir a profissão e maior a quantidade de profissionais que pedem licença médica.
Segundo Ledevino Conceição, presidente do Sindicato dos Motoristas Profissionais e Trabalhadores em Empresas de Transportes Terrestre de Cuiabá e Região (STETTCR), está se tornando comum a quantidade dos que pedem licença.
“O motorista passa por uma tensão enorme durante sua jornada de trabalho, pois ele é responsável por várias vidas, tanto dos passageiros como dos outros motoristas, e qualquer erro é fatal. E atrelado a isso tem o transtorno de alguns passageiros, incluindo os estudantes, que não respeitam esse profissional”, diz Ledevino.