O caminho para chegar aos 118 quilos começou ainda na infância. Embora, até os 9 anos, o morador de Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul, nunca tenha sido gordo, ele sofria de anemia severa. A combinação de vitaminas para combater a doença, com alimentação excessiva para driblar a fraqueza e o total sedentarismo começaram a sedimentar as bases da obesidade.
Além disso, Jorge tinha hábitos alimentares pouco saudáveis. “Eu chegava da escola, minha mãe colocava o almoço, e eu não ia comer. Daí eu tomava uma garrafa de 600 ml de refrigerante e comia um pacote de salgadinhos. (…) Sempre comi muito chocolate. Bolacha recheada, acho que comia um pacote todo dia”, relata. “Não fazia nada de atividade física, ficava em casa no celular, no computador.”
A partir daí, ele começou a engordar. “Quando você é uma criança gordinha, as pessoas acham bonitinho”, diz. Ao contar sua história, Jorge faz questão de dizer que, apesar do excesso de peso, não foi vítima de preconceito. “Nunca sofri bullying, não tenho uma história triste para contar. Não foi um processo sofrido, eu levava uma vida normal.”
Tão normal que ele nem sequer se dava conta de que estava obeso. A constatação veio em 2010, quando uma de suas irmãs se casou. “Quando o álbum chegou em casa, que vi a foto, em julho, daí percebi que estava gordo. Parei de tirar foto, mas continuei engordando”, admite.
Culpa dos outros
Dois anos mais tarde, uma semana antes de descobrir quanto estava pesando, Jorge tinha uma festa e decidiu que queria comprar um modelo específico de calça. “Fui à loja e tinha até 46, que não serviu. A vendedora me sugeriu um outro modelo, tamanho 48, que também não serviu; a 50, não serviu; a 52, ficou apertada. Ela disse que poderia mandar trazer uma calça 54 e eu fiquei muito bravo, achando que era culpa da vendedora, que a numeração estava errada. A gente sempre tenta colocar a culpa nos outros”, diz.
Quando, finalmente, ele subiu na balança e viu o ponteiro chegar até os 118 kg, veio a determinação de mudar. “Fiquei o dia inteiro pensando nisso: ‘Eu tenho 118 kg, eu preciso emagrecer’. Comecei a entrar em sites, blogs, fóruns de emagrecimento, mas eu queria muito ser saudável. Nunca quis algo milagroso”, garante.Jorge decidiu cortar sua alimentação pela metade, mas não comentou com ninguém que estava decidido a emagrecer. Também passou a fazer uso da esteira ergométrica que ganhou dos pais. Ele passou a acordar mais cedo e fazer caminhada na esteira. À tarde, fazia mais um pouco de caminhada e, às vezes, à noite, antes de tomar banho, caminhava de novo.
No início, o morador de Sidrolândia cortou o que fazia mal de maneira radical, mas viu que períodos de abstinência tinham um efeito rebote. “Fiquei um mês sem tomar refrigerante, mas fiquei com uma vontade louca e acabei tomando 2 litros em um dia. Daí vicia de novo. Então, decidi reduzir a quantidade. Eu tomava quatro copos por dia, durante um tempo, passei a tomar dois copos, depois, reduzi para um, fui fazendo assim até ‘sarar’. Hoje, não tomo mais refrigerante, nem consigo colocar na boca. Salgadinho e bolacha recheada, eu nem como mais, mas fui diminuindo gradativamente. Hoje, ainda como chocolate, mas em pequena quantidade.”
A mudança de hábitos começou por volta de junho de 2012, mas o estudante de jornalismo diz que só começou a ver os resultados no fim daquele ano. “Minha mãe dizia que eu estava emagrecendo, mas só comecei a perceber no fim de 2012. Foi demorado. Tem muita gente que, se em 2 meses, não vê resultado, já quer parar. Eu gostei do processo, tentei aceitar que queria ter uma vida saudável. Passei a gostar de caminhar, de me alimentar melhor”, conta.
Mas, em 2013, o corpo de Jorge mudou radicalmente, segundo ele – que explica também que, perto dos 18 anos, “espichou” uns 7 centímetros. “Acho que meu metabolismo começou a se acostumar, emagreci uma coisa extraordinária”, diz. Tanto que alguns conhecidos da cidade começaram até a questionar a situação. “Quando eu estava já com 78 kg, as pessoas começaram a perguntar: ‘Como este menino emagreceu desse jeito?’. Muitos não acreditam que seja esforço, reeducação alimentar. Até Aids acharam que eu tinha”, relata.
Desde meados do ano passado, ele passou a frequentar também uma academia. No início, Jorge fazia só atividades aeróbicas mas, desde dezembro, incluiu a musculação na sua rotina. “Sou muito disciplinado. Agora, corro à noite seis vezes na semana, e faço musculação também seis vezes na semana.”
Hoje, Jorge pesa 73 quilos e diz que sua anemia está controlada. Ele garante ainda que, durante todo este processo, aprendeu a comer salada, diminuiu o consumo de carne e descobriu que ama frutas.
G1/BEM ESTAR